terça-feira

"Memórias Futuras" - um blog esbulhado...

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Meu querido sobrinho, quando hoje vi no Blog das Memórias Futuras o meu texto sobre a Costa dos Murmúrios ocorreu-me logo aquela frase que nesta época do ano se repete por tudo o quanto é loja: “ faça-me um embrulho bonito que é para oferecer pelo Natal”.

Image Hosted by ImageShack.us E realmente, os meus textos dentro daqueles “embrulhos” tão bonitos que tu sabes e tens o gosto de fazer ficam até todos vaidosos. Desta vez excedeste-te porque já não são só as vacas a abanar a cabeça, são cliques que se fazem e coisas que aparecem num prodígio de técnica informática que te peço, nunca me ensines para eu me continuar a maravilhar, como acontece com as crianças que ficam com os olhos esbugalhados de estupefacção quando o ilusionista tira o coelho do chapéu que segundos antes elas tinham visto vazio. É isso, a técnica hoje parece-se com a magia, uma e outra são a mesma coisa, ambas têm o condão de nos maravilhar. Não me ensines os pormenores, não me digas como é que o mágico fez aparecer um coelho de onde nada havia, porque eu quero continuar a encantar-me com a magia da técnica, faz-me sentir criança quando a tua avó me levava a mim e ao teu pai ao Coliseu e o mágico era o que eu mais gostava a seguir aos palhaços “faz-tudo” que eram de todos os artistas do circo os considerados menos artistas de tal forma que nem tinham um número deles. Image Hosted by ImageShack.us Entravam na pista para entreterem a miudagem enquanto os empregados desmontavam as jaulas onde o domador dos leões dava aqueles estalos com a ponta do chicote mais para impressionar a assistência que os leões que não lhes ligavam nenhuma ou então para montarem aquelas estruturas com uma rede enorme sobre a qual os trapezistas voavam de trapézio para trapézio. E enquanto os trabalhos de montagem e desmontagem iam decorrendo com toda a celeridade os palhaços “faz-tudo” andavam por ali, muito mal vestidos, ás bofetadas uns aos outros, às cambalhotas, tropeçando a torto e a direito, ralhando e barafustando e eu, criança e as outras crianças todas chorávamos a rir na maior homenagem que, inconscientemente, prestávamos àqueles artistas humildes que não tinham direito a um número seu. Nem a palmas e saíam a correr da pista, porque já estavam a atrapalhar o espectáculo que ia continuar com os artistas a sério que aguardavam nos seus esplendorosos fatos de luzes que o speaker os anunciasse, com aquelas expressões intermináveis que criavam o ambiente de “suspense” para o início do próximo número. Era assim no Circo do Coliseu quando eu era pequenino, continua a ser assim, agora que eu sou grande, quase velho, no Circo da Vida: uns, poucos, na ribalta, encandeados pelas luzes dos holofotes, os outros, a maioria, lá atrás, esquecidos, desprezados, na sombra dos bastidores e no entanto… todos são artistas.

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Obrigado pelas tuas palavras…aquelas do passado que se transformam nas omoletas do nosso futuro… Obrigado pelos prodígios da técnica e pelo resto.

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PS: Estimado Tio, aqui o fascínio é meu. Todo esse magnetismo que atribuis à tecnologia que não distingues da magia, decorre de uma factor-"K"apital. E o que dá verdadeiramente esse carácter psicadélico às narrativas são, em rigor, as tuas narrativas que eu já deixei de conseguir dissociar onde começa a tua história ou memória pessoal com o drama que o país viveu (e vive). Aqui o elemento baralhado sou eu, tanto mais que por vezes me interrogo onde começa o país real e onde termina as palhaçadas do coliseu. Sou eu que me sinto no circo, batendo palmas a um espectáculo absurdo, embora com os leões em redor, meio atentos, meio drogados. Apesar de tudo prefiro o circo do circo ao circo da vida. Aquele tem imensas virtudes e fazem-nos rir; este é trucidante para a generalidade da vida das pessoas. Logo, em lugar de as fazer rir, como no circo-do-circo, o que vemos é pessoas a chorar. Enfim, gente feliz com lágrimas..., que foi título doutro romance, tema para outro filme - perante os milhões de takes da história das nossas vidas.