O espanto de Deus, sinal da minha ignorância
Como seria viver fora do tempo? Que natureza é que ele tem? Imagine-se que vemos todos os fotogramas da nossa vida ao mesmo tempo..., e não em sucessão.
Se alguém pudesse ver as coisas sob essa perspectiva, conheceria o futuro, e este é que é o principal desafio: conhecer o futuro, conseguir antecipar o devir. Nessas circunstâncias - passado-presente e futuro estão todos condensados no presente para cada umde nós, mortais..
Só que para nós, pequenos observadores lineares do tempo que passa, o futuro não existe, está sempre encostado ao devir. Nem (já) do passado nos lembramos. Vai daí - só podemos perceber o presente, este triste presente que já conhecemos e que nos enjoa. Basta olhar para os candidatos presidenciais.
Mas o que me fascina na minha ignorância de Deus - ou da imagem que fazemos d'Ele - reside no seguinte:
Creio que Deus conhece os eventos futuros, ainda indeterminados. E nisto ganha-nos em vantagem, obviamente. Deus conhece esses eventos não apenas nas suas causas, mas também nos seus acontecimentos reais. Embora eles se sucedam um após outro, o conhecimento de Deus não é sucessivo (como o nosso), mas instantâneo, e assim é visionado como um todo. O seu conhecimento, e agora evoco-o porque estamos no Natal, é aferido pela eternidade, o nosso é medido por uma bitola mais curta e comezinha.
Para Deus - essa eternidade condensa ao mesmo tempo todo o tempo, como algo que é conhecido por Ele com toda a certeza, mas não deixa de ser um futuro indeterminado para as nossas humildes cabecinhas - que nem uma causa e um efeito conseguimos enxergar. E o facto de ainda haver pessoas que concede alguma credibilidade a Soares para Belém é disso prova inequívoca.
Em suma: para nós, humanos só nos é permitido conhecer as causalidades do passado e presente, mas nunca os do futuro. Para nós os eventos têm de ser arrumados devagarinho e racionalizados de forma sucessiva; para Deus - esse grande desconhecido e de quem eu ainda não consegui sacar o telemóvel, o tempo é simultâneo.
Enquanto que nós temos um conhecimento seguro do passado; Deus tem essa segurança relativamente ao futuro.
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