sexta-feira

Mudança gera crise. Crise gera rupturas e saltos de descontinuidade entre o passado-presente-futuro

Um floco de neve que pode derreter a qualquer momento. Mas pode conservar-se.. Tudo dependerá da temperatura política, económica e social que conseguirmos gerar em Portugal.
Hoje a SEDES apresentou os resultados a que chegou sobre a crise de confiança na sociedade portuguesa, e o mais curioso, a avaliar pelos elementos integradores desse estudo - que vem dizer o óbvio e que os portugueses já sentem desde o tempo do cavaquismo - é que são a oposição interna ao Sócrates: o empresário Henriques neto (o homem dos moldes de Leiria) e um ex-futuro ministro da Economia dum governo imaginável de Santana Lopes, o dr. Vitor Bento - presidente da SIBS e também, creio, da SEDES.
É óbvio que Portugal atravessa hoje uma crise de crescimento e de desenvolvimento que nos tem conduzido a um certo marasmo social, tributário (pelo excesso de impostos) que, por força do desemprego, da falta de Investimento Directo Estrangeiro (IDE), da magra produtividade e da consequente falta de poder de compra (salvo por recurso ao crédito - que hoje também está mais caro) empurre o consumo para acelerar o crescimento da economia (como defendia John Meynard Keynes) e conduza a uma situação de estagnação económica e de falta de confiança no futuro.
Mas Deus nos livre de Portugal estar a ser hoje gerido pela dupla Santana e meneses... A desagregação ainda seria maior e a resolução entre a conflitualidade do passado e do futuro seria mais problemática. Sublinhar, como faz a SEDES, que existe uma crise de confiança nos políticos, na educação, na criminalidade, no peso da influência do Estado na sociedade... Mas sempre foi assim em Portugal, seja o País governado pelo PSD ou pelo PS - aqui distinguindo-se apenas pela liderança do PM que está à frente do País em cada momento.
Mas o essencial, que não foi pensado nem dito pela SEDES, que não diz nenhuma novidade, passa pela seguinte equação. Portugal, hoje, mais do que nunca, está confrontado entre dois potenciais de crescimento que ainda não fizeram o seu take-of: o potencial de modernização e o potencial reprodução, e é esta equação que hoje se joga não apenas na sociedade portuguesa mas no conjunto das sociedades europeias que, consoante os seus estágios de desenvolvimento, procuram enfrentar os elementos desta equação de forma mais eficiente e a contento da satisfação das respectivas sociedades..
Mas esta equação é mais complexa do que a sinalização daqueles dois elementos (modernização e reprodução), ela pressupõe um passado e um futuro. O Passado é Durão, santana, Meneses; o futuro - ainda é protagonizado por Sócrates (que não tem alternativa interna nem na oposição) . Ou seja, o passado apresenta uma sociedade portuguesa em maturação, com uma crise de atractividade e em plena decadência. Eis o legado de Durão Barroso; depois temos o Futuro - pressupõe elementos duma sociedade dinâmica, atractiva e que consiga funcionalizar a globalização competitiva que está aí e entra-nos pela porta de casa, da empresa, pelo telefone, pelo computador, etc... É aqui, ainda que em fase de maior dificuldade, que se procura inscrever a acção reformista de Sócrates e do seu governo.
Ora, entre o passado de Durão Barroso/Santana/meneses - que antes de o ser já era, e o futuro de Sócrates há que repensar muita coisa. Entre o passado da memória e da segurança dos rendimentos e o futuro do risco - há que apostar na via reformista encetada por Sócrates que, bem ou mal, ainda é o motor de dinamização social e económica do País - que carece de mais modernização, produtividade e competitividade, ainda que essas reformas sejam imperceptíveis diante os 10 milhões de portugueses.
