Miguel Sousa Tavares opina sobre a blogosfera e defende-se mal
CYBERCOBARDIA
Miguel Sousa Tavares critica a blogosfera e, em particular os blogues anónimos:
«Excepção feita ao correio electrónico e à consulta de «sites» informativos, a Internet interessa-me zero. Todo esse universo dos «chats» e dos blogues não apenas me é absolutamente estranho como ainda o acho, paradoxalmente, uma preocupante manifestação de um processo de dessocialização e de sedentarização das solidões para que o mundo de hoje parece caminhar. Saber que nesses ‘sítios’ imateriais é possível fazer praticamente tudo, desde arranjar parceiros amorosos até recrutar terroristas para a Al-Qaeda, não é, a meu ver, um progresso ou facilidade, mas uma espécie de impotência, de desistência de viver a vida como ela é. Tenho lido muitas opiniões contrárias, de gente que acredita que os blogues e toda essa conversa «in absencia» são uma forma moderna de democracia de massas, directa e instantânea, como nunca houve: uma espécie de «speaker’s corner» planetário. Mas discordo: não penso que a qualidade da democracia se meça pela quantidade de envolvidos e, menos ainda, pela irresponsabilidade. Não há liberdade de expressão onde existe impunidade do discurso. E se no «speaker’s corner» fala quem quer, também é verdade que quem fala tem o rosto a descoberto, pode ser convidado pelos circunstantes a identificar-se e pode, sobretudo, ser confrontado e contraditado por estes - enquanto na maioria dos blogues o anonimato é regra, santo e senha. Mas não há nada melhor para confirmar ou desmentir uma teoria do que experimentar-lhe os efeitos. No meu caso pessoal, as experiências que conheço têm sido eloquentes: por duas vezes me foram atribuídos na Net e postos a circular textos que não tinha escrito e cujo conteúdo repudiava veementemente; o mais longe que consegui desfazer a falsificação foi o círculo de amigos que me falaram no assunto. De outra vez, deram-me a conhecer a existência de um blogue onde um autor anónimo se dedicara a fazer a minha biografia, acrescentada posteriormente por toda uma série de contribuições igualmente anónimas: eram 27 páginas de conteúdo (!), mas bastou-me ler as duas primeiras para desligar, enojado com a capacidade de invenção, difamação grave e cobardia que aquilo revelava. Esta semana, enfim, estava-me reservada mais uma experiência do género. Um qualquer tipo dera-se ao trabalho de pegar num romance meu, manipulá-lo devidamente (por exemplo, pegando num início de frase e acrescentando-lhe outro situado 12 páginas adiante), para afirmar, sem estremecer, que todo o meu livro era um plágio do outro, “uma fraude sem pudor”. Uma hora depois de este blogue ter nascido, exclusivamente dedicado a acusar-me de plágio, um jornal telefonava-me para casa a pedir um comentário à “acusação”. Primeiro, pensei que estavam a brincar, depois percebi que levavam a coisa a sério e tentei mostrar o absurdo daquilo: o meu livro era um romance histórico, em que os personagens principais eram todos ficcionados, assim como a história, o outro era um livro de história, um relato jornalístico do mandato do último vice-rei inglês da Índia, em que os personagens eram o Mountbatten, o Nehru, o Ghandi, o Jidah; o meu livro situava-se em 1905, em São Tomé, o outro em 1949, na Índia; o meu tratava da escravatura nas roças de cacau de São Tomé, a par de uma trama amorosa, o outro tratava da independência da Índia; enfim, como se perceberia, simplesmente, lendo-os, tanto a construção narrativa como a escrita eram obviamente diferentes, tratando-se de géneros literários totalmente diferentes. Mas o autor do blogue revelava-se um profissional da manipulação: ele pegava em excertos afastados entre si da versão inglesa do outro livro, colava-os como se fossem uma só frase, comparando-os então com outras frases minhas a que chamava “tradução” e que um jornal dizia serem “frases inteiras iguais”. Mas iguais eram apenas os factos nelas contidos: os dados biográficos de quatro marajás da Índia. Ora, como tentei explicar, qualquer pessoa percebe que um romance histórico ou um livro de história, quando chega aos factos reais, tem de recorrer a fontes, que são outros livros ou documentos preexistentes. De outro modo, não os tendo vivido, ao autor só restaria inventá-los ou distorcê-los, para não ser considerado plagiador: eu deveria então ter trocado os nomes ou os dados biográficos dos marajás que convoquei, assim como os do senhor D. Carlos ou de outros personagens históricos que entram no meu romance. Em vez disso, limitei-me a fazer uma coisa que nem sequer