O massacre na Monarquia do Nepal e a degradação política no PSD. Um paralelo tão arriscado quanto alucinante
NOTA PRÉVIA MACRO:
Aqui vemos a família real do Nepal, objecto da carnificina por parte do príncipe herdeiro, Dipendra, que não hesitou em massacrar toda a família, porque a sua Mãe, a rainha Aishwarya e outros membros da família real, se opunham ao seu casamento com a sua mulher amada. Depois de matar a família, inclusivé o seu Pai, o rei Birenda, Dipendra resolveu suicidar-se. Parece que um dos guardas reais também deu (mais) um tirinho na tola do então príncipe herdeiro para se certificar que Dipendra já não faria mais estragos na família real. Enfim, uma desgraça que aqui evocamos por correlação à degradação da vida interna no PSD desde há uns anos a esta parte. Com a única diferença relativamente à chacina da monarquia nepalesa abatida em Junho de 2001 a que o mundo assistiu estupefacto. É que que na Lapa não há tiros com balas reais, embora se registem inúmeros "tirinhos nos pés"... Veremos a trajectória desse perturbante paralelo.
Em princípio, como referimos, esse assassinato colectivo teria sido provocado por uma disputa em torno do casamento de Dipendra, porque a sua mãe, a rainha, não aceitava a noiva que ele havia escolhido. E depois de ter morto a sua família, Dipendra suicidou-se. Ao todo foram 11 vítimas, e Dipendra, é bom sublinhá-lo, não cursou Direito na Faculdade de Direito de Lisboa, mas era formado pelo Eton College, no Reino Unido. Esse massacre obrigou a uma redefinição da composição da família real do Nepal, dado ter-se alterado a ordem de sucessão, o que posicionou noutros termos o futuro da monarquia nepalesa. Ou seja, até ao massacre, em Junho de 2001, nunca o problema da sucessão da monarquia nepalesa se tinha colocado, um pouco à semelhança da liderança de Cavaco no PSD até 1995, salvaguardadas as devidas distâncias entre estes dois factos políticos separados pela natureza das coisas e por milhares de quilómetros de distância. A partir da queda de Cavaco, em 1995, todos os líderes subsequentes foram contestados: Marcelo, Durão, Santana lopes, Marques Mendes, Meneses e tutti quanti. Todos caíram prematuramente, sem poder nem glória: 1. Marcelo fez uma aliança contra-natura com o cds, e nenhuma aliança se faz top-down. Tanta inteligência e talento para cair num abismo; 2. Durão só chegou ao poder (e após perder todos os debates no hemiciclo com António Guterres que nunca lhe deu hipótese) após a desistência deste na sequência da derrota das eleições autárquicas de 2002; 3. MMendes tinha capacidade de trabalho, determinação e organização mas teve um nó górdio chamado Lisboa que o fez perder a liderança de forma agreste para Meneses - embora tenha sido o PS e António Costa que capitalizaram, felizmente para Lisboa e para os lisboetas; 4. Meneses, por sua vez, nunca passou de um político regional que um dia desceu à Capital e onde nunca se conseguiu afirmar com ideias e políticas públicas alternativas ao PS reformista de Sócrates. Foi igual a si próprio: um sentimentalão apaixonado pela secretária. Oxalá essa "aliança" funcione dados os conhecidos problemas com a taxa de natalidade (regressiva) que Portugal enfrent. Aqui Meneses sempre poderá dar uma lição a Marcelo... 5. De Santana não há muito a dizer, a não ser rezar por ele e pelas campanhas de agiprop suicidas que ele encomenda - via Gomes da silva - para lezar terceiros (Marcelo, Fernanda Câncio, etc...), mas que depois acabam por ter um efeito de boomerang. Estes factos, apesar de terem uma natureza diversa, envolverem circunstâncias sociopolíticas e culturais distintas, não deixam de nos fazer pensar quanto à trajectória do futuro das sociedades, sejam elas ocidentais ou asiáticas, pois ambas carecem de reformas continuadas para se ajustarem à mudança dos tempos. Reformas que são cada vez mais prementes por força das dinâmicas sociopolíticas, económicas, ambientais e de âmbito tecnológico que hoje varrem o mundo de forma assustadora.
Daí que a morte do rei Birenda, que encontra paralelo na queda de Cavaco em 1995, em Portugal, converteu o príncipe Gyanendra, irmão do falecido soberano e tio de Dipendra, no novo rei do Nepal e seu filho único, o príncipe Palas, no príncipe herdeiro. Paralelamente, Fernando Nogueira e Durão Barroso foram os delfins de Cavaco, sendo que Durão ganhou o congresso e acabou por ser o sucessor de Cavaco, mas contestado.
