O Turismo em Portugal. Breves notas
Há coisas que só pensamos ou fazemos quando somos levados a esse automatismo: lembramo-nos do guarda-chuva quando chove; da luz quando estamos às escuras, da água quando temos sede e assim por diante. O tempo é, como já ensinavam os clássicos do pensamento político, de que destaco Montesquieu, uma variável condicionadora de estados de espírito e um modelador da personalidade colectiva de um povo. Significa isto, de forma algo redutora, que Portugal é resultado do seu clima, da sua geografia e do seu potencial humano. É assim com todos os povos, e estando hoje um dia de sol – coisa rara nos últimos tempos que têm assolado o nosso país com as tragédias que infelizmente conhecemos, talvez seja oportuno deixar umas notas sobre a competitividade e a sustentabilidade do turismo em Portugal, em homenagem ao regresso do Sol que é a luz das nossas vidas. Daqui não resulta que todos aqueles povos mal visitados pelo sol são mais imperfeitos ou menos produtivos.
Deste modo, olhemos para alguns factores formatadores do turismo em Portugal: o modelo institucional, o mercado turístico, os activos estratégicos, os RH, os actores estratégicos e para a cadeia de valor e de inovação que este nosso Sol nos poderá proporcionar, ainda que por horas, já que a chuva e o frio regressam em breve, talvez no fim destas parcas notas.
É sabido que o turismo é ao mesmo tempo e uma vocação e uma oportunidade para a economia portuguesa, ajuda a combater o desemprego, representa um sector de serviços de alto valor acrescentado e dinamiza um conjunto de actividades transversais entre entidades públicas e privadas. Pelo que o desenvolvimento do nosso Turismo deverá ser articulado com outros sectores, como a Saúde, a Segurança, o Ambiente e a Cultura.
No domínio dos mercados, importa saber qual a segmentação e posicionamento da oferta, a diferenciação e o conhecimento e dinamização da procura. Ou seja, Portugal deverá libertar-se do chamado turismo de massas, ou “pé-descalço”, e introduzir serviços que permitam desenvolver um turismo de elevado valor acrescentado. A oferta deverá organizar-se em torno daqueles clusters (Saúde, Ambiente, Cultura) e requalificar os negócios em torno dessas actividades. Isto não significa que se deve descurar o cluster de Sol & Praia, antes pelo contrário. Incentivar o Turismo interno ibérico e elevar os padrões de serviço potencia a nossa oferta, fortalecendo as ligações com o nosso vizinho gigante, mas também fortalecendo a nossa especial e histórica ligação aos países da CPLP, designadamente o Brasil – cujos cidadãos mais dinheiro deixam quando visitam Lisboa, e (já) não é para ver Fado, Futebol e Fátima.
Esse modelo salazarengo do turismo já passou à história. Naturalmente, isto implica valorizar os nossos portos (seja como pontos de origem ou destino de cruzeiros), explorar a nossa diferenciação estratégica, valorizando o segmento da História de Portugal e a grande diversidade paisagística do território nacional, com um clima ameno, com uma gastronomia especial e com a nossa habitual hospitalidade e tranquilidade – meio alentejana – que faz com que o tempo tenha uma dimensão mais arrastada nessa longa linha temporal que é a eternidade.
Para que isto corra bem há que fazer uma gestão integrada das marcas de Portugal, seja por segmentos seja por regiões. Neste capítulo talvez não fosse má ideia saber o que, por exemplo, o presidente da ERT do Alentejo, presidida por Ceia da Silva, já fez e está a planificar fazer para o ano de 2010 e seguintes em todo o Alentejo.
Haverá ou não uma promoção integrada? E criação de dispositivos de intelligence que captem informação sensível ao sector que as entidades competentes depois podem tratar numa perspectiva de interesse público e privado e com valias regionais.
O que pressupõe a implementação de metodologias e práticas de Costumer Relationship Management (CRM).
Relativamente aos chamados activos estratégicos, desenvolvimento e qualificação há a dizer o seguinte: o recenciamentos dos activos nacionais passíveis de desempenhar funções turísticas – naturais, históricas, culturais ou de lazer – devem ser imediatamente realizados.
Desenvolver uma base de dados que condense esses activos potencia a oferta turística e ajuda a criar na indústria do sector uma melhor diferenciação relativamente a outros destinos turísticos concorrentes ao nosso. Daí a necessidade de criar e afirmar uma indústria de conteúdos em Portugal estimulada pela Agência Nacional de Turismo, como mola de afirmação dos valores e cultura portuguesa nos vários pontos do mundo.
Em matéria de RH há que desenvolver um Plano Integrado de Formação, envolvendo as universidades, as empresas, as associações no quadro do Conselho Estratégico para o Turismo. O objectivo magno é aprender com os melhores e operar a tão desejada transferência de tecnologia e trade-of de experiências, sem esquecer o apoio às empresas e aos seus planos de formação específicos para gestores, empresários e para quadros da Administração Central e das autarquias. De resto, não choca – à semelhança do funcionamento dos serviços de intelligence – que o Turismo tenha ou desenvolva uma célula de investigação turística a fim de investigar processos e métodos de mudança com impacto (i)mediato na estrutura do nosso tecido social e económico.
Tal implica uma alteração dos modelos de actuação dos actores estratégicos do sector, pelo que a criação do fórum para a excelência e cooperação no turismo – integrando as principais empresas no sector, sob orientação do ME e da CT não é uma ideia marginal. Além da realização da conferência anual para a excelência do turismo a fim de divulgar os trabalhos de investigação e as boas práticas ao nível da cooperação e parcerias estratégicas entre os seus principais agentes.
Eis algumas ideias que se podem complementar com a maximização de canais de comercialização, até pelo aproveitamento das TIC de que o portal do Turismo poderá dar exemplo.
Numa palavra: o turismo é uma actividade especial, porque funciona como uma espécie de espelho do país, para o melhor e para o pior. Pois exige a qualificação de todo o país, das suas pessoas, dos seus recursos materiais e logísticos, das suas marcas e da sua corporate identity, pois é do encadeamento de todos esses dispositivos e valores, desde logo pondo os olhos naquilo que se está fazendo no Alentejo neste sector, que talvez possamos chegar a uma configuração ou modelo de turismo que desejamos para Portugal neste primeiro quartel do séc. XXI.
O que implica não só a revisão dos modelos orgânicos do passao, como também exige a criação de Master Plans que integre o curto, médio e o longo prazos no seu campo de decisão estratégica.
Pois O futuro já não é o que era, o tempo (os fluxos de informação, as decisões públicas e privadas e as percepções) hoje rolam mais depressa, pelo que o futuro é mais uma variável psicológica e política do que propriamente temporal.
Ou seja, o futuro significa que as coisas podem acontecer e mudar, e isso joga-se sempre no presente. E em vez de prognosticarmos o futuro, que é sempre uma tarefa incerta e dependente do acaso, cabe à antecipação utópica e à ciência prospectiva desenhar as ponderações desses possíveis futuros.
Hoje está um belo dia de sol, coisa rara nos últimos tempos, e foi isso que também me estimulou para esta breve reflexão sobre o Turismo em Portugal. É que dificilmente conseguiria conceber o meu país na sua dimensão turística sem o sol que nos é tão familiar.
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