quarta-feira

[não ao ] Jornalismo de coacção

Já aqui referimos essa nova categoria do "jornalismo pitbull", que ataca sem razão fazendo vítimas e sem deixar nenhuma vantagem para a sociedade. Rigor, isenção, objectividade, imparcialidade são tudo “tretas” nas mãos de certos jornalistas-“pitbull” que seguem o velho modelo do Indy do séc. XX, e que hoje adopta novos formatos, com gente recrutada na base de dados desse modelo de jornalismo assente em “marketing, sondagem e sacanagem” quando o alvo a abater era o cavaquismo.
Infelizmente, esse jornalismo não morreu, anda por aí ao serviço de interesses grupais, partidários, em muitos casos ligados ao CDs/Pp de Paulo portas que disseminou o seu grupo por novos projectos editoriais que entretanto se constituíram. Já não se trata de reconhecer que o poder dos jornalistas representa o “quarto poder”, mas a influência que um campo jornalístico cada vez mais se submete às exigências de mercado exercendo influência primeiramente sobre os próprios jornalistas, depois sobre os jornalistas-pseudo-intelectuais e, em seguida, por meio deles, nos vários domínios produtores de cultura, arte, literatura entre outros domínios dos saberes – como a ciência, o direito.
Isto reflecte bem uma condição velha nas sociedades industriais, variando apenas as modalidades como as coacções se projectam no mercado, para modificar as relações de força no interior dos diferentes campos.
Por outro lado, há a considerar, no domínio das coacções que o jornalismo actual produz na sociedade, os efeitos que a televisão produz nos vários domínios sociais, muito mais consideráveis do que aqueles que a literatura ou a imprensa produziram na formatação da cultura moderna e contemporânea.
Ou seja, temos que distinguir no jornalismo, como em todas as outras profissões, o bom jornalismo do mau jornalismo, uma tarefa cada vez mais complicada de se fazer porque colide com interesses grupais, socioeconómicos de grupos empresariais que têm nítidas ligações económicas e partidárias. Circunstância que só penaliza o jornalismo, em vez de o valorizar.
Acresce que um jornal, enquanto empresa, tem sempre uma espada de damócles sobre a sua cabeça, que lhe tolhe a autonomia na sua esfera de acção, seja por parte das receitas – provenientes da Pub. e dos apoios do Estado – e também depende do grau de concentração dos anunciantes.
Quando um jornal já não tem grande margem ao nível das suas receitas, começa literalmente a comporta-se como um adolescente alcoólico que rouba as chaves do carro ao pai e começa a fazer disparates. Quando, por exemplo, um jornal denuncia uma pessoa privada que faz um blog de referência, e que é odiada apenas porque é excepcionalmente bom naquilo que faz, tal significa que o jornal que recorre a esse tipo de jogo baixo pretende não apenas visar aquela pessoa publicamente, como também tem objectivos comerciais na publicação daquele factóide, ou não notícia – objectivamente resultante duma motivação persecutória e maldosa. O meio académico está repleto destes esquemas que vivem da inveja, da traição e da vendetta. Neste aspectos, Portugal ainda está pior do que ao tempo de Salazar.
É a nova modalidade da PIDE/DGS a operar em Portugal via mediacracia, agora disfarçada de jornalismo que, por sua vez, é composto por elementos com poucos escrúpulos, muitos deles também com baixa formação cultural, científica e técnica (e humana, lamentavelmente) procurando vender os seus factóides como se de jornalismo sério se tratasse.
Depois temos que ver o tipo de autonomia do jornalista particular, que depende do grau de concentração da imprensa, que no caso português sofre duma insegurança congénita, tornando o jornalista um elemento profundamente inseguro ao nível da sua subsistência, facto que o faz por ao serviço das tarefas mais obscuras e mafiosas que hoje vivenciamos em Portugal.
