Restauração, para quê?
Em Janeiro de1641, reuniram-se as cortes em Lisboa para confirmar a proclamação de D. João IV. Nessa assembleia foram tomadas medidas de segurança e defesa do país, pois já se contava com a guerra que a Espanha ia declarar a Portugal. Em seguida, foram enviados embaixadores a várias nações, com os quais se realizaram tratados de aliança e que começaram a reconhecer a nossa independência.
Sucede, porém, que a nossa "querida" vizinha Espanha não abandonou a ideia de reconquistar Portugal. Começou por nos hostilizar até 1644 com pequenos recontros na fronteira; eram, afinal, os primeiros preparativos para a Guerra da Restauração. Foi em Maio desse ano, que se deu a 1ª batalha importante: O exército português, comandado por Matias de Albuquerque, invadiu a Espanha e desbaratou, em Montijo, as tropas espanholas.
No domínio internacional, e durante esse reinado, regressaram ao nosso poder grande parte das possessões que havíamos perdido: Em Marrocos, recuperamos Tânger; Salvador Coreia de Sá reconquistou Angola e S. Tomé aos holandeses; no Brasil, também voltava à nossa posse Pernambuco, Baía e Maranhão. Apesar de Ceuta, Malaca e Ceilão perderem-se para sempre.
Convém salientar que nesta data, que nos concede um feriado a que já ninguém liga mas que todos usufruem, conviveram com o rei D. João IV – homens de grande valia intelectual e moral. Destacamos aqui o jesuíta Padre António Vieira, uma das maiores glórias nacionais, não só como orador sagrado, mas também pelo seu ardente patriotismo e superior talento. A ele se deve a adesão do Brasil ao movimento libertador de 1640 e os bons êxitos alcançados na França e Inglaterra, em favor da mesma causa.
A Guerra da Restauração foi, pois, uma terrível luta pela independência, que travou inúmeras batalhas, sempre gloriosas para as armas portuguesas. E talvez tenha sido essa determinação que nos tenha ajudado a vencer Espanha, uma potência europeia de créditos firmados que procurava dar cartas em toda a Europa no séc. XVII.
Impunha-se aos governantes portugueses, após essa penosa reconquista, que nos humilhava colectivamente e nos esbulhava em impostos no âmbito das nossas possessões ultramarinas (desviadas para Espanha), enviar embaixadas a todos os inimigos de Espanha, em particular à França do ministro Richelieu que queria alargar a sua influência na Europa, e à custa de Espanha, evidentemente. Era a doutrina do Balance of Power – i.é, do equilíbrio de poderes que começava a fazer a sua trajectória nos conflitos futuros que marcaram as guerras europeias do próprio devir histórico até à era global em que vivemos.
Ciente dessa preocupação, que era um imperativo de sobrevivência nacional, o rei D. João IV, no 1º de Dezembro enviou a França uma breve relação do que se passara em Lisboa. E a 21 de Janeiro de 1641, D. João IV credenciou como embaixadores junto do rei de França Francisco de Melo e o Dr. António Coelho de Carvalho.
Tratava-se de uma embaixada incumbida de sustentar junto do rei de França os direitos da dinastia brigantina e propor-lhe paz e aliança, as quais haviam de abranger também a Holanda. Era, em suma, uma aliança que tratava de fazer por todas as vias a guerra ao rei de Espanha, por terra e por mar, propondo Portugal um ataque simultâneo dos franceses às províncias de Viscaia e Guipúscua, ao reino de Navarra, que de direito pertenceria ao Rei Cristianíssimo de França, e ao Milanês, dos holandeses à Flandres, e dos portugueses aos reinos de Leão e Castela, que estavam falhos de assistência.
A França não era nada “parva” acolheu bem as propostas portuguesas, e em Junho de 1641 celebrou-se o Tratado Luso-Francês, que não evitou a hipótese de paz separada.. O que não era bom para Portugal, apesar de o rei de França se comprometer, através da inclusão de um artigo secreto ao tratado, a prestar assistência às pretensões do rei de Portugal, desde que os aliados da França nisso concordassem.
Depois foi o que se viu, os franceses do pequeno Napoleão rasgaram os tratados e entraram por Portugal adentro e fizeram umas ocupaçõezitas, e nós ficámos mais cépticos e percebemos que na arena internacional que o Direito não vale rigorosamente nada, excepto para mantermos as regras da etiqueta e das boas maneiras iniciais. Depois estala o verniz, e andam todos à cabeçada. É da natureza humana, pouco ou nada haverá a fazer…
Hoje, interrogo-me sobre o que seríamos enquanto povo, enquanto homens e enquanto sociedade – se, porventura, não tivéssemos conseguido recuperar a nossa independência e ter feito a Restauração que nos dá um feriado…
Posso pensar que estaríamos hoje todos muito melhor:
• Com menos desemprego;
• Com salários mínimos empurrados para o dobro;
• Vivendo em melhores casas, comendo, bebendo e vestindo melhor;
• Com acessos à educação e saúde que hoje em Portugal manifestamente não temos;
• Inseridos numa economia maior, mais pujante e mais promissora
• Eventualmente, com melhor futebol e melhores governantes e empresários
- E mais amor-próprio e auto-estima - que hoje objectivamente (também) não temos
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