António Costa respira política, nunca fez mais nada na vida senão política, por isso, e pela 1ª vez já quase no termo do seu particular mandato (em que perdeu as eleições, mas governa), sentiu-se politicamente isolado. Pois pela 1ªvez todos os grupos parlamentares se juntaram para dar razão jurídica e política aos docentes na avaliação do seu tempo de serviço, o qual tem sido deturpado, amputado e, desse modo, penalizando a vida e a carreira a milhares de profissionais da educação em Portugal que, anualmente, andam com a casa às costas por causa da incompetência e prepotência do ministério da Educação e de quem o tutela.
Este colete de forças em que Costa está fê-lo desenvolver um raciocínio simples em política: como sobreviverei no Executivo até ao termo do mandato, com um cabeça de lista fraco às Europeias e, por outro lado, como sobreviverei depois das europeias!? Eis o que verdadeiramente preocupa o PM.
Questões que um líder se coloca no sentido de saber como sobreviver políticamente à conjuntura e, se possível, atravessar a barreira do tempo curto e encontrar uma folga política mais durável no tempo (o tempo estrutural). Ou seja, A. Costa quer saber como poderá preparar a sua estratégia para ganhar as próximas eleições legislativas em Outubro, tendo, pelo caminho, um cartão amarelo nas europeias.
Aqui chegado, Costa fará um outro raciocínio político básico: ganhará Costa (e o PS) no plano socioeleitoral se desencadear (já) o processo de demissão do governo e a consequente convocação de eleições; ou perderá terreno político se deixar arrastar a actividade política do Executivo, especialmente com a complexa contestação social, até Outubro? Parece fácil a resposta a este pseudo-dilema.
Vistas as duas dimensões sociotemporais, Costa não tem dúvidas acerca de qual delas lhe trará mais conforto e ganhos políticos, ou seja, a via da convocação de eleições políticas já servem os interesses de Costa, enquanto PM da geringonça, e do PS enquanto partido de enquadramento e de apoio à acção do Executivo, uma vez que os partidos que o amparam na geringonça (BE e PCP) nem sempre lhe estendem a mão. E o caso do apoio à recuperação do tempo integral de serviço dos docentes ilustra bem esse apoio condicionado da geringonça ao PM.
E talvez seja este o cenário mais plausível que ocupou a mente do PM, bem como a reunião convocada por ele com o seu núcleo duro para equacionar a durabilidade de vigência do Executivo, confrontado que está com a aprovação dos anos de descontos na carreira dos docentes.
Em termos práticos comezinhos, e caso Costa e Centeno tivessem essa vontade política, bastaria cortar 5 ou 10% na afectação dos recursos que o Estado se prepara para financiar o Novo Banco, ou renegociar uma daquelas PPPs ruinosas das estradas ou da saúde - que geram rendas fixas escandalosas que têm empobrecido os portugueses, para encontrar as dotações orçamentais necessárias e justas para remunerar a classe docente, que tem sido esquecida, maltratada, desautorizada, violentada e desprestigiada nas últimas décadas em Portugal. Para a valorizar A.Costa e Centeno teriam que desenvolver essa vontade política que, manifestamente, não querem ter, além do braço de ferro com o líder da Fenprof, Mário Nogueira - com quem o governo trava uma guerra há anos...
Para o PM e Centeno são sempre cruciais o apoio quase ilimitados à banca, mesmo aquela que é corrupta e gere ruinosamente os recursos públicos no sistema financeiro português - que são de todos. Critério diverso é usado pelos mesmos Centeno e Costa - que usam e abusam para com essa classe de desgraçados que são os professores, e que quase têm de pedir licença para dizer que existem.
Mas Costa não tem só à perna os docentes, tem também os enfermeiros, os magistrados, os polícias, etc, etc... E, agora, também os motoristas de transportes de combustíveis, que apesar de terem um conflito laboral com uma entidade patronal, a ANTRAM, o seu reflexo espraia-se por toda a sociedade e a economia e produz efeitos devastadores na logística de bens e produtos no país.
Contra esta paralisação da economia nacional o Governo mostrou-se completamente incapaz de reagir, e quando falava nos tais serviços mínimos - tal revelou-se um argumento risível. De resto, o perigo de nova paralisação volta a colocar-se, ante a impotência do Governo em garantir que o país não paralise novamente.
Costa sabe isto e sabe muito mais, e perante tanta contestação social o PM pergunta-se se não valerá a pena mandar já a toalha ao chão e pedir a Marcelo eleições legislativas antecipadas.
Dito isto, e considerando o colete de forças em que Costa se encontra, o PM não hesitou em desenvolver o psicodrama que, no fundo, (1) consiste em apresentar um problema (o da classe docente e dos seus anos de serviço) como se fosse o mais grave da legislatura (e não é!!); (2) dramatizar a acção sindical desses players (fenprof) imputando a estes os males da governação e grande causa do desequilíbrio das contas públicas; (3) e, por fim, o PM tenta projectar na sociedade a ideia segundo a qual a razão do desgoverno das contas públicas, o agravamento do orçamento e da sustentabilidade das demais políticas públicas (saúde, ambiente, transportes, etc) ficaria comprometida acaso o Executivo acedesse nas pretensões dos docentes, o que seria um desastre para a economia e o regresso à austeridade. Eis a tese primária de centeno, o ministro das cativações.
Costa é, hoje, um homem isolado e acossado, e jogará neste tabuleiro para partir a espinha a Mário NOgueira e à fenprof, e dissuadir os professores das suas pretensões, por mais justas e legítimas que sejam.
A questão que coloco é saber que impacto terá o psicodrama de A.Costa na sociedade portuguesa. E aqui encontro duas possibilidades de resposta: (1) para as clientelas do PS, os mais acólitos e temeratos a resposta à mudança será intensificar a dramatização do psicodrama encetada por A.Costa a fim de que o processo de convocação de eleições legislativas antecipadas tragam ganhos políticos acentuados; (2) para os mais lúcidos, para aqueles que já leram os clássicos, entre os quais Nicolau Maquiavel, os mais neutros e independentes da sociedade, a teoria do psicodrama do PM não passa duma deriva urgente que o PM encontrou para sobreviver à conjuntura e, desse modo, preparar já as próximas eleições legislativas, sabendo que as europeias irão correr mal e os resultados, previsivelmente, estarão em linha com esse diagnóstico.
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