Cinismo e Paixão: as motivações de Pacheco Pereira
- LEITURA CRÍTICA AO ARTIGO DE PACHECO PEREIRA: A FAUNA DAS CAIXAS DOS COMENTÁRIOS, in Público de 20 de Abril de 2006 e publicado nesse mesmo dia no blog Abrupto
Antes de expendermos algumas críticas à posição ao artigo de Pacheco Pereira (PP) e à forma como ele meteu todos no mesmo saco, e ninguém gosta de ser misturado, nem os gatos nem, porventura, PP, presumo!! é útil resumirmos aqui algumas das passagens, relações, conexões, determinismos e factos que o autor apresenta para sustentar a sua tese, muito discutível, aliás, tratando-se do país em que estamos: Portugal
- Diz ele que "a rede está a mudar tudo, a criar coisas novas" (...). Refere o caso dos Phishing, cyberstalkers, entre outras atitudes criminosas. Não me admiraria que ele invocasse a quantidade de crimes por minuto em N.Y., depois de fazer (ou sugerir) semelhantes extrapolações para a sociedade portuguesa. À partida, cremos que PP recorre a estes factos para alarmar e, assim, preparar o terreno para afirmar o que pretende dizer depois. À semelhança de quem quer impressionar uma dama, antes oferece-lhe uma rosa, depois fala-lhe ao ouvido. E às vezes resulta... Sucede, no caso vertente, que PP deu-nos com um cravo cheio de espinhos. Qui ça já a pensar no 25 de Abril...
- De seguida vem mais uma desgraça: uma menina de 10 anos que é assassinada por um blogueiro criminoso. Pensei para comigo: provavelmente, este tipo já era um criminoso em potência antes de se meter na blogosfera.. Também aqui os efeitos sugestivos de PP são tão escorregadios quanto perigosos, precipitados e abusivas. Pacheco manipula a realidade a fim de reproduzir mais realidade. Conclusão: Pacheco é um "construtor" de realidades!!! Mais uma vez, PP recorre ao expediente do alarme social made in states - wherever - para o aplicar, ainda que subtilmente, ao caso social portugês - povoado por um bando de anónimos que não o gramam porque, no seu entender, ele não linka nem tem caixa de comentários disponível e, assim, evita receber o ciber-lixo de todos nós, ímpios e infames, "perversos e frustrados". Eis a semântica, eis a gramática, eis a estrutura e encadeamento lógico de Pacheco Pereira no séc. XXI.
- Acho que nunca ninguém em Portugal enxovalhou tantas pessoas em tão pouco tempo via internet, como PP. Escreveu um artigo no Público e consumou essa ofensa colectiva duma só vez. Hoje, a esta luz, chego mesmo a supôr que PP não usa a sua caixa de comentários nem tem links com medo que lhe aconteça o mesmo que à menina de 10 anos!!! A circularidade deste tipo de argumentos, creio, levam-nos, pois, à circularidade destas igualmente "brilhantes" conclusões. Costuma-se dizer: para respostas estúpidas, perguntas estúpidas!! Hoje percebe-se, percebemos todos - após leitura do seu artigo no Público, como a sociedade lusa está tão perigosa como N.Y., S. Paulo, Rio de Janeiro ou outras megapolis do crime mundial cuja geografia PP conhece bem, e se encontra condensada num palmo de mão via internet. Este rigor "pachequiano" deixa-me estarrecido, confesso!!! Assim, nem J. Coelho o entende naquela "circunferência do quadrado".
