Entendimentos pré-políticos: tributo a JESUS
Alguém sabia que quase tudo o que fazemos na vida se baseia simplesmente na fé. A maior parte das nossas decisões é tomada inicialmente em razão do que sentimos ou cremos. Só depois racionalizamos essa fé e essas crenças e opções. Alguns homens na história usavam parábolas para nos obrigar a lidar com as nossas crenças, e não com raciocínios lógicos.
Portugal vive agora um momento de campanha eleitoral verdadeiramente dramático: por um lado o país está exangue - pois está há muitos anos vivendo uma crise múltipla (na economia, na e na esfera social e moral); por outro, as propostas e a natureza dos candidatos políticos fazem lembrar aquelas relações dos casais divorciados que tentar recomeçar de novo. É sempre mais do mesmo em Portugal, tudo está tão esquentado que a novidade em Portugal é um fenómeno incapaz de se reproduzir.
Vem isto a propósito da natureza dos candidatos políticos, neste caso em Portugal. Julgo, a avaliar pelas propostas dos candidatos, que há poucos sábios no burgo. E nós sabemos como essa sagesse deve ser humilde, raramente humilde. E isso não encontramos nos candidatos presidenciais. Todos eles me parecem falhos de saber para ocupar um cargo que envolve tudo e nada ao mesmo tempo. Contudo, nesse ranking aquele que me parece pior posicionado é M. Soares, seguido de Jerónimo, que deveriam ser elementos de um teatro que deveria colher aceitação na Cornucópia ou na Barraca, nunca na sociedade portuguesa.
Cavaco é aceitável, mas deveria fazer um esforço suplementar, ler alguns clássicos, não citar T. Blair, ser menos economicista e mais estratégo e visionário. Olho em redor e só vejo um deserto de areia fina que cega ainda mais.
Então, a pessoa que vejo verdadeiramente sábia e humilde para colocar Portugal nos eixos é Jesus. Que nunca escreveu um livro, logo estaria em desvantagem contra M. Soares que parece já ter escrito umas coisas sobre a globalização - que é a metáfora da conjuntura e se utiliza recorrentemente quando se desconhece a conclusão de um dado assunto, ou para meter uma bucha ante os imensos lapsos de memória, pois chegar aos 80 com aquelas frescura é obra. Soares até poderia ser o ícon da globalização - sem, contudo, a saber explicar. Mas com sorte terá sempre Cavaco a seu lado para lhe dar uma boleia, assim Soares pergunta e Cavaco responde. E a turba bate palmas.
Por isso, é que é bom ir para fora do país uns tempos. Quando regressamos temos sempre a sensação que vemos tudo mais claro, mais limpo, mais cristalino - mesmo que que estejamos a olhar para um montão de nuvens cor de carvão - que é o que me faz lembrar imediatamente o discurso de Soares, que é exactamente igual ao de Cunhal - quando era vivo. Só vemos a casa quando saímos dela, como dizia o maldisposto do Vergílio Ferreira - alí na Av. de Roma - nos tempos em que eu passava lá boa parte do meu tempo, razão do meu espaço. Pois até isso morre com o tempo que passa.
Mas dizia que Jesus nunca escreveu um livro, e falou sempre por meio de parábolas. Mas também não confundamos aqui essas parábolas com as redondas palavras de Sampaio, que parece ter sido PR de Portugal, ou ainda é. Noto que só me lembro dele quando demitiu um tal de S. Lopes - que parece ter sido PM quando Barroso traíu Portugal.
Contudo, estas notas parecem-me relevantes porque Jesus além de sábio não era arrogante. E hoje o que se encontra mais é pessoas que reunem as duas "virtudes": arrogância e impreparação cultural e humana.
Valerá, pois, a pena meditar por que razão Jesus era o candidato ideal para Portugal. Era confiante sem ser arrogante, depois acreditava em valores absolutos sem ter a rígidez de Cavaco, mas tinha a clareza de Sócrates (o filósofo). E tendo essa clareza acerca da sua própria identidade não teria de passar a vida a julgar os outros, como bacocamente faz Soares...
Mas isto não explica (ainda) a razão pela qual Jesus daria um bom candidato a locatário do Palácio de Belém. Vejamos, pois, porquê: com efeito, Jesus dispunha de um conjunto de técnicas psicológicas que utilizava e estamos hoje a começar a entender. Em lugar de dar palestras na Gulbenkian que não servem para nada, salvo para o status da Fundação e o caché dos oradores, ele era humilde e dizia o que queria através de simples histórias.
Falava de uma forma que levava as pessoas a ouvirem atentamente, pois sabia o que as fazia querer escutar. Jesus era um verdadeiro mestre, apesar de não ter frequentado a faculdade - que não existia naquela época. Estas qualidades não as reconheço em nenhum dos candidatos a Belém. Talvez Cavaco e Louçã apresentem doses consideráveis que mereçam nota de registo.
Mas, de facto, Jesus foi um exímio e poderoso comunicador porque compreendia o que a psicologia nos está a ensinar hoje. Ou seja, Jesus sabia que baseamos a nossa vida mais no que acreditamos do que no que sabemos. E é aqui que bate o ponto crucial desta pequena reflexão acerca dos critérios que nos facultam os entendimentos do mundo em que vivemos.
Sem olharmos para o espelho retrovisor da história recordamos que as críticas de Jesus mais severas eram dirigidas aos professores de Religião e Moral - que fez muitos traumas a colegas meus no liceu. Muitos deles são hoje padres - e alguns deles foram acusados de pedofilia.
Por tudo, desejaria ver Jesus sentado na cadeira do Palácio Rosa, em Belém. Estou certo que Jesus não criticaria ou censurava os outros pelo conhecimento que possuíam, mas pela arrogância que demonstravam. E é curioso que seja Soares que passe a vida a acusar Cavaco disso mesmo quando, afinal, é ele próprio quem é o seu fiel autor. E também o mais impreparado. Bom, mas sabemos que Soares sempre foi trapalhão, mas só se deixa enrolar que quiser. Julgo que hoje nenhuma mente ilustrada se inclinará para aquele lado da nuvem negra. Para aquele smog chamado Soares..
Para Jesus, assim como para o filósofo Sócrates, era claro que quanto mais aprendemos, mais deveríamos perceber que existem muitas coisas que ainda não sabemos. A arrogância sempre foi sinónimo de insegurança. E Soares espelhou ambas no outro dia - ante a paciência hercúlea de Cavaco. Essa entrevista - serviu para passar a ter ainda mais consideração pessoal por Cavaco.
Todavia, Jesus entendia que as ideias nunca reflectiam totalmente a realidade, e a sua pedagogia levou sempre isso em consideração.
Toda esta "estória" para quê, afinal? Até parece uma brincadeira luso-brasileira considerando aqui Jesus como um homem político que poderia conduzir Portugal a bom porto. Evoquei esta reflexão para traduzir o seguinte: a razão e as racionalizações vêem sempre depois da fé e das crenças.
Em função disto, acredito que se se desejarmos ser comunicadores um pouco à imagem e semelhança d'Ele - precisamos de aprender o que Jesus sabia a respeito da relação entre o CONHECIMENTO e a HUMILDADE.
Já pensaram por que razão os grandes pensadores são (quase) sempre humildes. Será, porventura, por eles cedo compreenderam que a Vida está mais ligada à fé do que ao conhecimento.
E como estamos no Natal - deixamos aqui esta reflexãao para Ele... Caso exista e queira aparecer - eu sempre vou melhor acompanhado... Just in case. Depois - sempre poderei recomendá-lo aos amigos mais agnósticos que acabarão por se converter...
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