terça-feira

Infelizmente, o dr. Mário Soares tem tazão. Sócrates não teve coragem política e Alegre afundará tudo com ele

Soares diz que Sócrates cometeu um erro grave ao vir anunciar já o apoio do PS à candidatura de Alegre - Por José Augusto Moreira
Mário Soares diz que José Sócrates cometeu um erro grave ao vir anunciar no passado fim-de-semana o apoio do PS à candidatura presidencial de Manuel Alegre. “No actual contexto político-partidário, julgo que Sócrates cometeu um erro grave, que porventura mesmo lhe poderá ser fatal e ao PS”, escreve o ex-presidente da República na sua habitual crónica das terças-feiras no Diário de Notícias.
Polémica. Críticos do poeta afastam-se da escolha de Sócrates. Mário Soares diz mesmo que apoio a Alegre pode ser fatal ao PS, dn
Resignados, descrentes, a guardar distância. Em três expressões se descreve a atitude dos socialistas contrariados com o apoio oficial à candidatura de Manuel Alegre. Na ressaca da reunião da Comissão Nacional, os críticos pouparam-se nas palavras, mas não esconderam a falta de "convicção" e a desconfiança num final feliz para o romance com o poeta.
O mais duro de todos foi Mário Soares. O antigo presidente da República escreve hoje num artigo de opinião no DN (ver relacionado) que a escolha de Sócrates pode revelar-se "fatal" para o seu futuro político. "No actual contexto politico-partidário, julgo que Sócrates cometeu um erro grave, que porventura mesmo lhe poderá ser fatal e ao PS."
"Como socialista, e pensando como sempre só pela minha cabeça, entendo ter a obrigação de dar a conhecer de novo aos meus camaradas e ao secretário-geral aquilo que penso", acrescentou.
Edmundo Pedro, que fez ouvir a sua voz crítica na CN, afinou pelo mesmo tom. "Alegre está cheio de contradições. Ele vai afundar-se. Nem chegará aos 1,2 milhões de votos da última vez e vai contribuir para o desgaste de Sócrates. Se tiver um resultado miserável será uma grande derrota para o PS."
O histórico socialista, que esteve com Alegre nas eleições de 2006, considera hoje que ele não tem "perfil moral para ser o candidato do PS". Ao DN, disse que o poeta "se desviou do caminho" quando fez a "aliança com o BE" e "tentou unir a esquerda - que sabia ser impossível". E acrescentou: "Foram manobras eleitoralistas que fizeram perder votos ao PS."
Alegre apresentou-se como candidato independente que queria unir a esquerda para impedir a reeleição de Cavaco Silva. Mas essa ambição pode ser o maior obstáculo ao projecto. Fernando Nobre, o outro candidato a Belém - que se diz ter sido encorajado por Soares -, avisou que Alegre vai ter de gerir "uma espécie de quadratura do círculo" na tentativa de conciliar os apoios do BE e do PS.
A mesma desconfiança é partilhada por muitos socialistas. Renato Sampaio, líder da distrital do Porto, que há meses considerava difícil o PS apoiar um "candidato que traz o Bloco às costas", admitiu ontem à Lusa que o poeta é a "candidatura possível à esquerda". Sampaio estava a parafrasear Alegre, que usou essa frase quando apoiou Sócrates, nas legislativas.
Cautela é também a regra com Vitalino Canas, Capoulas Santos e José Lello. Os três discordam da estratégia, mas prometeram silêncio para não irem contra o PS.
Alegre ainda não falou em público desde o apoio do PS, e Cavaco Silva recusou comentar os desenvolvimentos a meio ano da disputa eleitoral. Sócrates, sem se referir directamente ao caso, deu o tiro de partida da guerra. Ontem, num almoço com activistas gays, lançou uma crítica velada a Cavaco por causa da sua mensagem sobre o casamento homossexual.
Obs: O mais curioso notar é que Sócrates perderá mais quota de credibilidade (a ainda disponível) com a decisão pífia de apoiar Alegre a Belém do que própriamente com a necessidade de tomar as medidas de austeridade para sanear as finanças públicas. Alegre é um candidato contranatura, e o seu nome é tão problemático indo pelo PS como se fosse o candidato formal apoiado pelo BE ou mesmo pelo PCP.
Por uma razão simples que não convém ocultar: umas trovas, a luta anti-fascista e o seu papel histórico na fundação do PS não fazem dele o candidato com o perfil certo para Belém.
Alegre vive iludido e, mais grave, iludiu Sócrates a quem tirou a coragem de apoiar um verdadeiro candidato alternativo, por isso esta decisão será, inevitavelmente, o toque de finados do actual governo.

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