Em certos casos mais ignóbeis e desprezíveis, um jornalista dependente não é mais do que um tarefeiro ao serviço de intresses cruzados, que perpassam os interesses económicos, comerciais, partidários e das vaidades pessoais que animam esta classe, ainda mais egocentrica e narcísica do que os próprios políticos, pois o seu sonho é terem o protagonismo e a notoriedade destes sem arcar com as suas responsabilidades.
Depois ainda o leitor lúcido terá que ter em conta o seguinte, sob pena de ser enganado pelo jornalista atrevido e traficador de influências: que posição ocupa o seu jornal no espaço dos jornais nacionais? Será que é um jornal de referência, um jornal a atirar para o “intelectualóide”, i.é, com pretensões a debates culturais e intelectuais, ou é um jornal que desenvolve um estilo visando apenas um perfil comercial?!
Todas estas balizas limitam fortemente o exercício daquilo que aqui designamos o bom jornalismo: isento, objectivo, rigoroso e, se possível, reflexivo dando conta dos principais desafios da sociedade na modernidade. Mas não é isso que vemos actualmente em Portugal.
Aquilo a que assistimos é vergonhoso: jornalistas atacando órgãos de soberania, agentes políticos, juízes, jornalistas atacando-se entre si (vide o caso do director do JN ao sr. Crespo), e agora até já temos uma modalidade emergente, traduzida em jornalistas a atacar autores de blogues de referência em Portugal – fazendo disso uma espécie de ataques do Indy ao tempo de Paulo portas quando este semanalmente atacava ex-ministros do actual PR tendo depois de pagar avultadas indeminizações em tribunal por se revelarem falsas e injuriosas.
O caso do roubo da manta no avião imputada (falsamente e injuriosamente) a João de Deus Pinheiro, então MNE do governo de Cavaco, pelo jornal de Paulo Portas foi vergonhoso, assim como vergonhoso foi o ataque canalha que fez a Duarte Lima e a muitas outras pessoas de bem que estão na vida pública com lisura e transparência.
Já agora, alguém ainda se lembra da mesquinhez e perfídia de Paulo portas aos pais, pessoas humildes, de Macário Correia??!! Confesso que isso me enojou, assim como me enoja hoje um certo jornalismo praticado por miúdos que, lá está, se comportam como os tais adolescentes alcoólicos que roubam as chaves do carro ao pai e resolvem ir para a a estrada dar cabo da vida a terceiros. E depois designam isso de jornalismo. Curiosamente, essa gentinha também anima blogues grupais.
É óbvio que os meios políticos e governamentais também agem por intermédio de coacções económicas, através da diplomacia do chicote e da cenoura, prometendo punir e dar, domesticando, desse modo, os seus interlocutores. Mas é suposto que façam isso a fim de prosseguir o bem comum, o interesse geral que está acima dos interesses particulares.
Aquilo que hoje, lamentavelmente, assistimos por parte de alguns jornais e jornalistas tarefeiros e pouco escrupulosos é uma utilização intensiva das coacções e das denúncias gratuitas (apenas para explicitar a identidade de A, B ou C) – que já não são apenas apanágio do Estado – para assim esses mesmos jornais, que são empresas muito especiais, condicionarem políticos, juízes e demais classe política e empresarial, enfim, quem decide em Portugal.
É este condicionamento e esta mediacracia que tem - e deve - ser desmantelado pela ciber-democracia em Portugal, e a “boa” blogosfera, aquela que pensa e reflecte com seriedade, em vez de andar a fazer os SimpleX - deve ganhar mais juízo e dar o seu contributo nesse sentido.
Se fizer isso já não terá que perder tempo nem com o chamado jornalismo-pitbull nem com os seus proponentes, os jornalistas-tarefeiros, muitos deles com hot-lines ligadas à R. da Madalena e ao Caldas. Pensando, porventura, que o cavaquismo ainda anda por aí, como o outro, e tem que ser abatido por mais uma peça pseudo-jornalística ou caixa noticiosa que o bom jornalismo chama de factóides ignóbeis e desprezíveis.