quarta-feira

Humildade não é passividade

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Se alguém te ferir na face direita, oferece também a outra, dizia S. Mateus. Voltamos ao assunto das presidenciais, ou melhor, ao contexto que irá explicar a razão por que Soares se vai estampar contra um muro cheio de espinhos que o encaminhará para um tanque repleto de alcool. É inevitável. A população que em tempos o elegeu será agora a mesma, com mais uns acrescentos de novas gerações intervalados com outras tantas abstenções das velhas, que o irá crucificar na votação de Janeiro próximo. É tão certo quanto Portugal viver uma profunda crise, económica, social e, acima de tudo, moral. É tão certo como Sampaio detestar Soares... Esta reflexão procurará mostrar porquê. Não raro dizemos que as pessoas humildes são passivas, só engonham e ninguém as teme. É uma forma de encontrar algo amável para se referir a esse tipo de pessoas - incapazes. Uns empata-f...., como se diz na gíria. Ora foi precisamente isto mesmo que Soares tentou mostrar, ad nauseaum, na entrevista que fez a Cavaco na semana passada. Digo entrevista, porque o desvairo de Soares conduzio-o a isso mesmo: um entrevistador, bastante medíocre, aliás - como a sua própria intervenção - na linha do seu hábito e costume... Raramente, admiramos a humildade, porque a consideramos o exacto oposto da agressividade e competência - que associamos ao sucesso. Foi isso que Soares tentou fazer do início ao fim da dita entrevista, sem sucesso, naturalmente, pois esses valores não colam - nunca colaram - à sua pessoa nem às suas políticas. Não quero aqui significar que Cavaco se fez (ou se faz) propositadamente humilde diante outros, seja para assim se vitimizar e capitalizar votos; seja porque tem uma auto-estima baixa e desconhece Camões, Vieira, Pessoa ou Eça - e só sabe - "razoavelmente" de economia. Pois como sabemos, e Soares teve o cuidado de o relembrar, Cavaco não é nenhum prémio nobel, para isso basta-nos a desgraça do Zaramago - que ainda - segundo consta - finge que aprende as regras mais básicas da gramática e lá vai copiando uns temas sonantes, não raro gamados à Bíblia que, curiosamente crítica - e que depois adopta como projecto de romance. E assim vai enganando os papalvos que compram aquelas mistelas, os mesmos que jamais saberão o que é ler um livro interessante ou sequer bem escrito. Desta feita, não se pense que aqui edifico sem limites a ideia de Cavaco. Pois acho-o, tão somente, o mal menor nas actuais circunstâncias políticas do país - que tenta sobreviver no contexto fragmentador de globalização competetiva. Mas porque razão Cavaco não estrilhou? Temos uma teoria para isso: em 1º lugar porque não tem uma oratória eficiente, nem o seu improviso é criativo, combativo ou sequer muito estruturante. A esta debilidade se associa algum medo dos dísparos dos adversários, que confessou serem muito superior em termos de oratória. É uma confissão desarmante e inteligente. Cavaco teve, pois, algum medo. Medo de si próprio, medo das suas próprias fragilidades intelectuais e oratórias. Embora fosse interessante que ele questionasse toda a putativa auréola de competência política que Soares assacou a si próprio, de forma artifical, é claro!!! E quando cunhou Cavaco de "razoável" economista e de não ter conversa nenhuma, só faltando chamar-lhe estúpido ali em directo, interrogo-me porque razão foi tão longe a cobardia de Cavaco???? Deveria, nesse instante, dizer que Soares nunca passou dum medíocre advogado e dum político trapalhão que sempre foi; e assim foi por causa do berço que teve, das condições materiais que o ampararam e depois - a meio da sua vida - pela virtude que teve em criticar Salazar e à emigração dourada a que se votou. Mas Cavaco teve uma paciência inaudita. E isso ao mesmo tempo enfureceu-me e apaziguou-me, curiosamente. Pois com a idade concluimos que ganha sempre aquele que não se enerva; aquela que nunca levanta a vox; aquele que não ofende nem lança boatos. Foi, precisamente, esse o papel de Cavaco na tal entrevista a três - onde Soares revelou a sua grande frustração reprimida: não ter sido jornalista. Foi uma pena, podia ter-nos poupado - e a Portugal - a uma gestão tão danosa nas suas opções macroeconómicas. Terá sido por acaso que Cavaco fez tudo como fez? Julgo que não. Pois Cavaco é um político profissional, é cerebral e antes de falar pensa e medita; aqui distancia-se do trapalhão Soares - que raramente pensa e nunca medita. E parece que a sua entourage afina pelo mesmo diapasão. Mas o ponto crucial é este: Cavaco sabe, sabia, que o que faz uma pessoa ser importante não é o status e o poder, mas a capacidade de ouvir e de servir os outros. A verdadeira humildade reside aí, na confiança em si mesmo. Defender sem ofender, mesmo com modéstia - o que levou Soares a atacar indiscriminadamente Cavaco, pois é o elo mais fraco da cadeia - o que faz dele uma ostra insegura, prestes a ser engolida pelo predador. Soares será sempre aquele player que a meio do jogo de xadrez, a perder, se levanta para fazer duas coisas: ofender toda a gente e dar um pontapé no jogo que sustenta as peças, que segura (ainda) a sua antecipada derrota. Sempre foi um homem irado, e quem sabe um pouco de psicologia decifra isso em três tempos. Os assessores de Belém contam o resto... Seria interessante que um dia os assessores de