é habitual neste género literário: identifiquei as fontes a que recorri, entre as quais o tal livro que o anónimo da Net me acusava de ter copiado - ou seja, deixei as pistas todas para ser ‘apanhado’. Porém, o meu Torquemada concluiu ao contrário: se eu citava 29 livros como elementos “de consulta do autor” e se ele, recorrendo apenas a um deles, encontrara semelhanças com duas páginas das 518 do meu livro, era caso para “esfregar as mãos de contentamento, partindo à descoberta de mais algumas pérolas da exploração do trabalho alheio”. Infelizmente, ninguém se deu a esse trabalho ou menos até. Debalde, tentei explicar ao enxame de jornalistas que imediatamente me caiu em cima que o simples facto de darem eco àquele blogue anónimo, sem verificarem previamente o fundamento da acusação gravíssima que me era feita, equivalia a transformar uma mentira privada, ditada pelo despeito e inveja, numa calúnia produzida à vista de milhares. Com esta agravante decisiva: o único meio de que disponho para defender eficazmente a minha honra e o meu trabalho, que é o tribunal, está-me vedado, pois não sei de quem me queixar e quem fazer condenar como caluniador. Não sendo esta a regra, como poderá alguém, por exemplo, defender-se convincentemente de um blogue anónimo que o acuse de pedofilia, tráfico de drogas ou qualquer outra coisa abominável? Tentei explicar que, perante isto, não bastava reproduzirem a acusação e ouvirem a minha defesa. Era pelo menos necessário que lessem os dois livros e percebessem que tudo aquilo era absurdo e que a aposta deste manipulador anónimo era justamente a de que os jornalistas não se dessem a incómodos. Foi tudo em vão, claro. Responderam-me que o outro livro não estava disponível em Portugal e que, “face à gravidade da acusação” (justamente...), não se podia ignorar o assunto, pois, como me explicou sabiamente um jornalista eufórico, “a bola de neve está a correr e é imparável”. E correu. E foi. Dos tablóides ao respeitável ‘Público’ - onde, confessando-me não ter conseguido obter o livro supostamente plagiado (e, se calhar, sem sequer ter lido o meu...), uma jornalista escreveu, preto no branco: “Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais”. E, assim, com esta ligeireza, se suja a honra de uma pessoa e se enxovalham anos e anos a fio de trabalho, esforço e imaginação. O que já sabia dos blogues confirmei: em grande parte, este é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres e dessa tão velha e tão trágica doença portuguesa que é a inveja. Mas fiquei a saber, e não sabia, que os blogues, mesmo anónimos, são uma fonte de informação privilegiada e credível para o nosso jornalismo.» [Expresso assinantes Link]
O sublinhado é do Macroscópio
Texto picado no Jumento
Notas Macroscópicas
Tentaremos enquadrar o "problema" do Miguel Sousa Tavares (MST) em vários tempos começando, desde já, por apreciar como ele termina o seu texto - até porque se eu (Rui Paula de Matos, autor do Macroscópio, e nascido há 40 anos na Clínica São Grabiel em Lisboa) - quisesse ser maldoso (e invejoso e quezilento), como muitos bloggers o são (e alguns estúpidos e arrogantes senão mesmo ofensivos e sem a menor formação cultural) - dizia já que o MST plagiou o Camões porque acusou a generalidade dos bloggers de serem invejosos (o que é verdade). Dizia o génio Luís Vaz: [...]
Fico que em todo o mundo de vós cante De sorte que Alexandro em vós se seja, Sem à dita de Aquiles ter enveja.
É claro que ele não plagiou o Camões que, aliás, foi o Homem que melhor definiu um dos traços estruturantes da personalidade colectiva dos portugueses. Ainda numa última conversa com oito amigos o dizia, por mero acaso, e agora volto a este assunto por causa de alguma blogaria menos escrupulosa que mancha o nome daquela outra que aqui se comporta com alguma decência, com regras e ética, ainda que combatendo e lutando contras as injustiças deste mundo. E aqui, o MST, que pensa e escreve bem, tem notoriedade - teve o pai e a mãe que teve (pessoas cultas, preparadas e referências para qualquer um de nós) - terá de ser menos absoluto e perceber que já há hoje pessoas em Portugal, inclusive na blogosfera, que fazem tudo isso tão bem ou melhor do que ele, têm tantos ou mais leitores do que ele e, nem por isso, são pessoas invejosas, cobardes, mesquinhas ou quezilentas. E é aqui, naturalmente, que a generalização de MST peca porque toma a árvore pela floresta, o estaleiro dum blog anónimo pelo castelo, os moinhos-de-vento por gigantes... Estranho isto por parte de um jornalista/repórter/escritor do calibre de MST.
