segunda-feira

Evocação de George Orwell: a "nova língua" e a verdade conveniente. A mentira na Análise...

A análise social e política é um labirinto de emoções, técnicas e vontades. Pois toda a informação é trabalhada constantemente, revista e, consequentemente adulterada. É da ordem das coisas. É um devir constante. Revistas, jornais, livros, filmes, etc.., todos esses documentos são meros suportes dessa adulteração, adaptação às necessidades e condições do momento. Neste quadro dialéctico, entra em acção a "nova língua", um expediente teorizado por George Orwell que nos permite identificar a tal realidade conveniente do momento, e em cada momento nos infinitos momentos por que passamos desde o berço até à cova.

Deixa assim de haver uma verdade e a cultura (do momento) passa a operar como uma imposição soberana, à qual não se consegue escapar. Portanto, o homem, o analista em especial, está impossibilitado de assimilar até o próprio presente, razão por que se limita a cumprir ordens que, não raro, confunde com a própria vontade. Eis o que se passa na actual crise do PSD - em que os actores se confundem com os analistas, e estes com os protagonistas numa terrível confusão de papéis nesta política à portuguesa...

No topo da hierarquia da "verdade" temos o presente com a sua "realidadesinha", com os seus "factos" que, contradizendo a "verdade" anterior a anquilam pela simples razão de serem diferentes dela. Ou seja, contradizendo-a provam simultaneamente que essa tal verdade é falsa - lançando o homem num espaço de recíproca aniquilação no velho jogo da verdade/mentira.

Desta feita, e aqui os analistas têm a vida dificultada e têm, necessáriamente, que se rodear dos maiores cuidados com os seus comentários, por acção e por omissão, pelo que dizem e pelo que omitem nos silêncios do poder, sob pena de estarmos todos a assistir à formação de profissionais da mentira, técnicos que diáriamente processam informação e alteram os dados da equação anteriores pertencentes a um passado que, também ele, vai mudando consoante o presente, ou seja, pela "verdade" do momento.

Sendo certo que o pensamento - adapta-se a esta realidade não contestando as evidências, ainda que por vezes as recrie, com mais ou menos imaginação.

O problema no analista decorre do facto de ele se tornar assustadoramente capaz de deformar a realidade, acreditando e não acreditando ao mesmo. É aqui que os espectadores menos habilitados e com menos "filtros" se sentem confusos e tendem a acreditar que o analista é um jogador, e este também não deixa de ser analista.

Ou seja, sobrevém a "borrada" quando é o próprio espectador que passa a comungar das convicções, sentimentos, emoções de demais manhas do analista, já que ambos passam a acreditar e não acreditar simultaneamente.

Esta esquizofrenia tem de ser desmontada, peça-a-peça. E esse trabalho é aqui reconhecido pelo Macro e creditado ao grande novelista, ensaista e crítico político e de cultura que foi George Orwell. O qual nos deixou uma outra perplexidade:

É que a relação entre o homem e o poder é cada vez mais uma interrogação para a qual não se encontra facilmente uma resposta.