- Mas isto não é tudo, porque as novidades - que já toda a gente sabe - prosseguem na sua douta agenda moralizadora, qual frade Savonarola.. São os "rastos da rede", altamente mortíferos, segundo PP. Ainda acaba contratado por Paulo Teixeira Pinto para identificar os haeckers que entram nas contas do millenium para sacar dinheiro ao banco de Jardim Gonçalves... Bom, e daqui Pacheco salta para a "cereja do bolo" que pretende, verdadeiramente, atingir: O Espectro: um blog-meteoro de Constança Cunha e Sá e Vasco P. Valente que granjeou notoriedade em dois meses e depois fechou. Também isto foi um "belo" contributo que aqui me dispenso comentar por o achar tão óbvio quanto lamentável. Mas este é, de facto, o nó górdio de Pacheco Pereira. Aqui reside a sua "pedra no sapato", aqui mora o seu "calcanhar de aquiles", embora ele doure a pílula como melhor sabe e pode a fim de ocultar o alvo que visa fulminar: o Espectro e os seus dois autores - Vasco Pulido Valete e Constança Cunha e Sá. Mas é, de facto, no perfil, função e comportamento desse blog que fixou, ou melhor, obcecou PP - nesta cruzada moralizadora que acabou por atingir, de forma indiscriminada, o conjunto da blogosfera. Julgo que isto é errado!! Sendo PP um homem inteligente, culto e experimentado, goste-se ou não dele, pergunto-me por que razão fez tamanhas conjecturas, críticas quase a roçar a ofensa e a humilhação??? Porquê??
- Até parece que PP não é de cá.. Nós, pela sua leitura dos acontecimentos, é que integramos o manhoso conceito de "aldeia global" do canadiano M.Mchluan; ele, certamente!!! é de Marte, ou de Vénus.. Será que ele se considera um "deus", sempre acima de qualquer crítica? Se assim não é, porquê tanta sobranceria relativamente aos outros - dentro e fora da blogosfera?? Também aqui teremos de ser tolerantes para com ele. Teremos de dispôr de um Evangelho só para PP - a integrar a Bíblia numa próxima Pastoral. Talvez já em Maio próximo.
- Depois vitupera mais um pouco a blogosfera e diz que Portugal está povoado por gente "perversa, ácida, infeliz, ressentida" etc. Bom, eu pensava que já éramos um pouco assim, mormente a crise económica e social actual, independentemente da blogosfera!? Aliás, se o PP tivesse dois palmos de história antes de fazer aquele artigo - que julgo de iniciação ao jornalismo e de sociologia dos media - que tresanda mais a vendetta contra o Espectro e os seus dois autores (CCS e VPV), teria consultado um "livrinho" muito conhecido entre nós que dá pelo nome - "Os Lusíadas". E aí o "genial" Pacheco teria compreendido, de ciência certa, que nós, os tugas, sempre nos destacámos - lamentavelmente - por sermos invejosose e maledicentes. Mais cá - intra-muros - do que lá "fora".
- Aliás, é até com essa palavra - "inveja" - que Luís Vaz conclui a sua Obra-prima. Uma "prima" que Pacheco deveria ler ou reler, tamanha é a vastidão das sua "kóltura". Mais que não fosse para compreender, do alto da sua vã ignorância, que também a tem em quantidades abruptas, que no tempo de Camões ninguém blogava, nem o Bill Gates, presumo!!! Portanto, a sua tese, que é genéticamente manhosa e inquinada ab initio - dado que pretende atingir duas pessoas através da blogosfera, e acaba por atingir milhares delas com um artigo no Público, enferma deste vício de forma e de conteúdo. Que decorre da profunda injustiça e insdiscriminação em que "arruma" todos os blogers no mesmo saco, excluindo-se ele próprio dele por lhe estar acima e/ou ser superior. Só por esta atitude de soberba já acho que PP deveria fazer um pedido de desculpas público. Ficaria bem até se o fizesse no seu próprio blog, o Abrupto. Seria até uma forma de se reconciliar com a blogosfera e consigo mesmo. Será que tem coragem para isso? Fica a sugestão. Não foi ele que creditou méritos a Freitas do Amaral só por este se dignar a explicar públicamente a propósito da questão dos imigrantes portugueses no Canadá...
