domingo

Tempos cruzados: a música, a política e a mentira. A sociedade de mentirosos e as proof-lies

Não conheço ninguém que não minta, oculte ou dissimule algo para algum fim específico, pessoal ou institucional. É assim no quadro das relações múltiplas que desenvolvemos em sociedade: em casa, na sociedade, no emprego, na escola, na associação, no sindicato, no partido, na igreja e, por maioria de razão, na esfera política para onde convergem todos os interesses e tensões que fazem andar ou bloquear uma sociedade inteira. Daqui decorre que todos nós, mais ou menos, mentimos, ocultamos ou dissimulamos informação, muitas das vezes até por razões de estatuto, ou até para apresentar uma importância (social e intelectual) que, na verdade, não se tem.
A mentira, bem ou mal, e a representação social que lhe anda associada, integra a nossa conduta em sociedade. Haverá sempre pessoas que dirão o que pensam em voz alta, sem temer consequências de nada nem de ninguém, mas essas pessoas também não deixarão de ocultar outros aspectos que lhe serão convenientes na sua relação com a sociedade ou com o Estado.
Só que por vezes a mentira converte-se numa arte, é nesse caso que se impõe maior precisão e rigor ao nível dos enunciados, das regras e das leis que a formatam. Hoje Portugal, por variadas razões, que tem a ver com a conjuntura e a natureza da personalidade das pessoas que integram a chamada classe política, tem uma relação difícil com os factos, ou aquilo que, num dado momento, se convencionou designar verdade. Consabidamente, as oposições têm acusado o actual PM de mentiroso, de resto Ferreira leite tem usado e abusado dessa fórmula sem, contudo, pormenorizar.
Há dias numa entrevista à RTP Leite referiu essa palavra vezes sem conta, mas os factos que apresentou para a sustentar não passam de indícios, e isto só adensa e compromete a relação de confiança que os cidadãos deveriam ter com os seus responsáveis políticos, sendo que a oposição - à falta de melhores argumentos - também não consegue escapar ao peso da dissimulação, do empolamento dos nossos dados socioeconómicos a fim de dramatizar ainda mais o desespero colectivo dos portugueses, de ocultar as sua falta de ideias e de alternativas para construir um Portugal melhor. Isso tudo junto também prefigura uma certa modalidade de mentira em política.
E na contabilidade das mentiras o que se afigura pior para os portugueses?!: aquilo que a oposição acusa o PM, ou aquilo que os portugueses gostariam de ver na oposição e não vêem?
Como a resposta não é fácil, neste jogo do "gato e do rato" em que mergulhou o (dis)funcionamento das nossas instituições democráticas (veja-se o caso canceroso a que chegou a nossa justiça, repleta de metástases contagiando toda a sociedade que hoje não está imune a nada de perverso aí gerado), também podemos concluir que a sociedade portuguesa vive hoje uma tipologia de comportamentos que tendem a replicar falsificações políticas a grande cadência, cabendo ao aparelho judicial e aos media duas dessas grandes fontes de maledicência, intriga e fábrica de rumores que hoje faz carreira em Portugal.
Nuns casos por razões de ordem político-partidária, mas também por razões de natureza económico-financeira, de estatuto, de vaidade e de pura vendetta pessoal, afirmação e notoriedade, pois não podemos esquecer que um jornal é uma empresa que visa o lucro e quanto mais papel vender junto dos leitores mais adia o seu processo de falência empresarial. Eis o clima cultural que se instalou entre nós, e percorre os circuitos do poder político, mediático e judicial actualmente em Portugal.
Um clima que já contagiou os meios económicos e a sociedade civil no seu conjunto e que não é gerador de confiança para ninguém, e bem sabemos como a economia gira em torno desse grande valor que é a CONFIANÇA - hoje inexistente entre nós.
Toda esta práxis sociopolítica em Portugal, de tão recorrente, já se tornou uma constante entre nós, daí começar a instaurar-se uma doutrina: a doutrina da mentira que é o instrumento intelectual capaz de racionalizar esse novo modus operandi, e não me reporto apenas aos circuítos do poder, que nos permite tipificar três grandes tipos de mentira entre nós, e a que a oposição, especialmente a "chefe de divisão" da actual direcção do maior partido da oposição, hoje de saída, recorre para fazer a sua política caseira.