O que seria a sua resposta se a farpa tivesse nascido dum colega seu de jornal??? Apesar da objectividade com que Miguel escreve esta generalização, ainda que caricata e burlesca, reporta-me aquele confusão resultante da situação das duas meretrizes que manifestam a D. Quixote tanta consideração e delicadeza que este as toma por donzelas de nobre estirpe da corte. O mesmo se passa com o esquema mental de Miguel e com toda a sua argumentação em considerar relevante um blog anónimo (que logo desapareceu, impune e cobardemente) que o acusou de plagiador - de uma sacanice que ele não cometeu. Mas é esta radicalização (vitimização) que, confesso, não compreendo na pena de MST:
Não sendo esta a regra, como poderá alguém, por exemplo, defender-se convincentemente de um blogue anónimo que o acuse de pedofilia, tráfico de drogas ou qualquer outra coisa abominável? (sugerimos ao MST que interponha requerimento à autoridade judicial competente a fim de descobrir o IP correspondente do autor dessa injúria e mande proceder a investigações com vista a instaurar um processo crime ao autor/s material desse blog. O MST é jurista, conhece as leis, e como vivemos num (suposto) Estado de direito deve defender-se e fazer valer o seu direito a essa luz. Fazer as generalizações injustas que fez e nada fazer perante a Justiça revela duas coisas: não acredita no Direito/Justiça do seu País; persiste no erro básico da sua generalização). Incorrendo, assim, numa injustiça para com todas as outras pessoas e blogs de bem.
Além de que o exercício ao recurso da figura da generalização - em qualquer temática - é analíticamente tão arriscada quanto ilógica, e até estranho isso nele - pessoa inteligente e culta - parece que ficou desamparado e perturbado ante aquela crítica anónima (e cobarde e com escasso fundamento técnico-literário) - e recorreu a esse absurdo analítico para se justificar perante esse tal blogger anónimo. Por isso, concluíu dizendo: O que já sabia dos blogues confirmei: em grande parte, este é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres e dessa tão velha e tão trágica doença portuguesa que é a inveja. É pobre, pobrezinho... Camões disse-o há 500 anos com pleno fundamento, o MST claudica ante um sopro duma andorinha.
Embora, não haja estatísticas sobre essa arrogância e inveja institucionalizada que grassa na blogosfera, cremos, contudo, que o MST aqui esteve menos bem, e porquê? Neste particular, e pressionado quer pelos jornalistas (e ele é um jornalista, sabe como pensam e actuam melhor do que ninguém) ele deveria ter tido outra abordagem: aceitar dar uma conferência de imprensa desafiando o autor(es) do tal blog (que o Macroscopio nunca viu ou leu) na presença do acusador. Doutro modo remeter a "estória" e o seu ténue fundamento - para o caixote do lixo da maledicência e da pura inveja ou qualquer outro ajuste de contas do passado ou outra motivação da condição humana que a psicologia explica. Fazer o que o MST fez, pareceu-nos uma reacção perturbada, nervosa e até pouco lúcida e inteligente. Reagiu como aquele marido que chega a casa mais cedo do que o esperado e apanha a mulher com outro na cama. Revelando que, afinal, até os grandes repórteres em Portugal se deixam instabilizar por um arrufo desbragado... É dos nervos, dirão os psiquiatras... Uma ninharia, - o que revela a má fé do seu autor(s) e dos intentos que através dele procurou obter - manchando, assim, o nome de todos aqueles que se servem dos blogues para analisar os fenómenos sociais de forma séria e transparente. E, pelos vistos, dada a escassa lucidez do MST - conseguiu (em parte). Já vimos MST enervado por causa do desordenamento urbano e paisagístico, por causa do "sangue-suguismo" financeiro de Alberto João Jardim, por causa dos militares sentados à manjedoura do OGE, mas agora por causa dum blogger anónimo!!! Sem existência/permanência na rede...