- Ou será que ele, de forma subtil, também nos quis dizer a todos, que somos uns lorpas invejosos e perversos, só pela circunstância de não termos assento no Público, na Sic notícias onde ele discute alta política com L. Xavier e J. Coelho?! Não quero crer nisto. Ou ainda por não termos assento na "gamela" do Parlamento Europeu onde se ganha 2 mil cts mÊs!? Creio que não!!! Será que aquilo que PP nos quis dizer também passará por aí???. E, por extensão, também nos lembrou a todos que cada livro que ele escreve são milhares de cópias vendidas, logo direitos de autor que só ele, enquanto Autor, tem. E nós, os tais perversos, não passamos dum bando de frustrados porque não vendemos tantos exemplares como ele. É óbvio que tudo isto está implícito naquele artigo manhoso, ronceiro, repleto de restolhos, sobranceria em cada parágrafo. Pelo menos, foi assim que o interpretei, salvo melhor opinião.
- Por último, PP conclui que a blogosfera nacional assenta em seres com expectativas frustradas, qui ça por estarmos todos em crise, desempregados, frustrados e sem projecto. E porque vegetamos nesse declínio generalizado, PP quer vingar-se da sociedade portuguesa, da sociedade dos fracos, dos jovens e séniores que a constituem, dos quadros médios, intermédios e superiores, no activo ou não. PP dirige-se, em última instância, para cerca de metade do número de desempregados (250 mil) actualmente existentes em Portugal, que têm hoje um curso superior e não conseguem encontrar emprego ou integração socio-profissional. Nem a esperança dele... Pacheco, no fundo, vitupera, farpeia injusta e rudemente o chamado "jovem-recibo verde". PP, com ou sem vontade, atinge, na prática, milhares de jovens, que são o capital cultural e simbólico nas próximas gerações. Quando Pacheco Pereira for velho muitos homens de 30/40/50 anos haverão de lembra-se do conteúdo do seu artigo e, especialmente, a forma agressiva e aviltante que escolheu para o formular e redigir. Volto à questão: sendo PP o home culto, que domina o vocabulário - porque razão escolheu ser tão azedo e agressivo?
- PP enxovalha todos e cada uma destas pessoas. Chama-lhes "perversos, ácidos, infelizes, ressentidos". Confesso que ao ler este role de humilhações que ele nos quis dirigir pensei, a dada altura, que nos apelidasse a todos de "filhos da p...", "proxenetas" (vulgo xulos), ladrões de autorádios, parasitas sociais e conexos" (estas aspas são minhas). PP, através deste seu artigo, foi verdadeiramente brutal injusto. Atingiu quem não devia atingir. Deveria ter discriminado as situações mais lamentáveis e não meter todos no mesmo saco. Há pessoas que não fazem comentários anónimos, há bloggers que - embora críticos, - não perseguem ninguém, e pautam a sua acção na blogosfera com ética, apesar dos erros que todos nós cometemos, certamente!!. Será que PP sabe disto? Se sabe, porque razão confundiu deliberadamente tudo e todos?
- Vivemos, para concluir "as certezas" e correlações PP, com uma pulsão de morte, vegetando em caixas de correio, perseguindo pessoas, quais "génios incompreendidos, justiceiros anónimos". É isto que nos diz PP. É isto, objectivamente, que se pode ler do seu artigo. De "dentro" para "fora".
- Vejamos agora o que nele se poder ler de "fora" para "dentro". Ou seja, qual foi, na verdade, a autêntica motivação de JPP ao escrever este artigo? Ou não fosse isto uma pequena aldeia global onde JPP não se revê... De certo, por andar lá por Vénus...
- Porque razão um homem com tanto peso, cotação no mercado de ideias e análise social e política, cultura canaliza a sua ira, inteligência e talento para bater nuns milhares de ceguinhos de blogers? Qual a natureza desta vontade férrea de humilhação, de raiva até?
