quarta-feira

O MEDO (múltiplo) em Portugal: causa de muita ruína e decadência

O critério que tem empurrado o nível decisório do PS em apoiar, pífiamente, o candidato apoiado pelo BE, o poeta Manuel Alegre, é bem sintomático de como as coisas funcionam em Portugal. O medo ainda é uma variável dominante na gestão das relações e expectactivas políticas.
Por paradoxal que pareça, o PS acaba por via a apoiar, ainda que contrariado e esmagado pelas circunstâncias, o candidato que não só andou a fazer campanha em 2009 de braço dado com o BE, como também aquele que derrotou Mário Soares nas eleições presidenciais do passado recente, em que o poeta se convenceu da sua importância política por ter arrecadado o seu milhão de votos.
Como interpretar, então, esta falta de consistência e de credibilidade do PS em escolher um candidato autónomo a Belém, ainda que se trate dumas eleições supra-partidárias, mas, na prática o apoio partidário acaba por ser fundamental, como todos bem sabemos!? Não vale a pena estar com sofismas.
Porquê este medo do PS, que agora se vê obrigado a apoiar um candidato que o penalisou, o contrariou, o achincalhou e até desafiou a própria liderança do PS de forma pouco elegante e construtiva como, de resto, são quase todas as intervenções do poeta Alegre do Parlamento.
Na raiz deste mal residem algumas questões mais fundas ligadas à nossa psicologia colectiva, de cuja patologia não nos conseguimos libertar fácilmente. E é ela, em nosso entender, que está na raiz deste mal e quadra este tipo de decisões contra-natura.
Isto significa que Portugal é uma sociedade de medos múltiplos: temos medo de arriscar numa empresa, temos medo dos nossos filhos, temos medo da polícia e do fisco, o Estado - no seu conjunto - também nos mete medo, medo de perder o emprego, medo que os nossos familiares e amigos o percam, MEDO, em sua, de assumir a VERDADE e de a veicular públicamente.
Este bloqueio, que vai muito para lá do poeta Alegre, que apenas teve uma importância histórico-simbólica na luta contra o fascismo no tempo do velho "botas" e na fundação do PS, pauta ainda boa parte das decisões públicas tomadas pelos agentes do poder, que trazem no seu ADN os germens daquele medo múltiplo, o que os faz apoiar candidatos contranatura sem interesse para o país. Daí o paradaoxo a que chegámos com este apoio pífio do PS a Alegre no quadro das eleições presidenciais de 2011. Tanto mais que é o próprio Sócrates que diz querer governar sem medo e com a necessidade de empreender reformas para o país.
O facto do PS ir apoiar um candidato sem perfil presidencial, pouco preparado para a gestão da coisa pública, só revela que teve MEDO de arriscar noutro candidato, e isso penalizá-lo-á a prazo.
Alegre, e vimos isso em décadas de acção parlamentar, apenas é movido pela ambição, o desejo de cargos para alimentar a sua infinita vaidade. Só que se trata de um desejo de coisas que só contribuem para o seu ego, e não para a melhoria da situação do país, e esse sentimento que acompanha esta lamentável decisão do PS, profundamente dividido, só contribui para avolumar o impedimento em sairmos da crise com políticos de futuro. Será, pois, uma pusilanimidade que nos irá custa caro.
Numa palavra: talvez nunca como actualmente o PS foi obrigado a engolir um sapo do tamanho do mundo, tal decorre dessa aversão ligada à crença do dano em escolher um candidato autónomo e não imposto pelas circunstâncias, desconhecendo o mesmo PS que ao estar a engolir aquele sapo está, perversamente, a adensar o medo e contribuir mais dramáticamente para um mal que deveria ter sabido evitar.
O PS, neste particular, faz lembrar aquela criança sobre a cama dominada pelo medo do que vê, e é isso que a paralisa.

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