domingo

Portugal-Espanha: de "amigos-inimigos" a aliados consolidados

Durante séculos, por força de factores históricos e geopolíticos, as relações luso-espanholas foram moldadas pela desconfiança mútua, e para Portugal sempre foi problemático ter um vizinho terrestre várias vezes maior e ter nas suas costas o mar. Foi a terrível fase que encarava Espanha com a velha fórmula: "nem bom vento nem bom casamento", esbatida, progressivamente, com a integração europeia dos dois países, curiosamente assinada no Mosteiro dos Jerónimos, em 1986. Actualmente, vivemos uma conjuntura económica europeia e mundial recessiva, embora o momento histórico luso-espanhol seja pautado por relações excelentes no quadro do seu entendimento bilateral. De 2005 até ao momento o entendimento tem sido alargado a várias áreas da governação, o que é uma garantia de integração de políticas sectoriais por parte das comunidades autónomas fronteiriças. Ora, é nessa perspectiva que hoje se pode - e deve - recolocar a questão do desenvolvimento entre certas regiões dos dois lados da fronteira, designadamente, o Alentejo e a Extremadura, aproveitando, para o efeito, a já vasta experiência da última década de cooperação político-administrativa no plano transfronteiriço vocacionado para a melhoria da qualidade de vida e das oportunidades das comunidades dos cidadãos, das famílias e empresas rainas. Badajoz, que dantes era referência para os portugueses que demandavam Espanha para ir comprar caramelos, é, hoje, símbolo de outras actividades económicas, cabendo a cidades como Badajoz, Mérida e Cáceres uma função vital na dinamização da cooperação transfronteiriça entre Espanha e Portugal para os próximos cinco anos. Na prática, a linha de fronteira com cerca de 400 kilómetros deve converter-se em mais e melhores oportunidades socioeconómicas de valorização e de enriquecimento mútuos sendo que, para o efeito, cabe ao Estado, às associações empresariais, ao empresariado dos dois lados da fronteira, às elites criativas e mais dinâmicas e aos demais agentes sociais, económicos e culturais dinamizarem uma nova geração de políticas públicas e de projectos que coadjuvem no take of das economias peninsulares. A feliz e oportuna iniciativa de se criar em Lisboa uma delegação da JE, dirigida por Teresa Rainha, é já um sinal positivo nesse sentido.

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