- Por que razão o gigante se entretém a esmagar as formigas formiguinhas que vegetam em seu redor? Esta é a vexata quaestio que tentar compreendermos. É claro que há ali muitas verdades sobre os comentários e a blogosfera em geral. É claro que muita gente por não ter ideias algumas, não saber escrever ou pensar, se especializou na arte do insulto, da perseguição e o mais. Mas isso já nós sabíamos. Já era assim e continuará a ser depois de PP.
- Então, por que razão PP resolveu acicatar ainda mais esses "cromos"do "toca-e-foge" (as aspas são minhas) - que o fazem quase compulsivamente no seio da blogosfera? Será que PP se deu ao trabalho de escrever um artigo no Público só para atingir esses "barra-botas" analfabetos que, no seu entender, nem escrever sabem? Creio que não. De forma simples e directa, serei tentado a dizer que há alí uma questão entre três senhores: Pulido Valente, Pacheco e a interessante senhora e jornalista - Contança C. Sá. Dois deles adoram-se, mas dois deles, pura e simplesmente, "odeiam" o 3º elemento elemento, sendo que este retribui o afecto como e onde pode - sempre que possível. PP é esse 3º elemento.
- Portanto, em rigor quem deveria responder ou reagir a Pacheco Pereira não era a blogosfera em massa, mas os srs. Vasco P. Valente e Constança, autores do blog espectro entretanto desactivado, e que granjeou muitos votos, apoios, saudações e comentários. Uma coisa doentia, confesso. Pois até depois de desactivado continua a mexer. Como se um morto, passe a analogia, ainda desse festas, dançasse, cantasse, comesse bolos e bebesse champagne no club recreativo da terra. Por isso, dissémos aqui que essas "caixinhas de fósforos" de comentários são antros de instrumentalização "dos grandes" opinion-makers que não simpatizam uns com os outros, sem que os pequenos comentadores - porque estão alienados, pois só pretendem ser linkados e ficar deslumbrados com essa benesse dos deuses, se apercebam.
- Por mim, confesso, nunca me guindei por esse tipo de motivações ou de cálculos. Com efeito, tanto Pacheco como os outros poderiam - se quisessem - fazer muito melhor nos respectivos blogs. Talvez um dia o venham a fazer a contento de todos. Talvez..
- Mas regressemos ao essencial: qual a verdadeira e genuína motivação de Pacheco Pereira na formulação daquele pequeno ensaio de sociologia contemporânea? - com toques M. Castells - ainda por cima - sem o citar, como é seu hábito. Depois, ainda se pretende historiador!!! Terá sido um lapso metodológico? Ou foi mesmo vontade deliberada de omissão na fauna, perdão, na colecção de algumas fontes para redigir o artigo?
- Mais uma vez direi aqui o que penso, sem entraves, nem coacções, nem favores. Sendo que o meu único objectivo, na medida do possível, é só um: tentar perscrutar a Verdade que também é a melhor forma de sermos Bons, Justos e homens Livres na polis. E as razões que encontro para PP ter feito aquele artigo, nos moldes em que o fez, são aqui sistematizadas neste decálogo. Vejamos:
- 1) A felicidade consiste em ter um projecto, que se compõe de metas como o amor, a cultura, o trabalho, a realização completa de nós mesmos, enfim, alcançar a moderna felicidade. Pacheco tem tudo isso, excepto a felicidade. Daí dedicar boa parte do seu tempo intelectual a molestar os pobres blogueiros que aqui fazem mais num blog do que, porventura, ele numa semana ou num mês.
