domingo

Regresso a Fernando Pessoa.. e aos pastéis-de-nata de Ramos Horta

Somos sempre uma assembleia de heterónimos de nós próprios.

Quando a imaginação regressa ao tamanho duma ervilha, e esta espelha um nada de nada que nada vale, pouco importa recorrer aos factos do mundo - repletos de notícias tão desastrosas quanto previsíveis - para assim confeccionar omeletes sem estaleca. Nós, ao fim e ao cabo, nunca nos realizamos, como diria Fernando Pessoa. Somos dois abismos - um poço fitando o céu. Mas se notarmos bem, é mesmo essa a miséria da nossa existência: um andar, um representar, e depois sobrevem um ar que Deus nos dá, e zás... Vamos desta para melhor!!!
No fundo, mormente para quem escreve - por gosto e até por obrigação - não passamos desses viajantes efémeros que denunciamos a nossa literatura de cordel como os lançamentos num canhoto de uma carteira de cheques, para quem (ainda) os passa.
Ante isto, o céu continua estrelado, antes e depois de nascermos e morrermos. E é nessa folga do durante - que hoje atribui aos homens uma média de idade de 78 anos e às mulheres uma média de 80 anos (porque trabalham menos, certamente!!!) - que andamos para aqui fazendo a nossa contabilidadezinha do abismo, do day-by-day, no jogo do anónimo, do empurra-empurra, do conhecido e do famoso - a fim de iludir e até de adiar o caos em que a vida, verdadeiramente, se tornou.
E porquê?! Hoje são mais as circunstâncias que nos dominam a nós do que há uma, duas ou três décadas. Hoje fazemos mais dinheiro, vestimos e comemos melhor, lemos mais, acedemos a mais e melhores meios e fontes de informação e, nem por isso, branqueámos a nossa mente e civilizamos a nossa razão (que continua bárbara) - e poluída com todas as coisas que sonhamos ser e ter e, afinal, o que nos espera nada mais é do que duas coisinhas miseráveis: uma porta dum gabinete que se abre, e uma porta dum caixão (a prazo) que se fecha...
Aquela, por enquanto, ainda é branca, esta será negra, porque mascarada por uma tremenda escuridão. Talvez por isso o povo diga, e com razão, que passamos bem mais tempo a "dormir" do que os breves anos que aqui vivemos neste chão chamado Terra.
De tudo resultam duas coisas (mais): uma impressão nossa (daquilo que julgamos saber); e uma impressão alheia (daquilo que somos).
Bem ou mal, ricos ou pobres - não nos resta muito mais senão interiorizar este (melo)drama...
Não percebi bem a inserção deste texto aqui, mas lembrei-me das notícias que fluem pelo mundo, e à tarde, enquanto aguardava que o vermelho disparasse para o verde num semáforo em Alcântara, sob chuva modesta, ouvia na tsf uma notícia que me daria imenso prazer eleger como a notícia-pérola do momento: então não é que Ramos-Horta, Presidente de Timor-leste, baleado no início da semana, hoje pediu a Cavaco que não se esqueça de lhe enviar uns pastéis de nata...
Não é isto admirável!!!
PS: Assim sendo, dedicamos este post à memória de Fernando Pessoa, um tesouro no qual ainda hoje todos esgravatamos; ao Presidente Ramos-Horta - que qualquer dia está a ser recebido por António Costa nos Paços do Concelho; e alí ao Pedro Silva - que já está farto das tretas que escrevo...
Ps1: Se somos o que pensamos, se o que somos é resultado dos nossos pensamentos - então eu hoje não não passei dum pastel-de-nata...

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Adenda ao contrato do casino-Royal: parece que o dr. Santana lopes vai à tsf dizer umas balelas para denegrir ainda mais o psd. Pfv, tirem-lhe o revólver, porque um dia ele ainda se suicida em directo num studio perto de si. O que seria uma grande sujeira.