sexta-feira

Ainda Peter Drucker: a teoria do Gestalt

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  • Sempre me interroguei por que razão certos cientistas sociais conseguem explicar o mundo com conceitos poderosos e luminosos e outros não. Deve haver uma razão para este desequilíbrio, para esta assimetria de potencial descritivo entre uns e outros. Por exemplo, Peter Drucker, que partiu há semanas, conseguia essa proeza admiravelmente. Alguns dos seus principais divulgadores em Portugal sabem-no, especialmemte aqueles que, de modo pioneiro, ainda nem se sabia o que era a teoria do management em Portugal, percebem essa diferença: os que conseguem agarrar no globo e pô-lo a girar no dedo indicador, explicando as suas interacções e interdependências (positivas e negativas); e aqueles outros que o ofuscam ainda mais, remetendo a explicação e racionalidade desse mesmo mundo para um emaranhado de conceitos, teorias, hipóteses e formulações que nos deixam ainda mais baralhados. Drucker tinha essa techné e essa arte.
  • De forma breve, poderíamos dizer que a razão para tal assimetria decorre do facto de Eça de Queiróz ser um grande escritor; e Zaramago (mau grado a analogia) ser um tipo mediano, apesar de ter sido nobilizado. Injustamente, aliás. António Lobo Antunes, Vergílio Ferreira, Agustina e até aquele anarca de Setúbal cujo nome agora me escapa - e muitos mais em Portugal estão a anos luz de Zaramago. Mas as coisas são como são, e quiz o destino que tenha sido um homem fora da história a conquistar esse prémio e a envergonhar o País, renunciando depois a representá-lo durante meia dúzia de anos, por entre ameaças e chantagens. Ao bom estilo da escola comunista, ao bom estilo do velho padrão soviético. Ao bom estilo de Zaramago.
  • Enfim, coisas de Zaramago, coisas de comuna empedernido, coisas de saneador de colegas jornalistas no Verão quente, coisas de criaturas sem alma que julgam que a têm. Nestas coisas, o carácter dos homens é d'ouro e os valores que guiam a sua conduta diz o resto. Portanto, quanto a Z. estamos conversados - que também é amigo dos (2) peitos desse grande "democrata" que é Fidel de Castro - que ainda mata e manda matar pessoas por delito de opinião. Julgo que se Stalin, Nikita, Mao, Bresniev fossem vivos - Zaramago tinha-os todos à cabeceira, e intervalava a sua peroração à luz da vela com leituras ao Al Corão e à Bíblia, além de glozar as notas de pé-de-página do Das Kapital do seu Carlos Marx. É este o sujeito que representa Portugal no capítulo nobilizado da literatura... Há desastres assim. Mas tudo poderia ter sido evitado, naturalmente!!! Bastaria que o Dr. Santana Lopes - então - não ligasse nenhuma a Zaramago e a publicidade que incidiu sobre ele - projectando-o para o espaço - jamais teria acontecido.
  • Mas não percamos mais tempo com estas criaturas da terra, que nasceram por mero erro genético. São as tais pessoinhas que não interessam nem ao menino jesus. Nem nas rifas das festas de província esses cromos hoje, com o comunismo desmacarado, já seriam rifados. O que aqui se procura sublinhar é um segredo. O segredo dos conceitos luminosos que permitem explicar cristalinamente o mundo e a lógica do tempo que por ele fluir ao longo de todo o séc. XX. Vejamos aqui a textura desse segredo de Peter Ferdinand Drucker - cujo pensamento e obra foi introduzido em Portugal por Jorge Nascimento Rodrigues. Num tempo em que ainda não se sabia o que era a gestão dos recursos humanos, a qualidade e outros indicadores que hoje pesam na gestão global de qualquer organização.
  • Que segredo é esse? Pode resultar da forma como se estrutura o pensamento e, a partir dele, se criam conceitos, se estabelecem causas e efeitos, correlações, se explica o passado e o futuro com o presente de permeio, como se contrasta a modernidade com a post-modernidade, como, em suma, se fixam as lentes conceptuais do futuro e se alinham as "configurações" (Gestalt) que permitem descodificar essas relações causais, esses processos, essas comparações que integram, hoje, o paradigma emergente que ainda se está a estabilizar na chamada Globalização Competitiva (GC) - que Drucker, infelizmente, já não chegou a aprofundar por força dos imperativos da lei inexurável da vida.
  • Julgo que esse foi um dos segredos de Peter Drucker (PD). A forma como ele integrou a cultura e o sistema de valores na ciência da gestão, na explicação dos acontecimentos através dessa disciplina mental, foi parte da chave desse sucesso. Uma disciplina, como dizia, que lhe permitia ver o conjunto, o todo e não apenas as suas partes constitutivas. Havia, pois, que saber contemplar o todo, identificar as figuras da carpete, e não apenas os seus rendilhados. O resto era enquadrado pela análise económica, social, política. Nesta linha, Drucker poderia aparecer ao lado do maior sociólogo da modernidade, que foi Max Weber, ao lado de T. Veblen, Joseph Schumpeter (um "mulherengo", como diz, o que tb não subtrai peso à qualidade da investigação) e de outros cientistas sociais de nomeada que sobreviveram à erosão do tempo.
