Mudam-se os tempos..
- Volta e meia a agenda comunicacional do jet-(in)formativo manda cá para fora umas notícias que os juízes também reconhecem. Os visados são, naturalmente, alguns políticos de palmo e meio que se portam mal com o fisco, com a plebe, enriquecem fácil e rápidamente, intrigam no partido, frustram as expectativas de alguns poderosos ou, simplesmente, marginalizam os restantes invejosos que, dentro do mesmo partido, vigiam e querem trucidar os que já lá estão, e só aguardam uma oportunidade para os liquidar, mesmo que para isso tenham de recorrer ao boato, à denúncia, à chantagem ou até à ameaça, uma vez que a extorsão agora caiu em desuso...
- Por isso a política-partidária sempre me meteu nojo em Portugal, e, agora, mais do que nunca, tais são os cromos sabujos que preenchem os lugares de direcção e de responsabilidade nessas esferas. Na prática, são os mais incompetentes que sobem, pois são os únicos que têm paciência para esperar anos a fio, e os únicos que também se submeteram às múltiplas humilhações que o contexto exige. Começa-se nas associações de estudantes, segue-se para as jotas - e aí os burros perpetuam-se, e levam 7, 8 anos para concluir uma miserável licenciatura. Depois o destino e o cunhismo instituído encarrega-se sábiamente de os remeter para o Parlamento nacional ou para a Europa, ou ainda para alguma assessoria nalgum gaminete ministerial... Cavaco, conhecendo toda essa lenga-lenga pôe à margem toda essa tropa-fandanga que ele conhece à distância, e se aproxima dele como os parasitas das lombadas dos Búfalos no Parque Nacional da Gorongosa, para esmifrar o sangue aos quadrúpdes que pastam mansamente, antes que os leões voltem a atacar e façam outra carcaça, depois plantada na paisagem..
- Mas o ângulo que aqui avalio é, agora, outro: pois enquanto que em Portugal os crimes de colarinho branco, praticados à sombra de poderes e de funções políticas, parlamentares ou outras no domínio público - são, primeiro, ventilados na imprensa e depois (para dar hipótese ao arguído em estruturar a defesa ou até zarpar do país, se fôr o caso..), pouco tempo depois, esquecidas pela opinião pública; ora, na América do séc. XX a coisa seguia outro trajecto nos caminhos da mafia.
- Recordo que Al Capone, - o homem que se gabou de ser o manda-chuva da polícia, dos caminhos-de-ferro e das escolas de condução que então despontavam na República-Imperial (um título que o general Lourero dos Santos roubou a Raymond Aron) - se confrontava com os agentes governamentais que o queriam prender por fuga ao fisco e outros crimes fiscais menores... Sucede, porém, que a preocupação de Capone não foi com o Estado norte-americano nem com os seus agentes que o queriam prender, mas sim com três colaboradores que ele considerou serem desleais à "família" - e que poderaim conduzir ao seu derrube.
- Foi então que Capone teve a gentileza de convidar esses três colaboradores para sua casa. Pois a tradição siciliana exigia sempre hospitalidade antes da execução. E Capone ofereceu um belo jantar a esses três cavalheiros, que acharam a refeição soberba. Logo depois, esses três colaboradores foram espancados, e mais tarde o médico legista relatou que esses corpos tinham contusões por todo o corpo, não havendo uma única parte do corpo que não tivesse um osso partido. Tudo isto, claro, antes de serem abatidos com um tiro na nuca.
- Estes eram os métodos que Capone utilizava para com os "seus rapazes", quando entendia que eles eram desleais à causa. Hoje, interrogo-me cheio de medo, encostando a um canto do meu quarto e com os joelhos a tremer e a roer as unhas, se estes métodos um dia singram cá - entre a nossa alta majistratura - que, de um momento para outro, e para se vingar das desconsiderações sucessivas a que o poder político a votou desde o 25 de Abril, - numa espécie de pulso forte dos juízes, reconstroem, no terreno, aqueles métodos sicilianos... Que passariam a aplicar aquelas leis mafiosas a fim de fazer vingar a justiça.
- Quantos deputados, ministros, ex-ministros, directores-gerais, empresários e conexos teriam de emigrar. Quantos????
- Por isso quando vejo os jornais anunciar que o político A ou o político B estão a contas com a justiça, acusados de crimes fiscais, acusados de baixa, média ou alta corrupção (activa ou passiva) - dou uma gargalhada e recordo Nicolau Maquiavel. Sempre ele a espreitar a roda do tempo. Pois é ele que nos diz a verdade, e esta remete-nos para o seguinte:
Para um homem que, em todos os aspectos, queira desempenhar profissão de bondade, estará condenado à ruína entre tantos que são maus. Assim sendo, um príncipe que queira manter-se terá de aprender a não ser sempre bom, mas a usar a bondade conforme a necessidade.
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