- 2) Depois há ali um prazer sem alegria, um prazer em amarfanhar quem é mais fraco, uma apetência pelo puro espezinhamento. É o que ele faz rude e subtilmente at once com aquele artigo que ainda será de "Antologia"... E porquê? É que não obstante todo o seu sucesso, toda a sua notoriedade, todos os seus rendimentos, ele não está feliz e, como tal tal, foi coleccionando rancores, acumulando-os em pastas, em camadas - cuja explosão deveria ser só dirigido para aqueles dois outros autores que supra-referi. Mas não!!! Pacheco como não teve coragem intelectual de se meter com Vasco Pulido Valente, bate na blogosfera em geral, indiscriminadamente, no afã de resolver as suas mágoas, curar as suas feridas, carburar as suas explosões intelectuais, "matar" os seus recalcamentos e expiar as suas angústias. Tudo isso ele faz por interposta pessoa naquele lamentável artigo: a blogosfera. Esta é que acaba por ser a grande meretriz, além da globalização - que é um termo que tem de integrar, forçosamente, qualquer discurso, artigo, ensaio, por mais medíocre que seja.
- Como mero cidadão que usa norlmalmente a blogosfera, - já critiquei o artigo de PP com o Erro do curandeiro, e, agora, volto a resituar o assunto noutras bases. Creio que PP faz o papel do mero sociólogo que integra uma nota de pé-de-página de um Weber, de um Aron. Sem querer ser arrogante - doutro modo estaria a corporizar os vícios que nele critico. Portanto, para mim o "papa" dos media é um ser altamente previsível, o que não significa que não tenha o seu valor. Mas não é certamente ao lado daqueles que referi, óbviamente. E até, confesso, desejaria ver nele uma referência intelectual sólida, sem sectarismos, sem zigue-zagues.. Seria bom para Portugal. Precisamos de referências intelectuais de valia cultural. Dispensamos sectarismos, discriminações e fomentadores de ódios e de turbulência na cidade. Foi isso que aquele artigo produziu. Até parece, para citar alguém, que temos o caos no jardim..
- 3) Depois JPP comete, em nosso entender, outro erro de palmatória: afirma os valores dos vencedores, de triunfador de bairro que mantém o povo debaixo d'ordem, quietinho, disciplinado. Fez-me lembrar aquela tirada do poeta A. O'Neill - com a fórmula - Respeitinho que é muito bonito... Poeta esse de quem Teresa Patrício Gouveia foi muito próxima. Ou será que PP nos quis lembrar mais um tique maoista que, porventura, ele nem se dá conta, mas que comete recorrentemente.. Isto em vez de ser magnânime com os mais fracos, razoável até para com aqueles que têm melhores blogs, o que também não é dificil. Pois o abrupto - sempre me pareceu o átrio duma "agência funerária". Sempre que lá entro para ver alguma novidade, venho de lá deprimido. Parece que não sou só eu... Parece!!! Pergunto-me: tanto talento, tanta inteligência, tanta "Kóltura", tantos recursos financeiros - para aquilo?!
- Mas gostos são gostos e eu respeito os dele. Mas Pacheco, a avaliar por aquele artigo, gosta de espezinhar, em vez de ser magânime; Pacheco gosta de quebrar laços de solidariedade - que em inúmeros casos existem - e entregar-se a um individualismo atroz. Faz lembrar certos académicos frustrados por não serem polítios, depois vingam-se nos alunos. Enfim, Pacheco é um homem que se move ao redor de si. Será que quando se olha no espelho, no reencontro com a noite, consegue vislumbrar algo mais do que o seu umbigo?
- 4) Pelo que diz e debita por aí onde anda acumulando destinos - Público, Sic e o mais - tornou-se um homem que vive dum realismo por encomenda - onde cada um vê a realidade de forma mui particular, acomodando-a aos seus planos e preferências pessoais. Faz o que quer porque tem a comunicação social nas "mãos", e, assim, se desvincula dos demais, do real. Entra em processo de esquizofrenia. Ao apartar-se de tudo quanto disse no seu artigo, PP só se pode julgar um deus. Isso é mau, muito mau!!!
- Então este homem - pelo que representa - especialmente de bom - porque também tem virtudes - não deveria canalizar o seu talento para fortalecer laços na sociedade de carne e osso e no seio da blogosfera? Julgo que sim. Porquê, afinal, tanto rancôr, tanta maldade, tanta vontade de espezinhar o "outro"? Só se entende isto à luz duma teoria psicológica e motivacional que aqui expendemos e que emana, em 1ª linha, com a absessão que nutre por VPV e CCS, autores do blog citado.
