A lição do bom Samaritano. Jesus, afinal, era um politólogo
Certa vez Jesus disse:
- Confesso que não já relia esta "estória" há anos. A vida do dia-a-dia também não ajuda a recordar esse espírito de bondade entre os homens, coisa rara, raríssima nos dias que correm.
- Mas essa foi a crónica que nos deixou S. Lucas lá pelos interstícios da Bíblia, que continua a ser o Livro mais vendido em todo mundo, e que é a fonte (não admitida, claro!!, como fazem os pelagiadores medíocres e sem carácter que têm Fidel Castro no role de amigos) - como Zaramago - que vai esbulhar algumas das parcas ideias que julga ter para fazer aquilo que julga ser livro ou romance ou, simplesmente, um pedaço de papel de fraca densidade intelectual habitada por nenhuma capacidade reflexiva. O homem é genéticamente assim, e ninguém em Portugal com dois dedos de testa consegue ver esta verdade comezinha. Quanto aos membros do júri do prémio Alfred Nobel - também já aqui dissémos que se encontrava, momentaneamente, embriagado..., mas adiante, por vezes o mundo tem os seus tsunamis culturais, os seus marmotos intelectuais, e a turba, ignorante e alienada, na maior parte idosa - aplaude; e quando se pergunta o que se leu do dito cujo nobilizado - a mesma turba responde : a lombada!!!
- São os mesmos papalvos que buscam compreender rápidamente os mistérios e os milagres da vida, que continuam a consumir aquela sopa de lêndias intragável. Já tentei, mas a dada altura vomito.., e aí sou forçado a parar.
- Todavia, a parábola ou a lição do bom samaritano tem uma finalidade escondida que importa aqui desocultar. Mas antes impõe-se formular uma questão nuclear, já de si esclarecedora: será que as pessoas, na sua essência, são boas ou más? Em que medida o são - uma coisa ou outra, e em que proporção?
- Com efeito, quase todos nós - mais cedo ou mais tarde nas nossas vidas - chegamos a uma dessas conclusões acerca da natureza humana. Mas a forma como Jesus fala das pessoas - até do próprio zaramago - passe a Pub. - parece que Ele não chega a nenhuma conclusão definitiva. E é aqui - nesta folga de incerteza - que nos surpreendemos e até ficamos paralisados.
- Certamente, alguns de nós somos como o sacerdote (pois os padres são das pessoas mais mal formadas que conheço, e conheço alguns - e nenhum consegue ser normal); ou como o levita - que vendo aquela desgraça - assobiou para o lado, para fingir não ver o moribundo; outros de nós seremos como os ladrões; e outros ainda como o tal bom samaritano, que parou e foi ajudar a salvar aquele homem meio-morto que jazia no chão, após ter sido assaltado e espancado.
- Em face disto, o que terá levado o samaritano a ter aquele comportamento e a comportar-se como uma boa pessoa? Terá isto algo a ver com a necessidade que o homem tem - por essência - em desenvolver um relacionamento bondoso com Deus (?); logo também com os homens - feitos à sua imagem e semelhança?
- Daqui emerge um ponto importante definidor do relacionamento humano, ou seja, as pessoas são boas ou más em função da natureza das relações que mantém com o seu semelhante. Neste caso, o samaritano revelou-se "bom" porque não desprezou o homem moribundo, e parou diante dele para o salvar - estabelecendo um determinado tipo de relacionamento bondoso com o agredido.
- Assim, encarar as pessoas do ponto de vista psicológico como boas ou más - é simplesmente redutor e não conduz a conclusões sólidas.
- Não raro cometemos aquele erro, pois temos uma necessidade quase vital em rotular os outros para, assim, podermos confiar nas pessoas, ou evitar aqueles que não merecem essa confiança.
- Mas a realidade é mais complexa, já que existe essa ambivalência em cada um de nós; somos bons e maus por natureza; cooperantes e conflitivos; bondosos e maldosos; ingénuos e agressivos; solidários e egoístas; amamos e odiamos. Como ser humano - somos tudo isso ao mesmo tempo, primando umas vezes as boas facetas, outras sucumbimos às más.