Porventura, bem mais consistentes foram as críticas que Vasco P. Valente lhe dirigiu e que estão inseridas no livro de João Pedro George (JPG), Não é fácil dizer bem, ed. Tinta da China, 2006, págs. 63-68 - onde se afirmam as seguintes passagens:
O problema central deste livro (Equador) está na escrita, que se presta a grandes reparos e deixa muito a desejar: "pobreza do vocabulário, limitados recursos expressivos, estilos sem matizes, descuidado, repetitivo. O suficiente para vulgarizar um livro. Feri-lo de morte". Ex: João Forjaz, um dos membros do grupo das quintas-feiras e seu amigo de sempre (p. 18); "mal tinha acabado de entrar na sala de baile, vindo do bar e das mesmas conversas de sempre com os mesmos de sempre" (p.26). Segundo sistematização de JPG. Eu, confesso, nunca li um único livro de MST, embora saiba que pensa e escreve bem e de forma consistente. O seu extenso contributo na imprensa provam-no à saciedade. De modo, que é de admitir existir neste epifenómeno, artificialmente criado, muita inveja e sacanice, mas não por esta ordem.
E prosseguem os exemplos que, segundo, JPG, fazem de MST um escritor com vocabulário pobre: "volta e meia tropeçamos em coisas como o melhor peixe do mundo (p.23), "dar resposta mais natural do mundo (p.28), "como se fosse a coisa mais provável do mundo (p.34), serviram sumo espremido das laranjas de Vila Viçosa - as melhores do mundo (p.36), demorara todo o tempo do mundo (p.96), "o homem mais rico e mais avarento do mundo (p.245), com o ar mais calmo e natural do mundo (322). De seguida JPG aduz mais exemplos semelhantes colhidos ao longo do livro Equador de MST. Será isto grave no livro tão extenso??? Não me parece... Apesar de, como referi, não ter lido o livro, apenas me baseio na fundamentação de um jovem sociólogo da cultura que anda aborrecido com o mundo - porque o mundo não lhe deu aquilo que ele, quiça justamente merecia - e então dedicou parte do seu tempo a estas coisas, e bem, cremos nós. Ao menos não se meteu na droga nem deu em ecofundamentalista... Mas isto não chega para "morder as canelas" de MST, revela apenas descuidos, desatenções, sucede a qualquer escritor que escreve um romance longo e não é perfeccionista como o aristocrata do Eça (que era um cagãozinho e nem a categoria social "povo" avulta nos seus romances, coisa que ele tenta remediar no fim de sua vida), e depois a coisa é publicada com alguma negligência vocabular, mas não tão grave como aquele episódio do Luís Pacheco - que foi publicado com "alhos" e bugalhos" à mistura porque o editor, e a pressão do tempo para publicar, por vezes conduzem a erros gritantes. MST é ainda acusado de muletas literárias, de vícios de linguagem, de recriar uma monotonia de paisagens (narrativas) que podem aborrecer o leitor. Depois de substanciar mais e melhor o seu ponto de vista JPG conclui que MST é portador duma insuficiência linguística, limitação na linguagem? Trapalhice? Custa-me a admitir, mas é o que parece (p. 68) - diz - JPG. É óbvio que JPG não é aqui uma referência clássica para nós, é um instrumento de trabalho disponível actual e útil, ainda jovem como jovens são as suas apreciações sobre cultura portuguesa e universal, apesar de ser um sociólogo da cultura (creio, e até me solidarizei com ele por mail - que ele me retribuiu gentilmente - quando a acusadora Margarido Pinto Rebela fez dele réu e cuja causa perdeu aquando da edição de um outro livro seu - Couves e Alforrecas - em que denunciava aquela de plágio da autora ligth) ... Só que o Miguel Sousa Tavares tem outra formação, outra inteligência, outra lógica, outro background, em suma, tem outra estatura e outra cabeça. Espero que agora o JPG não me acuse aqui de ter utilizado muitas vezes a palavra "outra" e de ter um vocabulário pobre... Além de ter tido, como referi, os pais que teve, e isso deve ser relevado, muito em particular a senhora sua Mãe, Sofia Mello Breyner Ardersen recentemente desaparecida entre nós - e que deixou uma imensa obra de excepcional qualidade. Portanto, o Miguel é fruto duma circunstância socio-cultural e familiar concreta, foi alí buscar um capital genético - depois aprofundado e afinado - por toda uma educação que a maioria dos portugueses não tiveram nem terão. Mas o MST é, sublinhe-se, daquelas pessoas naturalmente inteligentes. Aliás, ele transpira inteligência. Ele podia escrever o maior plágio do mundo, que a sua oralidade, a sua capacidade de argumentação, ou seja, a sua estrutura lógica e de relacionação dos factos (políticos, económicos e culturais), suprimem essa falta ou insuficiência vocabular