Relações luso-espanholas
Referimos noutras reflexões abaixo que quando a alta finança interfere no quadro das relações políticas bilaterais entre Portugal e Espanha, tudo o resto se pode deteriorar. Esperemos que tal não venha a suceder, porque as desvantagens seriam, em muito, superiores às vantagens, ninguém aproveitaria com este conflito em curso em torno da aquisição da Vivo, disputada entre a PT e a Telefonica no Brasil e no imenso mercado sul-americano. Desde a década de 80 do séc. XX que algumas regiões de Espanha passaram a disfrutar de um Estatuto de Autonomia, o que significa que têm a possibilidade de se autovernar, definir objectivos e formas de actuar em função de interesses marcadamente regionais, que não teriam caso se mantivesse o centralismo político prévio às autonomias. A região da Extremadura é um bom exemplo nesse sentido. Olhemos para ele. Com cerca de 400 kil. de linha de fronteira, a região da Extremadura parceriza hoje com regiões vizinhas em Portugal, Alentejo e Centro, o que permite um relacionamento com os dois lados da fronteira que já ultrapassou os tradicionais níveis de cooperação económico e social que decorrem da geografia política e de falarmos uma língua muito parecida. Não deve, pois, ser um episódio duma guerrinha pela aquisição de uma participação da Vivo - que hoje engorda a PT e a Telefonica, que deverá questionar todo o capital político e simbólico entre Portugal e Espanha nos demais sectores de actividade. Seja em matéria de rede de transportes, de que o TGV pontifica, seja ainda na esfera dos centros de investigação, relações económicas e culturais desenvolvidas. Mas para que estas acções de desenvolvam é necessário intensificar o conhecimento mútuo dos dois lados da fronteira, urge quebrar o gelo entre os dois povos e procurar sinergias que permitam implementar projectos e alcançar objectivos comuns. Fazer convergir os interesses regionais do Alentejo e Centro com a região da Extremadura, que tem crescido a olhos vistos, é um desiderato comum, que pode e deve ser promovido pelas instituições políticas de Portugal e Espanha, abrindo o caminho às empresas dos dois lados a criarem riqueza entre nós. E como é que isso se faz, na prática? Mediante divulgação de oportunidades nos dois lados, promovendo a cultura da Extremadura entre nós e solicitar que os valores nacionais sejam promovidos no outro lado, fazer mostras de produtos em feiras e certames, desenvolver missões empresariais mistas, promover a oferta turística e prestar apoio técnico ao empresariado nos dois lados. Tudo, no fundo, servirá para intensificar as relações políticas, institucionais, culturais, económicas e comerciais entre os dois lados, por isso seria útil que este affair PT vs Telefonica em torno da vítima Vivo - não contamine tudo o resto já realizado e que tem, seguramente, mais valor dos os milhões objecto de discussão para o controle daquela operação. ___________________________________
Vicente Amigo - tres notas para decir te quiero
Etiquetas: Relações Portugal Espanha, Vicente Amigo
<< Home