  • Todas estas derivas apareciam em Drucker no sentido de explicarem certas realidades: as tendências industriais, as fronteiras do futuro, a América no séc. XXI, as novas fronteiras da gestão, e teoria do management do futuro, a importância do computador nos desafios sociais (que estava a despontar), em suma, Drucker pôs, de forma pioneira, as organizações em "sentido", e deu às empresas e à comunidade das organizações em geral (inclusivé às ONG - que depois integraram o chamado 3º Sector - para se diferenciar do 1º Sector identificado no Estado que visa a manutenção da ordem pública; e das empresas que representam o 2º Sector - associadas ao lucro). Drucker, com o impulso e a profissionalização da teoria do management, conseguiu centralizar esse mundo disperso de conhecimento e saberes num cross-fertilization permanente.
  • Mas isto não fazia dele um visionário, um futurólogo na linha do casal Toffler - que representa uma espécie de Zandinga e Gabriel Alves, para recitar a boutade do maoista Durão Barroso - hoje na Comissão Europeia - quando este teve de atacar o seu amigo Pedro S. Lopes - no congresso que deu a derrota a este. Depois foi "assassinado políticamente", quando o seu amigo maoista lhe transmitiui monarquicamente o poder, como se viu. E, curiosamente, foi-o pela mão do seu velho amigo-inimigo, Durão, hoje travestido com o seu próprio nome, e só responde se lhe chamarem José Manuel. Deus, porventura, perante o toque de finados, responderia: "eu sou quem cá estou!!!" Mas Deus é Deus, e um maoista num deixa de o ser...
  • As voltas que a vida dá. Mas isto não explica os contornos do segredo que buscamos na vida e obra de PD. E é aqui que termina a fronteira da gestão e da economia e começa a longa ponte da psicologia das organizações, disciplina muito importante na explicação dos conceito luminosos de Drucker. Julgo até que as melhores visões internas do mundo, acerca da mente do consumidor, do empresário, do político, do tecnólogo residiam, afinal, nessas teorias fulminantes que hoje podemos identificar com mais calma na estrutura do tempo e na sedimentação do pensamento psicológico de Peter Drucker. Daí a importância da psicologia, e quando aplicada à empresa - nasce a psicologia das organizações; e à psicopolítica - se aplicada aos fenómenos do poder - sua captura, manutenção e, se possível, reforço, só para citar o clássico Maquiavel - que foi outro teórico do manage(mente) da política da Idade Moderna - e cujo trabalho só foi verdadeiramente reconhecido post-mortem. Drucker, neste capítulo, foi bem sucedido. Já o seu colega e amigo - Karl Polanyi - morreu confundido com uma marca de detergente para lavar roupa. A história também produz os seus assassinatos culturais. E é pena...
  • É aqui, quanto a nós, que reside o grande sucesso (diferenciador) do pensamento de PD - relativamente a muitos outros teóricos do pensamento social e económico da 2ª metade do séc. XX. Drucker conseguia predizer o que ía na consciência do consumidor, e aqui residia também boa parte do comportamento que induz à compra/aquisição. Mas isto também não nos habilita a supôr que PD fosse um bruxo ou um adivinho. Nada disso!!!
  • O que Drucker fazia admiravelmente era o seguinte: a) perceber as relações de estímulo-resposta entre as pessoas que contavam e estruturavam os grandes agregados, os imensos mercados, as grandes organizações; b) depois enquadrava tudo isso por conceitos sedutores e com enorme potencial descritivo, era a emergência da sua teoria cognitiva, que, embora tributária da gestão, da economia e até da história - que foi por onde o seu divulgador em Portugal - Jorge Nascimemto Rodrigues - o "agarrou" - era na teoria cognitiva/psicologia que assentava o nervo de todo esse complexo explicativo - que fez um sucesso estrondoso e carreira no mundo inteiro.
  • Drucker era, assim, mesmo sem o saber, um praticante da teoria do Gestalt. Sem esta todo o terreno - a desbravar - no domínio da aprendizagem e do hoje designado e-learning - estaria minado. Drucker desminou esse terreno, e mais: abriu caminho à economia e à gestão para que se deixassem polarizar pelas vantagens das novas teorias cognitivas que a moderna psicologia das organizações trouxe à superfície. Os economistas tradicionais, os empresários pouco afoitos ao risco - ficaram "pedrados" - com tanta inovação conceptual e só lhe reconheceram valia posteriormente.
  • E mais uma vez caímos no ponto de partida que deu o sucesso a Drucker. O sistema cultural. Era aqui que residia a chave do seu tesouro - cujo código começava a abrir. Já que para PD o que verdadeiramente contava na esfera económica eram as atitudes, as convicções, as experiências anteriores, a compreensão íntima da realidade e de como, através dessa cosmovisão, se poderia fazer valer das situações, das ameaças e das oportunidades.
  • Portanto, para Drucker o que pontificava eram os padrões de comportamento que depois tinham repercussões nas esferas económica, social e política no rumo das sociedades e dos Estados. E aqui chegamos à nossa hipótese inicial deste blog acerca do génio inventor da teoria da gestão no séc. XX.
