quinta-feira

A tirania do tempo no tempo político

Casa de Maquiavel em San Casciano

Quando há tempos G.W. Bush aparecia em cena não havia tanta chacota nos media; quando Blair fazia uma declaração política todos o levavam a sério e ouviam com respeito; quando Aznar cofiava o bigode era venerado no Reino da Espanha; e quando África se pacificava por 12h. logo se atribuía esse advento da paz ao garboso secretário de Estado da cooperação, a então esperança Durão barroso - que dizia que mentindo a cada uma das partes em conflito poderia levá-los à mesa das negociações. Depois de Bicesse foi o que se viu: uma desgraça. Provavelmente, andou a ler o Negociador à luz do pitromax e não leu as partes essenciais. E hoje, o que sucede a esta gentinha de pé-descalço ainda em funções (c/ excepção de Aznar pela asneira que cometeu ao nível das informações e da sua "brilhante" intelligence em lidar com o terrorismo no seu próprio Páis)?

Hoje Bush é gozado em qualquer programa ou show radiofónico, espelha bem a imagem do emplastro do FCPorto; Blair perdeu a dignidade política e é desautorizado todos os dias pelos seus subordinados; Aznar dá conferências e faz-se pagar, ao invés de ter de pagar para o ouvirem; e barroso??? será ele o emplastro da UE que vai a África acartar com sacos de farinha sob escolta dos media para a CNN mostrar ao mundo que ele é muito humano e amigos dos pobres - mas se um puto ranhoso na Av. da Igreja - alí em Alvalade - lhe pedisse um croiassant e um galão muito provavelmente fazia aquela cara de cherne enjoado e desviada a cara naquele seu registo pedante-arrogante que lhe é congénito para esconder a falta de neurónios ou mesmo de humanidade.

Portanto, quando vejo todos e cada um destes sujeitos representando o pior dos papéis do mundo reconheço que até um cego inteligente detectaria essa duplicidade de condutas apenas para fixar uma imagem de boas pessoas quando, na realidade, não passam duns frustrados que foram para a política para se vingar. talvez com excepção de Blair, que caíui mesmo em desgraça, tudo alí é farinha do mesmo saco. Um saco cuja boca e cozedura é explicitado pelos conceitos do nosso amigo e verdadeiro humanista Nicolau Maquiavel - onde se encontra a escrever O Príncipe na sua Biblioteca.

Image Hosted by ImageShack.us

  • Se ensinei aos príncipes de que modo se estabelece a tirania, ao mesmo tempo mostrarei ao povo os meios para dela se defender.
  • É necessário ser príncipe para conhecer perfeitamente a natureza do povo, e pertencer ao povo para conhecer a natureza dos príncipes.

Podemos dizer que hoje, tal como ao tempo de Maquiavel, a Europa, os EUA e o mundo em geral - vivem uma situação de instabilidade política. Não apenas pelo fraco crescimento económico mas pela chaga em que se transformou o terrrorismo que opera em rede.

O problema é que hoje não aparece nenhum sábio humanista, como Nicolau, que nos possa ensinar os princípios a seguir na condução do governo das sociedades. Nesse contexto, Nicolau Maquiavel formula em 1513 os conceitos da obra – O Príncipe, o que lhe garantiu o título de fundador da Ciência Política Moderna. Sob as luzes renascentistas, que abriram caminho ao Iluminismo e racionalismo modernos, tal obra representou um marco das Ciências Sociais e Humanas. Revelou uma ruptura epistemológica que revolucionou todo o conhecimento acerca da política e com da arte de governar.

Que método utiliza Maquiavel? Ao romper com a tradição humanista baseada no esquema abstracto, ou seja, em conceitos ideais de sociedade, Nicolau recorre ao método empírico, isto é, o objectivo das suas reflexões é a realidade política, pensada em termos da prática humana concreta. E o objecto das suas análises é o estudo do poder formalizado na instituição do Estado. Desse exame empírico aprimora-se uma outra ciência: a filosofia da história baseada no princípio de que o fenômeno histórico não é linear, mas constituído por ciclos, por corsi e ricorsi. Ou seja, Maquiavel acredita que a observação dos factos passados é essencial para o estudo do presente. Baseando-se nesse princípio, Maquiavel retornará ao passado clássico greco-romano exemplificando os processos históricos. Tal concepção do devir histórico complementa-se com uma compreensão da psicologia humana, uma outra ciência humana também promovida pelos ensinamentos de Maquiavel.

Nesse sentido, Maquiavel determina as causas da prosperidade e decadência dos Estados antigos, compondo assim, um modelo analítico para o estudo das sociedades contemporâneas, sem, contudo, desprezar as particularidades da circunstância sob a qual se pretende agir.

Os elementos básicos definidores do método maquiavélico são: o Utilitarismo – "Escrever coisa útil para quem, a entenda; o Empirismoa veritta effetuale della cosa; o Anti-utopismo – "Muitos imaginaram repúblicas e principados que jamais foram vistos"; o Realismo – "Aquele que abandona aquilo que se faz por aquilo que se deveria fazer, conhece antes a ruína do que a própria preservação".

Quem olha hoje para a miséria das lideranças da Europa e da América de Bush - a tal farinha do mesmo saco, o tal ambiente incestuoso amplificado (como se explicita no video infra) constatamos o tal desdobramento cíclico dos tempos. Posto que para Maquiavel, no quadro teórico básico, de interpretação da história enquanto ciência, não muda muito - assim como invariáveis são a condição da natureza humana.

Ao desdobramento cíclico junta-se um outro nível de determinações mais próximas e concretas, compreendidas sobre a denominação geral clássica – virtú e fortuna. E neste caso a virtú está para a UE como a fortuna está para a América de G.W. Bush. Uma desgraça pegada - feita pela tirania dos tempos. Como a decadência é tanta e tamanha nos dois lados do Atlântico fica hoje por saber quem colocou G. W. Bush no poder: se foi barroso que colocou bush na Casa Branca; ou se foi a Casa Branca que despachou barroso para Bruxelas...