quarta-feira

O ser, o ter e o fazer. O sentido da troika

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  • Julgo que era Eça de Queiróz que dizia, em face de um determinado problema, que a culpa dele não era "sua" nem "minha" mas das circunstâncias. Ora foram precisamente as circunstâncias que há dias me empurraram para visitar um familiar que estava doente. Nessa visita juntaram-se mais duas pessoas, também idosas. Comigo éramos quatro. Eu na "casa" dos "quarentas" e as outras três pessoas tinham todas mais de "setentas" e menos de 100. O século estava ali, parado naquela estalagem da vida em declínio galopante. Impressionante!!! Ali estava dizendo banalidades sobre a vida e a falta dela, as falhas de saúde das pessoas, que agora se somavam e confundem às falhas de saúde da própria economia e do País.
  • Depois calei-me para tentar perceber melhor o que pensam os mais velhos. Cedo compreendi que havia alí algo de mais profundo naquela conversa. Aquelas três pessoas representavam três dimensões: o Ser, o Ter e o Fazer. A dada altura, ignoraram-me por completo, talvez por não ser idoso e/ou compreender o que é esse estatuto ou representa essa (madura) condição humana. Ter mais do dobro da idade tem destas vantagens..., conclui para os meus botões!

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  • Desse modo, para uma dessas pessoas o SER - representa a experiência de estar vivo e lúcido, ou seja, viver sem guardar os sapatos no congelador ou a placa dos dentes na dispensa, ou ainda não confundir o nome da mulher com o das amantes; o TER - representa a relação que temos com as outras pessoas e o universo. Partilhando com elas o espaço comum; e o FAZER - remetia para a lógica do movimento e da energia, essa tal actividade criativa que flui através de tudo e que alí, aqueles três idosos, já se queixavam não dispôr.

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  • Ser, Ter e Fazer eram os pontos cardeais daquele triângulo que sustenta as nossas vidas. Afinal, era tudo de mais vital e essencial que estava ali a conversar, a calcular o risco e a incerteza, como se do mercado de acções se tratasse... Todos, pela palavra e com a vénia ao respectivo "deus", procuravam gerir a vida restante que há (ainda) por viver.
  • Percebi que nenhuma daquelas dimensões conflitua entre si, todas coabitam ao mesmo tempo: Ser, Ter e Fazer.

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  • Mas também percebi, olhando para o choque diário da realidade, que as pessoas procuram viver ao contrário, "marrando" umas com as outras, como composições da CP desgovernadas. Ou seja, as pessoas menores, as "pessoinhas" - vivem obsecadas em ter mais coisas ou mais dinheiro para fazer cada vez mais o que está na moda, crendo assim que essa é a via para a felicidade.
  • Aqueles três idosos deram-me, afinal, uma lição de vida. Uma lição que nunca consegui condensar num doutoramento, em dois mestrados e numa licenciatura. Aqueles três homens "maduros" - testemunharam que as coisas funcionam de forma inversa à finalidade inicial para que foram concebidas.
  • Hoje, confesso, até pela minha (ainda) breve experiência de vida, que faço um esforço diário para não fazer colidir aquelas três dimensões da Vida procurando, assim, harmonizar o mais possível o Ser com o Ter e o Fazer.
  • Mas como é que isto se consegue, inquiri eu -: representado ali naquele ponto minúsculo e estático dentro do triângulo? Julgo que esse é um dos mistérios da vida. O outro é saber onde é que Deus anda, onde pára, a que horas sai e entra, quem são as suas companhias e, já agora, se tem Tm ou usa mail...

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  • Por último, e ante o vazio de ideias e de pessoas que pautam estas eleiçõess presidenciais, que mais parece uma visita guiada de Bill Gates à "sopa dos pobres" - alí aos Anjos - interpelo-me como seria um blog feito por Deus. Hoje, porque está Sol e não há nuvens, a única conclusão a que chego é que seria todo azul... E mais não digo, porque também não sei!!!

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