sábado

António Nogueira Leite quer jogar o Governo contra a parede...

... e exterminar de vez com o ciclo político socrático. Disso não restam dúvidas. E serve-se da sua dupla legitimidade para o fazer: a sua componente política aliada à sua componente técnica, de economista respeitado que cedo deu provas na sociedade.
Nogueira Leite foi o negociador do PSD com o ministro das Finanças, o objectivo era - e é - cortar nas despesas públicas, sob pena de os mercados agravarem mais a situação económica e prejudicar a vida aos portugueses. Por outro lado, Leite diz não ceder nos impostos e nas medidas de austeridade que o governo subscreveu, mas que no entender do PSD não estão a ser observadas.
É aqui que o caminho se bifurca: Leite - e o PSD - de que é conselheiro nacional com a vantagem de ser politicamente independente - não estão dispostos a ceder caso o Governo não altere a sua política de impostos e de tributação dura sobre os portugueses, pois o PSD sabe que o país real está farto de ser tributado, esbulhado por uma máquina fiscal e estatal demasiado acéfala com muita gordura e pouco músculo. O Governo, pelo seu lado, também não pode arriscar no póker dos impostos, pois saberá que caso vá a eleições - tratando-se dum governo minoritário e com grande desgaste - as possibilidades de perder o poder são, neste caso, superiores às verificadas no último acto legislativo.
Portanto, temos aqui uma alteração da correlação de forças entre PS e PSD, com aquele mais fraco e à beira de perder o poder pelo odioso do excesso de impostos junto das empresas e das famílias portuguesas, e um PSD mais vigoroso, mais enérgico - e também mais errático - mas, ainda assim, preferível 100 mil vezes ao PSD amorfo de Ferreira leite - que foi um erro acidental e de que não rezará memória.
Na prática, Nogueira leite vem agora cobrar a factura a Teixeira dos Santos por em Maio último ter permitido negociar o pacote que aumentou o IVA e o IRS, mas, é bom lembrar, e disso Nogueira Leite não se esqueceu, que essa concessão do PSD ao PS implicaria (que teve imensos custos políticos para Passos Coelho) - no futuro - que hoje é presente - o tal corte na despesa de mil milhões de euros ainda em 2010, cortes que não estão sendo realizados.
Tal implica que o Estado não consegue libertar recursos para a economia privada se financiar e internacionalizar e competir lá fora em boas condições de concorrência, o que penaliza a actividade económica nesta pescadinha de rabo-na-boca em que Portugal caiu.
E como desta vez o PSD está convencido de que caso vá a eleições captura o poder, o partido da Lapa não está disposto a - mais uma vez - perder a face e co-adjuvar o governo a viabilizar o OE para 2011. Por isso, não tenho dúvidas de que será o governo a ceder nas negociações que se irão realizar a fim de cumprir os acordos imperfeitos que PS e PSD fizeram, até para evitar - mais uma vez - a humilhação do regresso do FMI entre nós, a mais pura manifestação de incompetência de que não nos sabemos governar.
Mal comparado, seria como ter em casa uma mulher linda e pedir ao vizinho - de que até nem apreciamos - que fosse lá a casa fazer o "trabalho" por nós.
Creio que desta vez já não é a cabeça do líder do PSD que está sob a guilhotina política, mas sim todo o ciclo socrático que irá ser jogado neste próximo OE. E nisso Cavaco - no quadro das eleições presidenciais de 2011 - não hesitará em ajudar Passos Coelho visando o afundamento do porta-aviões do PS de que Sócrates tem sido o comandante (e Alegre - um modesto e mui oportunista actor político que leva no rosto a sigla garrafal - DERROTA).
Todavia, é útil registar que esta modificação da correlação de forças no xadrez político, não decorre da menor virtude de Sócrates ou da maior virtude de PPCoelho e do PSD (que não têm verdadeiramente um projecto para Portugal), mas sim duma percepção cada vez mais generalizada de que a composição da vontade e da motivação sociológica dos portugueses está a mudar.
Uma percepção que encontra correspondência nos factos se confirmarmos que os sentimentos colectivos passaram a flutuar mais do que no passado recente, hoje são mais desarticulados e dissociados dos dispositivos de regulação da vida social, i.é, do Estado a que chegámos e dos Estado que ainda temos.
E isso Sócrates talvez ainda não tenha compreendido, ou então pretende afastar com a barriga essa energia subjectiva e imputar o peso da responsabilidade de tudo de negativo que nos acontece à metáfora nebulosa da globalização predatória que, de fora para dentro, gera toda esta desregulação emocional resultante duma brutal taxa de desemprego aliada a uma ausência de crescimento económico neste Portugal à beira mar [mal] plantado.

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