- 5) Depois, sempre julguei que o homem fosse forte sempre que consegue dominar as suas sentenças, as suas paixões, as suas iras, a sua linguagem, tratando os demais com dignidade. Mas quando se perdem as referências, as molas impulsionadoras mais nobres, chega-se a um patamar de sobranceria, i.é, chega-se a JPP. PP deveria saber que um homem só deveria olhar de cima para baixo outro homem se for para o puxar para cima... Pacheco pode ter mundo dentro de si, mas não tem ponta de humanismo, ponta de solidarismo.
- 6) Tudo isto culmina no chamado cinismo prático em que JPP navega, mas quem lhe conhece a estrutura mental fácilmente o desmonta, peça a peça. O seu entrincheiramente pelos media onde anda reflecte ainda uma outra coisa: o seu individualismo atroz. Falho de verdades objectivas, em que tudo é negociável. Até apetece dizer que quem anima traições intelectuais, multiplica-as. É, aliás, o título do livro de A. Glucksman que empresta título a este post: Cinismo e paixão. É aqui que se coloca uma questão de fundo que colide literalmente com a posição de PP neste particular da utilidade da blogosfera. A saber: para que servem a filosofia e o pensamento em tempos de crise? Para que serve o talento de Pacheco? Pois, ao que vemos, para quase nada, já que cada existência, cada intervenção sua só brilha individualmente, solitáriamente. Hoje PP deve ser um homem odiado por Portugal inteiro, quando o podia ter a seus pés. Porquê? Por causa da sua soberba. Porque julga estar sempre na posse da verdade suprema. Por causa também da sua ira dirigida à blogosfera, da sua gula de sentenças e até da sua inveja em ver outros com tão magros recursos fazerem melhor, muito melhor.
- 7) Isto conduz-nos a outra conclusão: PP é um cínico, pois apesar de não negar a realidade em que todos navegamos na net, com qualidades e defeitos, virtudes e vícios, ele actua como um pequeno aprendiz de Maquiavel, que era igualmente outro cínico e conseguiu fazer com que o frade Savonarola fosse moralizar a vida de Florença, porém este acabou morrendo na forca. A tese de PP é semelhante, só que para ele "Savonarola" é a "blogosfera".
- 8) Isto atira-nos ainda para outra deriva latente na sua articulação taduzida em calão das teorias de M. Castells, que também não cita. Pacheco, à força de querer moralizar um espaço que que também integra - a blogosfera - cai no relativismo cultural: tudo é mau, excepto ele, o abrupto. Cai neste relativismo. Será que ele se dá conta disto? Em vez de combater o seu cinismo mediante convicções fortes, até porque o seu blog não vale de per si - mas pelo efeito de "parasitagem" do seu autor, atira-se para os braços da catalogagem que, afinal, são as mais puras banalidades: somos "perversos, invejosos, frustrados, uns justiceiros anónimos, uns génios incompreendidos". Lá está, este génio nem Os Lusíadas conhece, pois a inveja já nos define enquanto entidade colectiva, enquanto povo, há mais de 500 anos. Nem o Pacheco andava de fraldas. Inveja sim, é capaz de sentir ele pelos textos de Vasco Pulido Valente. Se assim é por que razão não é este o seu alvo, e, em seu lugar, dispara sobre a desgraçada da blogosfera (que não é toda igual)?