que, alegadamente, aquele jovem sociólogo o acusa. O mesmo que há dias debitava umas generalidades socioliterárias sobre a vida e obra de Luís Pacheco. Aí sim, registei uma fraseologia muito pobre por parte de JPG, muito emotivo e pouco construtivo... O mesmo que ora acusa MST na sua escrita naquele seu livro que aqui faço o favor de lhe citar. Ou seja: há pessoas que pensam, falam e escrevem bem, é o caso de MST (especialmente crónicas, que é as que melhor conheço); e depois há casos, o daqueles rapazes que escrevem umas coisas e quando abrem a boca denunciam uma oralidade made in Jorge Coelho (pois não "hádem" que sim, pois concerteza!!!). Isto só não basta para crucificar uma pessoa.. Einstein tinha uma oralidade muito áquem da sua inteligência conceptual e experimental... Guterres, como se lembram, tem uma lógica discursiva genial, parece uma récita de poemas, fala 7 línguas em sete minutos, no entanto a sua governação terminou como terminou; o "Fujão" barroso não pensa, não fala nem escreve, afirma apenas os seus interesses pessoais e políticos e vai-se safando à custa dos parolos que o elegeram - primeiro em Portugal, depois para a Europa (G.W. Bush e a arrastadeira Tony Silva Blair). Sócrates esgrime bem, mas nunca escreveu nada, veremos como continuará a governar.. Portanto, cada caso é um caso, e as generalizações também aqui são redutoras e perigosas. Mas regressando ao Miguel, que é uma pessoa que admiramos - naquele seu registo temperamental e mordaz, incisivo, lógico, ambientalista e humano q.b., e sem nunca adular ou abanar a cauda aos ricos e aos poderosos deste mundo, mostrando sempre o lado mais humano (e justicialista) dos problemas. Mesmo que cometa imprecisões exóticas, como a que supostamente decorreu de colocar papagaios nos jardins da casa do governador em S. Tomé, quando estes só existem na outra ilha (no Príncipe), além da omissão aos crioulos santomenses... Tudo desatenções de somenos que, cremos, não prejudicam uma narrativa de fôlego, ao que parece. Porque, como disse, nunca li nenhum livro de MST. Nem creio ser necessário... Há outros bons indicadores para sedimentar um juízo.
Mas o erro mais grave do MST é outro, bem outro. Resulta do seu gritante analfabetismo digital. Ele nem se apercebeu das barbaridades que disse logo no arranque do seu artigo: Excepção feita ao correio electrónico e à consulta de «sites» informativos, a Internet interessa-me zero. Todo esse universo dos «chats» e dos blogues não apenas me é absolutamente estranho como ainda o acho, paradoxalmente, uma preocupante manifestação de um processo de dessocialização e de sedentarização das solidões para que o mundo de hoje parece caminhar. (...)
É óbvio que isto "mata" o argumentário do Miguel em matéria de sociedade do conhecimento. Revela confusionismo tecnológico (chats e blogs - que reconhece serem-lhe estranhos..., ao menos admite a sua ignorância digital!!!), não perceber que a sociedade não se pode ater ao consumo acrítico de tv e jornais, e que hoje, muito boa gente (onde presumo incluir-me, e outros muito melhores do que eu - que fazem mais num dia do que o Miguel em 2 meses) entram e navegam na Net e produzem conhecimento, teoria, informação completando, assim, falhas graves que muitos jornalistas, alguns dos quais mal formados (e pior informados) todos os dias veiculam para o espaço público, formatando errada e falaciosamente a opinião pública portuguesa. Portanto, aqui o Miguel deveria ser mais humilde e não falar daquilo que não sabe ou desconhece parcialmente. Seria bem mais interessante se falasse do que sabe, do jornalismo e dos jornalistas que o rodeiam. Aí é que o terreno está efectivamente minado, mas aí ele não entra...
Mas o Macroscópio vai aqui dar uma ajudinha ao Miguel, até pela consideração que nos merece, (o tal que nasceu na clínica S. Gabriel há 40 anos e está identificado) - não creio que MST tenha razão quando aventa outra bujarda que tanto pode valer para alguma blogosfera como para algum jornalismo. Segundo afrma: os blogues conduzem a processos de dessocialização e de sedentarização das solidões - blá, blá, blá... Esta o Miguel deve-a ter recolhido daqueles manuais bolorentos de sociologia da família (de tipo neomarxista, fazendo lembrar as sebentas inúteis de vital Moreira) editados na década de 70/80, mudando só o nome às coisas. Então isto não era já aplicado ao visionamento de tv? Claro que sim... E é obvio que aquela asserção tanto pode conduzir à alegada dessocialização como, ao invés, potenciar laços pessoais, profissionais e alavancar competências na Rede - que ele revela desconhecer.