A mentira por calúnia com vista a diminuir os méritos do homem público que acusa; a mentira por adição com o fito de os ampliar na sociedade; e a mentira por efeito de transladação - com o objectivo de transferir esses efeitos de uma situação ou personagem para outro.
Ou seja, a mentira é hoje uma praxis política muito generalizada entre nós, nuns casos decorre - não duma intencionalidade deliberada em querer prejudicar, mas porque a compressão do tempo não libertou energias (e tempo) para se avaliar os dados e formular correctamente os enunciados, sobretudo em matéria de estatísticas. E aqui o papel de Ferreira leite ainda tem sido mais pernicioso do que qualquer outro agente de poder, pois ela não se coibe, apenas com fitos partidários e de vingança pessoal (porque foi humilhada eleitoralmente), de empolar uma realidade - já de si penosa - numa catástrofe, minando a confiança nos agentes da sociedade e da economia apara a corrigir.
Todas estas derivas revelam que a mentira política entre nós começou a ter uma dignidade quase institucional que corresponde às artes, apenas faltando conceber para ela a categoria de sistema.
É esta novel condição que converte Portugal e os portugueses, especialmente de quem nos vê ou avalia a partir do exterior, numa espécie de sociedade de mentirosos, cabendo aqui um papel preponderante (e nocivo) aos media na disseminação - via fugas de informação pelo decadente sistema de justiça - que procura colocar à mesa de cada português que ainda têm a paciência de ler certos jornais, falsas notícias que outros (no seio do aparelho judicial, e pagas a peso de ouro) forjaram.
Não há, pois, inocentes nesta cadeia ininterrupta da desgraça, maledicência e vendettas pessoais que se instaurou em Portugal - e veio para ficar (pela teia de conexões e dependências entretanto gerada): ou porque o jornalista A, B ou C não foi destacado como repórter ou assessor para Washington dc; ou porque o jornal semanário D não recebeu os milhares de euros em Pub. institucional de certa instituição financeira.. Há sempre uma má razão para justificar uma conduta que é, consabidamente, o móbil do "crime".
A esta luz, onde fica a captura da verdade a fornecer ao leitor por parte do jornalista? reside no seu bolso, no seu status, na sua fama ou notiriedade ou ainda na sua vaidade pessoal - por ter mandado abaixo o ministro H, J ou L. Proezas de que, depois, frequentemente se vangloriam em privado, pois é esse o barómetro, nas suas cabeças de ervilha, que os fazem sentir bem, com poder: o poder negativo de destituir alguém dum cargo importante. Muitas das vezes usando e abusando de informação forjada ou manifestamente falsa ou truncada.
Hoje, infelizmente, campeia o mau jornalismo em Portugal, e não obstante existirem indícios que são preocupantes e que devem ser investigados a sério e de forma celere pelo aparelho judicial (que dever ser reformado sob pena de ficar uma anedota), a que os jornalistas não podem - nem devem - substituír-se (pois incompetentes para o fazer) - são eles, ou melhor, alguns desses jornalistas (os tais a quem o Estado, a banca ou algum empresariado) cortou os subsídios fechando a torneira do dinheiro que para lá jorrava, - as correias de transmissão de certas informações que ganham uma dimensão político-partidária e que acabam por interferir com a própria legitimidade democrática do povo português realizada em sufrágio eleitoral.
De resto, em certos meios jornalísticos, que é uma confraria, desenvolve-se uma prática experimental da mentira política que visa, precisamente, lançar no mercado político e na opinião pública as chamadas mentiras experimentais, as proof-lies, que operam como uma espécie de sondas de 1ª carga a fim de perceber se aquela carga irá detonar e fazer as suas baixas.
Infelizmente, chegámos a este ponto Zero da política, e se muitos portugueses não confiam hoje nos seus dirigentes políticos, estou plenamente convencido que confiam menos na oposição politico-partidária existente assim como em alguns jornalistas de cano-esgoto que julgam estar a fazer história em Portugal.

Rachel Star... TILL THERE WAS YOU (JORDI LABANDA CHARACTERS)

Cock Robin - Just Around The Corner