- 9) E ao relativismo cultural de Pacheco segue-se-lhe um outra limitação: a permissividade. Quer dizer, não obstante toda a sua exposição mediática, toda a sua experiência político-partidária, toda a sua vasta cultura histórica e experiência literária, todos os seus "kilómetros" de estantes povoadas de livros, enciclopédias e outros instrumentos do saber, Pacheco Pereira vem a terreiro bater nos "ceguinhos anónimos"; vem malhar na blogosfera imberbe e analfabeta; vem mostrar-nos que, afinal, não tem referências, não tem pontos de apoio, aviltado quer também aviltar-nos, rebaixar-nos, codificar-nos, domesticar-nos, converter-nos ao silêncio. Enquanto isso move-se como uma enguia e deambula pelo Público, pela Sic, passeia a sua fama pelos livros que apresenta, pelos prefácios que faz, pelas participações radiofónicas - sempre a brilhar, como um astro ascendente. Mas é um brilho sem fim, sem metafísica, sem estratégica, sem humanismo, sem direcção; é o brilho do seu umbigo, e em vez de ser uma bússola, acaba por ser considerado por milhares de blogers como o catavento do momento; o proletário do III milénio, depois de ter sido maoista e integrar hoje o PSD. O Dr. PP revelou-me, revelou-nos a todos, ser um homem com uma paixão: a paixão pelo nada. Eis a sua nova experiência, procurando fazer tábua rasa do trabalho dos outros.
- 10) Por último, o autor daquele "genial" artigo titulado A Fauna das Caixas de Comentários do Público de 5ª feira - revela-me ainda uma outra dimensão, que embora já desconfiasse ver nele não tinha a certeza existir. Ou seja, todas aquelas acusações que PP dirige indiscriminadamente a toda a blogosfera - como se toda ela se reconhecesse naquela adjectivação tão injusta quanto aviltante, têm e não têm fundamento: por um lado aplicam-se a um número de blogers que fazem disso um way of life lamentável; mas deveria ter excluído os muitos outros que não alinham nessas xaradas, os chamados blogs normais, com condutas normais, aceitáveis, educadas, éticas. Não o fez!!! E não o fazendo abriu as portas a um vazio de ideias para que acabou por conduzir este debate estéril de que foi o protagonista. Um protagonista que se converteu num actor secundário, enquadrado por uma narrativa vazia, mas socialmente perigosa, visto que pela sua intervenção, pelas suas palavras, pelas suas acusações e motivações elas só podem conduzir a um ambiente de rebelião latente que vira uns contra outros - neste reino da mesquinha sociedade do espectáculo de que ele próprio até é um figurante. Isto faz lembrar aquelas tiradas de Guy Debord - quando nos fala dessa tal sociedade do espectáculo, aquela em que se produz uma discussão estéril e onde os media insistem mais uma vez em não dizer Nada. Ora foi a esse "lindo" serviço a que o jornal Público também se prestou. Aquilo que era suposto ser um tributo à construção e ao reforço de solidariedades na rede das redes, ao fortalecimento do rizoma - o "bom" do Pacheco Pereira vem ratificar-nos mais uma das suas certezas: a blogosfera não passa dum monte de perversos, medíocres e analfabetos. Enfim, de gente frustrada. Será este o seu diálogo com o espelho no recontro da noite!!!
- Em suma: à 1ª vista o artigo endrominou-me. Com aqueles exemplos fiquei magnetizado. Havia que o racionalizar. Julgei ver nele algo de novo. Novas pistas para explicar as curvas em que estamos. Mas depois revi nele essa mesma mediocridade, o vazio que o autor nos quer imputar a todos. Vi nele, de braços dados o relativismo, a permissividade, o cinismo, o calculismo, a soberba, o carácter setenciador, a vontade suprema de ditar e de declarar códigos de comportamento. Enfim, vi ali um pequenino Napoleão ciber-virtual. Constatei ali, e é pena, um homem frio, amargurado, pouco humano, nada solidário, de costas voltadas à verdade do verdadeiro homem.
- No fundo, PP mais não faz do que coligir dois ou três factos - de natureza transnacional - e serve-nos a refeição de pronto-a-comer. Só que aquilo nada mais é do que um prato requentado, embora sinalize a sua própria cosmovisão, os seus desejos, opiniões, juízos particulares numa apoteose verdadeiramente lamentável - em que tudo é relativo.