Então o Miguel nunca ouviu falar na teoria da rede??? Das suas vantagens e virtualidades, mormente ao nível da sistematização de conhecimento que está disperso fluindo por caminhos errados, e que a blogosfera pode ajudar a encaminhar. É óbvio que a cultura da sociologia da informação do Miguel é demasiado limitada, a sua reflexão não lhe permite ter elastecidade sifuciente para perceber que 1 + 1 pode ser igual a 3, a 6, a 8 ou 22.
O Miguel carece urgentemente de ler algumas coisinhas nesta área do saber, desde logo porque desconhece a forma como a critiavidade se aprofunda entre duas ou mais pessoas (bem intencionadas, é claro - e até podem ter a sua identidade oculta - como fazem o Jumento ou o Globalidades - só para citar um dos melhores blogues portugueses e um dos mais recentes que tem identidade oculta mas que não integra nenhuma associação de malfeitores), daí o perigo das generalizações acussadas, perigosas e redutoras de MST veículadas ao Expesso este fim de semana. Mas percebe-se porquê: o Miguel ficou nervoso, claudicou ante a investida dum anónimo... e reagiu como um "touro" ferido fora da arena.
E o que fez Miguel para além de "galgar os taipais" do Campo Pequeno (figurativamente falando) e de ter interrompido o trânsito na Av. da República por 10 min.?! Para que serviu esse show-of na sociedade portuguesa... Para se lamentar, para dramatizar, para empolar uma questiúncula sem expressão dum blogger cobarde.. Ou para atingir a blogosfera no seu conjunto (misturando a boa e a má) - porque não gosta, detesta ou quer mesmo exterminar a blogosfera em Portugal?! Para quê, afinal?! Que contributo intelectual deu Miguel à discussão? Talvez o mesmo que deu em tempos Pacheco Pereira, regando com gasolina de avião um fogo que queriam extinto...
Mas convinha que o Miguel - futuramente - não escrevesse tanta banalidade acerca da blogosfera como se ela fosse toda igual. Eu também não comparo a qualidade intelectual e analítica do Miguel a alguns jornalistas de pasquins como os crimes, do 25h, as caras ou doutras publicações do grupo balsemão - onde o Miguel trabalha - que nem para forrar o caixote do lixo servem. O Miguel deve ser mais humilde, repito, talvez começar por ler Arthur Koestler para perceber o acto da criatividade (ou da criação), ou seja, como se desenvolve a aprendizagem em que, por vezes, o professor e aluno são a mesma pessoa, o mesmo se diga do repórter com o leitor, o governante com o governado, o médico com o paciente. Mas se sentir necessidade pode regressar ao velhinho Piaget, nunca é tarde para aprender os fundamentos.. Basta que sejamos humildes.
Exs: quando o Miguel fazia aquelas belas reportagens do fim do mundo havia essa identificação entre o repórter e o leitor (porque a subjectividade de um ía ao encontro da objectividade dos factos); quando Guterres tomou em ombros a independência de Timor-leste (dizendo em privado a Bill Clinton - na altura apertado pelas saías de orgásmicas de Mónica - que se este não ajudasse aquele se demitiria da Internacional Socialista e do governo português - ainda que fosse um grande bluff, mas Clinton levou-o a sério e pressionou o ditador de Jakarta, o ditador de Comoro) - aí o povo português indentificou-se nesse desígnio - havendo, por isso, indentificação entre governante-governado. Os exemplos destas legitimidades poderiam repetir-se, contrariando a ideia do Miguel quando afirma que os blogues servem para fragmentar as pessoas em lugar de as unir ou fazer convergir em torno dum objectivo de conhecimento, criando uma comunidade epistémica de que, por exemplo, o blog Globalidades é um caso recente. Se o Miguel lá for verá que aprende duas coisas: um pouco de teoria da globalização e também aprende a ser mais humilde quando teoriza sobre coisas que desconhece quase em absoluto. Será que ele é dos tais que ainda anda à procura da "@" debaixo da mesa da sala de jantar?! Quer-me parecer que sim...