Sucede, porém, que a escolha daqueles membros da família real não eram queridos pelos nepaleses, assim como aquela sucessão de líderes que passaram pelo PSD na sua fase post-Cavaco. De resto, o novel rei, irmão do falecido rei Birenda, era considerado um homem autoritário cujo perfil favorecia o regresso da monarquia absoluta, substituída em 1990 pelo rei Birenda por uma monarquia parlamentar.
Portanto, o povo nepalês tinha todas as razões não só para desgostar como também para desconfiar das motivações do novel rei do Nepal. O mesmo se passou quando Durão desertou e deixou o "quiosque do seu governo" entregue (monárquicamente) a Santana Lopes. Assim sendo, o Nepal, em face da tragédia protagonizada pelo príncipe herdeiro Dipendra, que se metia na "passa" e era amigo do alcóol, além de ser um sentimentalão teleguiado pelo capricho das mulheres de quem gostava, testemunhou a passagem de um rei amado e evoluído (democráticamnte) por um rei odiado e com uma perspectiva regressiva da história - perante o humilde povo nepalês que a tudo assistia com grande consternação e impotência.
Ora, a situação no PSD - não conhecendo mortes físicas, tem vindo a agonizar lentamente num exercício de degenerescência política que não é bom para ele próprio, enquanto organização político-partidária com vocação alternativa ao poder, para o PS que está no Governo (e precisa de ser estimulado por propostas alternativas credíveis e desafiantes (que jamais poderão vir dos radicalismos do BE, do anacronismo do PCP e do populismo do CDS), nem para o conjunto do sistema político português que assim deixa de poder contar com o estabilizador e a massa crítica de uma força política importante para pensar Portugal à luz duma alternativa credível ao PS.
Vejamos agora os termos do paralelo: Cavaco, embora não sendo rei, deslocou-se para Belém - donde administra e arbitra o comportamento dos actores políticos; o PSD deixou de poder contar com ele/Cavaco para efeito de potência socioleleitoral e até no plano da concertação política - nacional e internacional - pois Cavaco hoje concerta tudo de forma eficiente com Sócrates numa admirável cooperação estratégica; havendo um vaccum de poder no PSD o problema adensa-se: Marcelo espera por Belém e vai fazendo a sua politicasinha do comentário nas missas de Domingo - cada vez mais desinteressantes, embora sirvam para promover a leitura e facilitar cash-flow às editoras; Manela Ferreira Leite é uma contabilista do Vale do Ave que só sabe fazer balancetes e só é tolerada por ser amiga de Cavaco e ser senhora; Durão pensou sempre mais no seu umbigo do que nos interesses do partido, por isso emigrou com mala de luxo; MMendes virou administrador de empresas na "privada" (agora, além de ganhar mais - também tem tempo para a família); Meneses foi uma nota-de-página de Gaia que desceu à Capital; Santana não desce nem sobe, enterra-se. Não passa duma nota-de-roda-pé num livro de história que hoje já ninguém quer recordar.
De modo que hoje chegámos a isto: a um não-ser, a um beco. Ao beco da Lapa.
Um beco que não deixa de representar, a seu modo, uma tragédia para o PSD, que é considerado o maior partido do sistema político português (com mais militantes inscritos), à semelhança do Benfica com a sua massa associativa, apesar de não ganhar nada...
Sendo que o mais grave desta equação é que aqueles que poderiam, como Marcelo, pegar agora no partido para o organizar e credibilizar, não querem sacrificar as suas ambições pessoais à edificação dessa nobre tarefa; aqueles que, como Santana, dentro e fora do governo agravaram as condições de credibilidade, eficiência e de eficácia no desempenho global do partido junto da sociedade - são os que, embora indesejados pelas bases e pela sociedade no seu conjunto, ora se apresentam, obsessivamente, ao "trono" da liderança do partido para, por via disso, ser (novamente) candidato a PM. Nessa óptica reincidente e impenitente, Santana irá contra a parede duas vezes num curto espaço de tempo... O que prova que ele não Pensa, só Sente, como demonstrámos numa outra reflexão infra...
Neste contexto - de paralelo político arriscado, será caso para dizer que cada um tem a tragédia que merece. Embora, com isto (também) não esteja a sugerir que Santana faça o que fez o então príncipe herdeiro do Nepal - Dipendra - à família real. Até porque hoje o PSD não tem nenhuma "família real". Aquilo, no dizer de Alberto João da Madeira, mais parece um "bando de loucos", talvez por isso se explique que "eles se vão todos suicidar", como afirmou o presidente do Governo regional. Hoje, pergunto-me se Alberto estava a falar em termos politicos ou físicos...
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