- E é o relativismo, em nosso entender, que melhor caracteriza aquele artigo, com aquela sua habitual postura de intelectual encartado, que não aceita nenhuma outra verdade que não a sua, tamanho é o universo por que se toma. Em linguagem matemática PP diria de si: "eu sou eu mais a minha circunstância"; eu sou a blogosfera; eu tudo condiciono. Julgo que esses são os diálogos com o espelho quando Pacheco à noite se reencontra com a verdade. Já Protágoras afirmava que "o homem é a medida de todas as coisas". Pois no caso de PP a fórmula entra em revisão, agoniza, para declarar, no final, que ele não só é a medida de todas as coisas, como também o criador da mente que gerou o Protágoras.
- Confesso, sinceramente, que nunca pensei que JPP fosse tão longe nesse seu niilismo devorador e voraz, até porque desse artigo só emergiu um homem pessimista, num tom desiludido, um ser indiferente a tudo e a todos, alheio até à verdade. Alguém que já não se dá ao trabalho de diferenciar as coisas, de tentar separar o bom do mau, nem o verdadeiro do falso.
- José Pacheco Pereira poderia representar hoje o ideal-tipo de um herói intelectual, histórico do nosso tempo. Ser a tal bússola. Mas não é!!! E o que esse seu artigo conseguiu fazer foi o de ter posto o nervo e o motor da epidemia em andamento, lançou o vírus no ciber-espaço, contribuíu para potenciar ainda mais o lixo nas ciber-caixas de comentários, enfermizou ainda mais a blogosfera nacional adjectivando-a da forma e no tom em que o fez. Ou seja, PP multiplicou o virús.
- Pacheco Pereira, para finalizar este olhar "de fora" para "o dentro" ao seu artigo, empobreceu-nos, apoucou-nos e revelou-se, afinal, um estereótipo de homem que mais parece aquele burguês próspero, anafadinho, bem-posto na vida, com basbas aparadas (e não já à Carlos Marx) muito viajado e cosmopolita, poliglota, sábio de muitos territórios e algumas redondezas, muito ilustrado e enriquecido; mas depois emerge-nos uma outra face e dimensão (que tenta ocultar): sem atractivo, culturalmente esfrangalhado, incapaz de iluminar uma única directriz para o País que vegeta na decadência, culmina no tal homem sem bússola.
- Só a Verdade me move na tentativa de compreensão desta análise. Embora compreenda que outras motições pessoais existem entre o autor do artigo e os visados dele. Ainda que tenha sido a blogosfera (que é diferenciada) que tenha levado por tabela. Isto que fique bem claro!!!! É triste, mas é assim. E é pena.
- Nota: Gostaríamos que o Dr. Pacheco Pereira lesse esta reflexão com calma, pois sem ela talvez não compreenda a bondade das minhas razões. Julgo que aquele artigo só mostra uma parte da verdade, falta revelar o outro lado. Por vezes, para vermos a "verdade" (o que é isto, a Verdade!?) é preciso sairmos da "nossa casinha"; isto é, ver de "fora" para "dentro". Poderia aqui citar dezenas de links de outros blogs que se lhe referiram, no mesmo tom e agressividade que utilizou. Mas não me importa aqui potenciar essa turbulência, nem esse kapital-linkismo da fama que, em inúmeros casos, não passa duma república de citações, duma troca de favores que nada diz. Aqui uma única coisa me interessa: reflectir sobre a injustiça e a parcialidade do seu texto. Cabe-lhe, caso queira, responder em conformidade. Pois eu tenho para mim que o Dr. Pacheco Pereira discute com qualquer pessoa educada que se lhe diriga com razoabilidade. Foi o que fizémos, apesar das circunstâncias. Tenho para mim que o dr. Pacheco Pereira não discute só alta política com o sr. Jorge Coelho... Nem escreve só artigos no Público.
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