Como é óbvio o potencial de modernização e de reprodução que se ambiciona para o País não se faz entre o passado de Durão e a intriga problemática da dupla de Meneses e santana, faz-se entre o élan governativo de Sócrates, ainda que com mais alguns ajustes governamentais e reestruturação de políticas públicas no domínio social. Um exemplo: o Estado tem (e deve) apostar mais e melhor na concepção e articulação de recursos com as Misericórdias e as Igrejas para combater uma certa exclusão social, basta que para o efeito haja um Plano Nacional que articule as funções dessas instituições de solidariedade social que também são conhecidas pelo Sector não lucrativo (ou 3º Sector, seguido do Estado e da economia dos negócios/lucrativa).
Um outro exemplo passaria pela concepção de um novo Plano Nacional Integrado de Emprego - engajando as PMEs - que gozariam de bonificações, incentivos fiscais (e outros) a fim de integrar, por um período mínimo de 2 anos, jovens licenciados em áreas prioritárias para a economia nacional.
Eis dois pequenos exemplos que poderiam coadjuvar e a motorizar o tecido social e económico nacional. Pois cada tipo de sociedade anda associado à sua localização no tempo social, mas também depende da atitude e da motivação do empresariado que temos, e nós bem sabemos como os nossos empresários ainda são, maioritáriamente, subsidiodependetes. Ora, aqui há que apostar mais no risco, e sendo assim aqui o Estado também poderia criar uma Sociedade de capitais de risco para, precisamente, facilitar o acesso aos capitais por parte das empresas que tivessem projectos mais inovadores para a economia nacional e fossem integradores sociais. Mais uma medida tendente à diminuição do desemprego.
Nada fazer é frustrar o desejo de modernização, é aumentar o desemprego, é agravar a carga fiscal, é intensificar a conflitualidade social, é adensar a desigualdade entre os portugueses. Quando ouvimos as propostas ultra-liberalizantes de Meneses para o Estado e para a economia nacional ficamos com vontade de emigrar para o Corno de África... Do PCP e do BE só se pode esperar mais do mesmo, o cds continua a teorizar para o patronato e o PS de Sócrates ainda é, que se queira quer não (porque é social-democrata e "come" ao centro e à direita), a única tábua de salvação actual que assegura um mínimo de governabilidade e de desenvolvimento.
Então o que é que o poder em funções pode (e deve) fazer, a meu ver, neste Portugal que não cresce nem se desenvolve ao ritmo que desejaríamos, não obstante o impulso reformista do governo Sócrates?!
Creio que o que está em jogo, mais uma vez, é a sustentabilidade económica e social da nossa Economia e a esperança com que a encaramos. Ou seja, a orientação política é reformista a fim de gerar condições de competitividade no futuro próximo. Ela terá de permitir correcções e ajustamentos para aumentar o grau de satisfação dos portugueses às políticas públicas empreendidas nos vários sectores.
Porque razão, então, é que há ainda uma insatisfação na sociedade relativamente a Sócrates? Por um lado, porque as reformas geram rupturas e criam efeitos de descontinuidade na vida das pessoas, por outro, porque entre o sistema de necessidades e expectativas, de um lado, e o quadro de possibilidades e políticas, de outro, ainda persiste um desencontro. Há, pois, que fazer esta aproximação - por efeito de convergência - através do investimento em algumas políticas sociais - de que acima demos dois exemplos.
Só por esta via, creio, se conseguirá articular a satisfação da sociedade portuguesa, de um lado, com a sustentabilidade destes sistema de relações e de dispositivos de políticas públicas que lhe estão associados, por outro lado.
Hoje, a estruturação da sociedade portuguesa está ancorada nesta equação, e não nos pressupostos passadistas e recorrentemente veiculados pela SEDES consoante essa Associação é coloniazada mais pelos sectores da direita ou da esquerda em Portugal. E aqui os grupos financeiros e banco-burocráticos tendem, as usual, a manipular os cordelinhos para que o diagnóstico do estudo vá numa ou noutra direcção.
Em todo o caso, todos ficámos a saber que quando o dr. Santana vier a ser PM (???) - o dr. Vitor bento (da SIBS e da SEDES) terá lugar certo no ministério da Economia, ainda que todos saibamos que milagres só ocorrem em Fátima, e também já não são o que eram...