Dizemos ainda ao Miguel o seguinte: construir uma rede de conhecimento - pode hoje ser possível através dum simples blog (que ele desconhece e confunde com os chats), tal significa fazer crescer os índices de transferência e de transformação do conhecimento entre duas ou mais pessoas. Para isso, não é preciso criar uma empresa como o Expresso - onde o Miguel escreve, basta apenas que o Miguel saiba blogar e acertar no Publish do blogger, e assim começar a alavancar conhecimento em toda uma problemática. Basta que se desloque o conhecimento do plano individual para os níveis de grupo no seio de um mesmo blog - ou duma rede deles que se possa consolidar em torno duma dada temática.
Sem que o blogger - que pode ser um jornalista, um médico, um investigador, ou mesmo o Miguel - se converta num mero gestor de imagem ou apresentador de tv ou de programas de entrevistas. Os blogues são hoje as ferramentas mais perfeitas e maduras da internet, pois facultam uma tecnologia e uma capacidade de rede que permite multiplicar o conhecimento a uma forma infinita, inimaginável. Trata-se duma estrutura conectiva de que o Miguel nem sonha, tanto mais gratuita - fornecendo assim aos milhões de leitores - artigos, opiniões, ensaios, etc, - que o Miguel nunca conseguirá pensar ou escrever, ou até supor que um dia poderá imaginar no que já foi feito e/ou publicado. É aqui - neste patamar da ignorância e do analfabetismo digital - que o Miguel navega e acaba por ser aprisionado. E por quem??? Por um anónimo que entrou na rede à velocidade da luz, fechando logo a sua "tasca" a seguir por medo e cobardia...
Desconhece as conexões entre os blogues, o que versam, como funcionam, que massa crítica comportam, como arrancam e como se desenvolvem, no fundo, o Miguel conhece tanto destas estruturas conectivas como eu de caractéres chineses ou de culinária tailandesa. E só por pudor é que não cito aqui a cerca de dúzia de links que o Macro tem escrito sobre essas lutas entre a mediasfera (onde está o Miguel, com acesso fácil aos jornais, rádio e tv) e a blogosfera (de que a maior parte das pessoas está privada). E daqui não decorre nenhuma inveja, note-se - até porque eu próprio considero produzir mais num dia do que o Miguel numa semana, com toda a franqueza... E só não lhe recomendo a leitura do Jumento, talvez o melhor blog nacional (e com o qual no outro dia até fui confundido, para meu elogio, certamente!!) para não o envergonhar. Aí ele perceberia o que valem os seus artigos, a sua oratória, todo o seu background... E, quiça, até os seus livros.
Mas nunca é tarde para ver e comparar... Afinal, a mediasfera sente-se hoje acussada (e em parte com razão, por causa desses pequenos energúmenos bloguistas que usam da ofensa e da falta de argumentos para injuriar tudo e todos) - e grita o Miguel - Ao Lobo!!! Ao lobo!!!! - só que durante anos essa fórmula - já esgotada - foi aplicada a certos jornais, hoje ela é canalizada para a blogosfera - sem, contudo, os acusadores fazerem um esforço para deixarem de serem tão analfabetos (digitalmente falando) e, ao mesmo tempo, trazerem verdadeiros contributos decorrentes das mudanças que foram introduzidas por aquelas aplicações informáticas que, silenciosamente, são hoje utilizadas por milhões de pessoas, integrando-as num contexto de produção de conhecimento que não seria possível se esse dispositivo não estivesse disponível no mercado das aplicações (e de forma gratuita). É também isto que o Miguel desconhece...
E porquê? Voltamos ao mesmo... O Miguel não sabe "puto" deste meio e confundiu tudo e todos. Meteu as meretrizes no lugar das donzelas, estas no lugar daquelas; misturando pardieiros com espaços de reflexão/castelos, misturou a árvore com a floresta e os moinhos-de-vento com os gigantes. Talvez um regresso a D. Quixote, este sim - um verdadeiro romance - não lhe faça mal nenhum... Ao menos poderia corrigir os erros de que alguns os acusam.
Ele terá de compreender que esta mudança é imparável, mas para o Miguel só contam os mails - pois deve ser a única coisa que ele deve saber manipular num PC, as secretárias farão - porventura - o resto... Mas são os blogues, e não a imprensa onde o Miguel escreve, que está a modificar a nossa relação com a informação. A forma de produzir, gerar e acumular conhecimento, de gerar comunidades epistémicas, de alfabetizar muita gente que até é na blogosfera, paradoxalmente, que aprende a escrever - componente importante da alfabetização.