  • Drucker foi, afinal, (também) um teórico da percepção e da cognição, sem essas dimensões dificilmente teria formado os conceitos que efectivamente formou; sem essas variáveis na sua vida dificilmente Drucker teria dado atenção às constelações socio-económicas que fizeram (e desfizeram) toda a trágica história do séc. XX. Uma história feita de sangue e de guerras loucas e absurdas - cujos efeitos transvasaram para o milénio seguinte. O nosso.
  • O capitalismo, o fascismo, a liberdade, a democracia, a guerra - toda essa tralha e subida aos extremos (como diria Carl von Clausewitz) do séc. XX foram encaixadas naqueles conceitos e naquelas percepções. É aqui chegamos ao "ponto de encontro" desta reflexão. É o momento em que Drucker se dilui na teoria do Gestalt - que é um conceito alemão que não tem tradução exacta. Mas que significa mais ou menos "configuração", o "padrão" ou a "forma". Tudo conceitos-guia que interessaram os psicólogos da altura, revelando um extraordinário interesse intelectual pelo "todo" de uma coisa, de um processo, - em lugar de se preocupar com as suas partes componentes. Por isso, as variáveis do pensamento social e económico na obra de PD aparecem diluídas em conjuntos interpretativos que destacam os aspectos globais em detrimento dos enfoques de elementos individualizados de modelo lineares.
  • Por tudo o que aqui disssémos sobre a vida e obra de um dos maiores pensadores sociais do séc. XX - julgo que podemos aqui sublinhar uma ideia simples. A saber: em toda a sua vida, pelas circunstâncias que passou, pelas guerras (pessoais) e conjunturais que viveu (e foi quase um século que deu para ver os comportamentos de Hitler, Stalin e muitos outros grandes "democratas" de que Fidel é (ainda) um ícone vivo - e que tem em Zaramago um amigo fiel amigo apesar de viver em Espanha) - Drucker protagonizou a teoria do Gestalt - num grau muito apreciável.
  • E isso implicava compreender que os agentes económicos e sociais só actuam segundo padrões vocacionados para metas a atingir. Ou seja, perante uma compulsão interna, e foi essa tensão criadora em Drucker que gerou nele a energia criadora de que culminou em dezenas de conceitos, de hipóteses, de formulações, de correlações e outras tantas derivas indispensáveis ao alcance das metas que aqueles agentes sociais se propunham atingir no âmbito das actividades económicas.
  • Drucker sabia que a forma conciente e racional eram as únicas vias para atingir essas metas, resolvendo problemas e enfrentando os obstáculos nesse caminho. Por isso defendemos há muito que em Drucker havia algo simultaneamente de psicólogo (clínico e das organizações). Pois se atentarmos bem no interior de quase todos os seus conceitos detectamos muita pesquisa motivacional (nos conceitos de mercado, de conhecimento, importância concedida à educação, ao conceito de corporation, fim do homem-económico, sociedade do conhecimento, o futuro do homem industrial, enfim, o futuro do próprio homem) - tudo isso permite, hoje, reconhecer em Peter Drucker uma séria de técnicas oriundas da Psicologia - que nunca foram identificadas nem sistematizadas. Mas fica aqui essa pista epistemológica que poderá servir para outros fazerem teses de mestrado ou de doutoramento. Free.
  • E foi (também) através dela queImage Hosted by ImageShack.us PD chegou à economia, à gestão, à política e à teorização da sociedade civil - e do 3º Sector - que emanou dela e que moldou os últimos 15 anos da história política do mundo contemporâneo a partir do epifenómeno das ONG...
  • É a esta luz, portanto, que um cientista social genial chega à teoria do management pela mão da psicologia. E será, porventura, graças a esse universo de conhecimentos da psicanálise dos conceitos de Drucker que os homens de empresa compreendem (ou podem) compreender, hoje, que a racionalização da maior parte dos comportamentos dos agentes sociais e económicos a operar no sistema, decorrem dos valores e dos impulsos residentes no seu subsconsciente. Como os seus sonhos, os anseios, as esperanças e os temores. A economia e gestão derivam daqui. São "filhas" do sistema cultural.
  • Por tudo isto talvez possamos sugerir à comunidade que pensa estes materiais sociais que Peter Drucker foi uma espécie de Freud da economia e da gestão do séc. XX.
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A sombra de Freud na alma de Drucker
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Jorge Nascimento Rodrigues (JNR)

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Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Nota: Dedicamos esta reflexão e testemunho à memória de Peter Drucker e ao ensinamento invisível que bebemos dele ao longo do tempo. E também ao Jorge Nascimento Rodrigues, que está bem vivo, dentro e fora do Expresso, e ao longo destas três últimas décadas, cultivou e promoveu este intenso legado cultural em Portugal. Um dia, quando o Estado e as empresas acordarem da letargia em que vegetam, e compreenderem bem a importância de Drucker no “mercado das ideias” – talvez façam uma parceria para instituir o Prémio do Ano de Economia & Gestão Peter Drucker, o qual será bem entregue.