- Todos nós, portanto, contemos na nossa personalidade um pouco de levita, de sacerdote, de ladrão e até de samaritano. Daí a complexidade da natureza humana. Por conseguinte, aqueles que reconhecem e valorizam a sua necessidade básica de se relacionar bondosamente com os outros, tendem a ser boas pessoas e a ter um bom comportamento. Até porque precisamos uns dos outros, por isso procuramos não ferir ninguém.
- Ao invés, as outras pessoas que violam estes simples códigos éticos e morais deturpam também a sua natureza e, por extensão, acabam por desenvolver um mau comportamento com o seu semelhante, como fizeram o sacerdote, o ladrão e o levita - elos duma engrenagem que, infelizmente, se identifica abundantemente nas nossas sociedades. Ora isto é mau, na medida em que nos leva a crer que a maldade tende a sobrepôr-se à bondade, como se a condição humana não conseguisse escapar a essa fatalidade. Em rigor, a parábola do bom samaritano fala-nos de pessoas boas e más. E Jesus, creio, passou a sua breve vida a explicar isso aos homens.
- E se há 2000 anos que conhecemos esta lição moral, fingimos, na maior parte das vezes, que ou somos estúpidos ou fingimos não dispôr de memória naquele preciso momento, tão selectiva que ela passou a ser.. E foi isso que Jesus fez: explicitar - por meio dessa parábola - que existem duas qualidades de homens - os bons e os maus. Mas isto é assim não em função da sua natureza, mas em resultado do tipo de relacionamento que se estabelece com o outros em sociedade ao longo das nossas vidas.
- E é por essa razão que a recuperação desta história, plena de sentido e de actualidade, reveste-se aqui e agora - em fim de ano - duma crucial oportunidade para pensar e para meditar, na esperança de que com essa metafísica de transição nos possamos transformar em homens melhores. Ou seja, que sejamos capazes de abandonar, definitivamente, a posição do ladrão, do levita e do sacerdote - e nos convertamos de forma permanente na pessoa do samaritano.
- Daí decorrem mais duas breves conclusões: a) Jesus conhecia a fundo a natureza e a psicologia humanas e, por isso, nos deixou compreender esta lição; b) e foi também, como corolário lógico do que se disse, um grande psicolólogo, sociólogo e até politólogo - que já que compreendeu como menhum outro homem, o funcionamento do comportamento humano em sociedade e num quadro de relações múltiplas de poder que mudam a cada instante.
- Mas mais grave do que não conseguirmos evitar o mal na relação com os outros, é nem sequer perceber esse ciclo vicioso de abuso que cometemos (mesmo que inconscientemente) contra as outras pessoas. Logo, é justamente por muitos de nós não nos darmos conta dessa grande e difusa maldade, que continuamos a agir maldosamente.
- E nada melhor, em passagem e ano, do que interpelar as consciências dessa realidade. Esperemos, pois, que esta reflexão nos ajude a mudar. Assim, passaremos todos, quase naturalmente, a vestir a pele do bom samaritano. E nada há de melhor do que ter a sensação de que se fez bem a alguém. Eu, por exemplo, para ensinar o Zaramago a ler e a escrever - oferecer-lhe-ía a Bíblia, donde ele, surrateiramente, vai esbulhando os temas e parte das formulações que depois povoam os seus livrinhos.
- E também isto seria uma forma de praticar o bem, mesmo para um agnóstico que parece só acreditar nas tretas que vai contando à turba nestes tempos difusos e erráticos e com muito pouca qualidade intelectual.
- Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas os verdadeiros amigos permanecem e nunca se esquecem.
- Feliz Ano Novo Amigo José Covas e, já agora, ao Luís de Camões - e a todos os leitores deste blog e aos portugueses em geral: os do burgo e os da diáspora.. Como se vê - só tenhos amigos ilustres...