Quantas e quantas pessoas não aprendem hoje a ler Sofia Mello Breyner Andersen pela net - que depois usam nos seus blogues - de forma gratuita e levando o nome da escritora mais longe??? São, provavelmente, as mesmas pessoas que não terão recursos para comprar um livro de poesia da mesma autora, apesar de a divulgarem cada vez mais. Será que o Miguel já pensou nisto??? Ou ainda vegeta naqueles raciocínios de pacotilha de sociologia da família da década de 70... Confesso que aqui a elaboração intelectual do Miguel foi minada pelo desequilíbrio psicológico e pela instabilidade emocional em que o tal "artista" do blog anónimo o deixou. Empurrando o Miguel para fora dos taipais do Campo Pequeno para bloquear o trânsito da Av. da República por 10 min.
Por último, e para não me alongar, embora seja a consideração intelectual que devemos todos ao Miguel Sousa Tavares (creio, embora só fale por mim) - gostaríamos de lhe dizer o seguinte: actualmente, são os sectores mais avançados da sociedade aqueles que estão conectados e não, como ele diz, aqueles que estão isolados. Então, o seu expresso não tem por lá tanta blogaria??? Alguns até são tecnólogos de coisa nenhuma, julgando-se gurús da sociedade tecnotrónica, e quando os vou ler - só posso dizer... coitados!!! Estes tipos não conseguem integrar conhecimento, apenas debitam sounds, bites e bytes. E alguns são tão lesmas que nem de semântica percebem. Não percebendo sequer quando gozamos (carinhosamente) com eles...
Hoje as hierarquias já não se fazem hierarquicamente, de forma centralizada, de cima para baixo, mas de forma horizontal, através dos diversos nós da rede que já nada têm a ver com o esquema mental de pensamento industrial que o MST denuncia ao longo daquele seu texto, em que se procura defender dum cobardola que nem a coragem tem para revelar o seu nome.
Quanto ao Miguel, e à consideração que temos por ele, só lhe podemos dizer - que apareça - nem que seja para discutir ideias. O Pacheco Pereira já o começou a fazer, e às vezes não se dispensa de ser justamente criticado. E como não tem resposta ou não sabe o que responder - ou porque encontrou alguém que já leu ou rasgou os livros por onde ele aprendeu - cala-se. Espero que não lhe siga os passos... Senão vou pensar que é como JPP, só discute política ou ideias com o "genial" do Jorge Coelho - que me dipenso aqui de classificar..
Pois nesta área do conhecimento, percebemos que terá muito ainda que aprender. Mas compreendemos a posição que o Miguel toma neste particular, neste choque de micro-poder, a que ele, descontroladamente, deu demasiado poder/importância. Hoje, muitos jornalistas, até os mais experimentados, regra geral aqueles que não têm um conhecimento aprofundado da Rede ou do Rizoma, sentem-se atacados por esta nova entidade, por este decisor oculto (o meu tem identidade) que entrou de forma algo indelicada no chamado ecossistema da mediasfera reinante, e que agora se vê a esperniar porque cessou o termo do seu monopólio. Fragmentando até o mercado (e os lucros) da velhinha imprensa... Um dos grandes erros de MST é o de não perceber que a mudança em curso não decorre apenas dos conteúdos, mas na nova natureza das relações e da nova classificação que tende a codificar esse novo relacionamento entre pessoas e organizações. O Miguel ainda pensa que esses dois sistemas (mediasfera/jornalismo de poltrona e a blogosfera) são concorrentes entre si, e vivem genéticamente em contraposição. Tamanho erro!!! Os blogues e o velhinho jornalismo tendem - cada vez mais - a serem complementares - pelo que integram uma galáxia maior - do que se estivessem operando isoladamente no sistema. Embora um e outro tenham, naturalmente, códigos, regras e equilíbrios distintos. Sendo certo que a blogosfera pode ser boa tal como o jornalismo. Uns e outros podem dar-nos análises enriquecedoras sobre o nosso mundo, contribuir para valorizar percepções que cada um de nós tem do meio social, político e cultural em que vivemos. Dito de outro modo: pela blogosfera, os indivíduos - as pessoas anónimas - passaram a participar no grande debate de ideias e no jogo de influências da chamada formatação da opinião pública. E parece que isto desagrada a muita gente nos velhinhos jornais de papel..Rouba palco a alguns jornalistas. Enviamos daqui um abraço ao Miguel, com votos de boa sorte e com um "conselho" comezinho: nunca se deixe instabilizar por um ente sem rosto e de má fé... Isso é também a estratégia do terrorismo ciber-virtual (errático) que hoje se abate sobre as sociedades europeias, salvaguardadas as devidas distâncias...
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