quinta-feira

Por vezes a mentira resulta... Será ela justificada sempre que esteja em causa o interesse comum?

Uma história que - por analogia - aqui equacionamos ao momento político que actualmente se passa na CML
Um agente da Brigada de Trânsito manda parar um condutor por excesso de velocidade.
Agente: Posso ver a sua carta de condução?
Condutor: Não tenho. Foi suspensa na minha ultima contra-ordenação.
Agente: Posso então ver o registo de propriedade do veículo?
Condutor: O carro não é meu. Roubei-o.
Agente: O carro é roubado?
Condutor: Sim, é verdade. Mas agora que penso nisso, acho que vi o registo de propriedade no porta-luvas quando lá meti a minha pistola...
Agente: Está uma arma no porta-luvas?
Condutor: Sim. Coloquei-a lá depois de matar a dona do carro e ter metido o corpo dela no porta-bagagens.
Agente: Está um CORPO na BAGAGEIRA???
Condutor: Sim, senhor.
Ao ouvir isto, o agente chama imediatamente o seu superior. O carro foi rapidamente cercado por um cordão policial e o capitão aproximou-se do veículo para controlar a situação.
Capitão: Senhor, posso ver a sua carta de condução?
Condutor: Claro, aqui está ela.
Capitão: A quem pertence este veículo?
Condutor: É meu, seu guarda. Aqui tem o registo de propriedade.
Capitão: Fazia-me o favor de abrir o seu porta-luvas lentamente para eu verificar se lá se encontra uma arma dentro?
Condutor: Sim, senhor. (O porta-luvas está vazio)
Capitão: Podia abrir o porta-bagagens do seu veículo, por favor?
Condutor: Sim, senhor. (Não tem corpo nenhum)
Capitão: Não compreendo. O agente que o mandou parar disse que afirmou não ter carta de condução, ter roubado o carro, ter uma arma no porta-luvas e um corpo no porta-bagagens.
Condutor: Ah, claro. E aposto que o mentiroso também lhe disse que eu ia em excesso de velocidade, certo?
Obs: Daqui não decorre que se legitime a mentira ou o recurso à simulação sistemáticamente para atingir o fim em vista: não ser multado e ficar impune diante da armadilha montada ao sr. Agente. Mas em certos casos, como defende alguma doutrina política realista, defende-se que o recurso à mentira se justifica desde que em causa estejam superiores interesses do Estado ou do bem comum. Se aplicarmos este raciocínio à actual situação na CML (com milhares de credores pendurados esperando por receber os seus créditos) - que viu chumbado o seu pedido de empréstimo por aquele ter qualificado (politicamente) o plano de saneamento técnicamente mau, uma mero "plano de intenções" - chega-se à conclusão que se o plano tivesse outra formulação, mais conforme aos parâmetros de avaliação do TC, o mesmo teria passado.
Este erro lamentável do TC, que inverte os papéis e resolveu fazer política através do seu suposto controlo da legalidade das contas públicas, só vem confirmar que, doravante, todos temos de ser raposas-velhas - cheios de truques, simulações e armadilhas - para fazer vingar os nossos objectivos.
Aquilo que, no fundo, o TC me ensinou - enquanto cidadão e observador atento do que se passa na minha polis - com a sua torpe e incompetente decisão foi o seguinte: doravante, todos temos de nos saber disfarçar, ser grandes fingidores e dissimuladores, elaborar belos e garbosos projectos - porque só dessa forma enganamos as autoridades que estão do outro lado da barricada prontos a vetar ou a ratificar decisões que dizem respeito ao interesse comum. Um interesse comum a que este TC foi completamente insensível, além de incompetente.
Chumbe-se a actual equipa do TC e mandem-nos estagiar para o CEJ.