quarta-feira

Promiscuidade - p'lo Jumento -

Promiscuidade
Cada vez mais me enoja a promiscuidade na capital deste país, um pequeno grupo de gente que se auto-designa de elite, nascidos na classe média da administração salazarista e que hoje domina uma boa parte da vida. São jornalistas, são deputados, são jurisconsultos, são consultores das mais variadas artes, são comentadores televisivos, são gente que nunca teve dificuldades na vida, a quem para arranjar um emprego para um filho basta um telefonema, para comprarem um carro novo basta uma cunha para mais uma avença. Se foram apanhados na declaração de IRS telefonam ao fulano tal, se precisam de uma operação no hospital passam à frente da fila de espera, resolvem todos os seus problemas com um mero telefonema, são um verdadeiro grupo mafioso assente numa imensa rede de contactos, de compadrios assentes na troca de valores. Esta gente não tem cor política, não tem ideologia, não tem princípios, não tem o mais pequeno respeito pelo povo que os alimenta e enriquece, de manhã são jornalistas e à noite bloggers, num dia são magistrados e no outro juízes desportivos, se estão na oposição coleccionam avenças, quando beneficiam do poder vão para administradores de empresas públicas, ora são assessores de líderes partidários, ora são directores de jornais. Esta gente não imagina o que é viver com o ordenado mínimo, nunca estiveram em terra a esperar o regresso de um pai que está no mar debaixo de um temporal, não sabem quanto humilha estar numa fila de desempregados, não imaginam o que se sofre quando se tem de alimentar filhos sem ter dinheiro, não sabem o que é mandar um filho para a escola sem o pequeno-almoço. Não sabem, não imaginam, nem querem saber, têm o maior do desprezo pelo povo cuja opinião gostam de manipular. No entanto ganham rios de dinheiro a comentar nas televisões sobre a melhor forma de resolver os problemas do país e dos portugueses. Andam por aí a alardear grandes currículos, são ilustres jurisconsultos, jornalistas de primeira água, comentadores televisivos, sentem-se superiores aos que tanto usam nos seus discursos de conveniência. Queixam-se da crise mas ganham com ela, propõem sacrifícios para os outros mas multiplicam a sua riqueza, preocupam-se com a iliteracia mas olham para os outros com o desprezo e incomodam-se pela falta do perfume a 100 euros, há décadas que propõem novas soluções e o resultado é aquilo que se vê. Cada vez sinto mais nojo desta elite que julga que todo o poder eleito pelo povo lhes deve prestar vassalagem, estão convencidos de que só os “bem falantes” têm direito a expressar as suas opiniões, que julgam que o povo que vota é uma imensa borregada que lhes deve perguntar onde devem votar, que acham que podem fazer e desfazer qualquer político. É tempo de dizer não a esta imensa promiscuidade disfarçada de bons princípios. É preciso dizer não a esta gente, denunciá-la, combatê-la, antes que passemos a sentir nojo do próprio país. Portugal não é esta seita de proxenetas de gravata Hermes, que se instalou no poder da capital para viver à custa do subdesenvolvimento do país. O meu país é o meu povo e esse é eticamente muito superior a esses canalhas, é gente que sua por cada tostão de ganha, trabalhadores que tiram dos seus filhos os impostos que alimenta essa elite da treta, empresários que todos os meses lutam para que as suas empresas consigam pagar os ordenados dos trabalhadores no fim do mês.
Obs: Infelizmente, o Jumento tem razão. Procurou-se jogar com as palavras e associá-lo à Interpol (dei uma gargalhada matinal e mui pouco securitária!!), só que Portugal cresceu, ilustrou-se e também perdeu o medo. Os media - enquanto poderes fácticos - estão hoje num carrefour: por um lado, caminham a passos largos para a sua auto-implosão, vide o caso do sol, dirigido pelo sr. arqº que quer ser prémio nobel da literatura. O mesmo que ataca um banco e certos administradores desse banco porque cortaram o financiamento ao seu jornal; por outro lado, apoiam-se em certos blogues para arregimentarem fidelidades e leitores que depois se traduzem em interesses económicos num molotov explosivo. Muitos exemplos haverá em Portugal resultante dessa confusão e promiscuidade. Acresce o seguinte: as pessoas (algumas que fazem análise na blogosfera) além de terem já mais competências e serem mais inteligentes, cultas e preparadas, também não têm medo de falar, não implicando isso a violação de alguma lei ou princípio. O Jumento é odiado e traído por gente menor porque, precisamente, é o melhor espaço de análise e de criatividade social e política em Portugal, isso fez dele um coleccionador de ódios que hoje dão o ar da sua graça no pior sentido.
Mas tudo na vida tem um efeito perverso, um efeito boomerang, um efeito não intencionado como ensinou Vilfredo Pareto - que alguns energúmenos e jornalistas-tarefeiros desconhecem, e alguns deles eram até uns péssimos alunos na universidade privada da Junqueira, assim como desconhecem grande parte da vida e do mundo. São uns "copinhos de leite", enfezaditos a quem não hesitaria em pagar umas patacas para não serem meus secretários.
Infelizmente, este tipo de estórias só revela a inveja que alguns portugueses têm dos seus concidadãos, sobretudo daqueles que são melhores do que nós. E das duas uma: ou nos predispomos a aprender com elas e até as superar; ou cai-se na mera maledicência, sacanagem e canalhice, e é isso que certos jornais e jornalistas hoje fazem a pessoas e a instituições para ganhar a vida, por um lado, para alimentar a sua vaidade e vendetta, por outro.
Opto sempre pela via pedagógica, até porque tenho como lema de vida um ensinamento de Albert Cossery: posso ir para a rua descalço e de mãos nos bolsos e sentir-me um príncipe. É isso que representa alguns sites de excelência em Portugal de que o Jumento faz prova diáriamente, potenciando o sinal de serviço público e, ainda por cima, o faz de forma gratuita. Penso, contudo, que o Jumento sai desta estorieta profundamente reforçado, re-credibilizado e angariando ainda mais leitores. Mais ainda do que aqueles que o jornal que o atacou perde. Talvez ainda contrate a LPM para um facelift ou a TAP para uma campanha de internacionalização ao blog.
Quanto ao resto, ao sub-produto dum certo "jornalismo-tarefeiro" e frete por encomenda ainda existente em Portugal, importa declarar o seguinte: vão ficar sem leitores e o falhanço será, seguramente, o seu próximo apeadeiro. Até porque alguns desses jornais e/ou jornalistas ligam-se a autores de blogues para desviarem clientela para os jornais onde escrevem, e isso é sempre um pau de dois gumes. O melhor acaba sempre por se impor.
Como costumamos dizer no n/ subtítulo: a ave vive fascinada pela serpente que a paralisa e, afinal, faz dela a sua presa. Neste caso, o "burro" dará o coice como a serpente o seu abraço anelado e constritor. "É a vida".

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