serviço do Palácio Rosa - caso tivessem coragem,referimo-nos aqui a Joaquim Aguiar ou Carlos Gaspar - pudessem contar as suas impressões sobre os vários PR que serviram durante quase a 2ª metade do séc. XX, tal é o tempo que os eterniza nesses postos. Claro que J. Aguiar, que tem mais sangue na guelra e é mais prolixo, rompeu em devido tempo com essa xarada e saíu - ou não foi convidado, o que vai dar ao mesmo. O diagnóstico não andaria muito longe desta linhas: Soares não sabe o suficiente acerca de coisa nenhuma. É um especialista em generalidades, é um charlatão da política que tem feito das circunstâncias um trampolim para a sua carreira pessoal e política. Soares ainda terá de aprender uma lição comezinha que, pelos vistos, o seu dir. de campanha - S. teixeira também não lhe a consegue explicar, antes acentua. Essa lição é precisamente a humildade, essa atitude de abertura ao conhecimento, de devoção do outro, de querer servir - e não servir-se da política - como tem feito toda a sua vida. É, aliás, essa a mensagem bíblica - que Soares já ouviu falar, mas desconhece em absoluto. Ao invés, e para mostrar que é um verdadeiro agnóstico, Soares depois de esbofetear a face direita do seu adversário, prepara-se imediatamente para agredir a face esquerda. Ora isto é tudo menos uma postura digna. Isto é o melhor que Soares é capaz de oferecer. Isto é Soares - ele même... E Cavaco? Como avaliar em profundidade toda aquela entrevista feita a Cavaco? Sobre isso penso o seguinte: Cavaco é distante, algo inseguro, algo ignorante e falho de uma cultura humanista diversificada que lhe rouba flexibilidade e maleabilidade oratória. Todos os sabemos. Economia só não basta. Ele precisa de entremediá-la com qualquer coisa mais - que não seja pão e azeitonas, nem bolo-rei manjado de boca aberta. Pois para isso, já temos a enfardadeira do Soares que nos deu abundante exemplo comendo o dito bolo pelas ruas de Campo de Ourique - que é a zona de Lisboa de maior densidade "cagalhoal" - onde as tias da kapital levam os seus cãezinhos a fazer o seu có-có - que depois não apanham. E daqui não decorre nenhuma comparação, nem sequer analogia ou paralelismo. É apenas uma coincidência.. Pois eu sempre detestei Campo de Ourique - por causa da Rua Ferreira Borges -; lá se passa uma eternidade naqueles semáforos - até atingir as Amoreiras do arqº Tomás Taveira. Desconhecemos, contudo, se foi este quem fez a fôrma aos bolos rei que o dito Soares tanto aprecia..., agora em versão Campo d'Ourique... Quanto a Cavaco - julgo que não lhe faria nada mal um curso intensivo de cultura portuguesa, um pouco como fazia Agostinho da Silva - nos seus passeios peripatéticos com Soares (a pedido do pai deste - que o sabia cábula, lambão e inculto). Pelos vistos, os esforços não granjearam qualquer sucesso. E tal não se deveu, certamente, ao grande filósofo e pensador - de que tive o privilégio de ser amigo - mas tal decorre tão somente da inépcia do aprendiz - que se calhar também é maçon, apesar de pedreiro não ter rigorosamente nada...e até ser bem capaz de confundir um esquadro com um nível, e ambos com um prumo - com que medirá a sua verticalidade... O problema aqui é arranjar um substituto à altura para Cavaco - que fizesse aquele papel estruturante. Há quem pense na esposa, dado que é professora de português..., mas também há defenda que aquele atraso congénito deriva precisamente daí. Daí o impasse cultural a que Cavaco chegou. Daí o nó górdio em que se vê envolto. Que fazer, então? Continuar a ser humilde, só ... não basta!!! Apesar de nos ter revelado que a sua bondade e amor é superior à maldade e ódio - que Soares revelou até à exaustão. Por isso perdeu uns bons milhares de votos. Uma compilação dos clássicos da cultura portuguesa depois romanceada em versão económica, talvez fosse útil a Cavaco. Assim, teríamos a garantia que ele leria os escritores e pensadores de maior vulto nacionais. Converter também Os Lusíadas em BD também ajudaria; traduzir Vergílio Ferreira para macroeconomia e Lobo Antunes para microeconomia seria uma esperança. Mas talvez valesse a pena empreender um compêndio condesando os quatro maiores vultos: Camões, Vieira, Pessoa e Eça - num grande manual de economia política universal - que narrasse os feitos dos tugas - dentro e fora de fronteiras, com a história do défice e das contas públicas; com a evolução romanceada da balança de transações correntes, dando conta do valor das exportações & importações, da trajectória do PIB, das taxas de desemptego bem como de toda a estatística que quantifica a qualidade das infra-estruturas sociais, redes viárias e muitos outros indicadores de desenvolvimento humano que fazem as alegrias de Cavaco. Tudo isso poderia ajudar Cavaco a ser mais solto sem, contudo, indiciar um processo de soltura verbal que o transformaria num agente verdadeiramente bafiento. Afinal, Cavaco - e oxalá haja fundos para fazer essas compilações da história da cultura e da economia nacionais - sempre poderá preferir uma vida mais curta mas repleta de humildade e amor, do que uma existência soarista - cheia de fanfarronices e troca-tintas. No fundo o que é a humildade senão a força sob controle. Talvez seja por isso que eu vote em Deus, ou melhor, em Jesus, só não sei ainda que lugar ocupa na tabela de voto...
  • Isto é um absurdo
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