* Milan Kundera * - IL-Ser - [Homens e Mulheres]

Quinta Parte

Capít. 10

Os homens que têm a mania das mulheres dividem‑se facilmente em duas categorias. Uns procuram em todas as mulheres a ideia que eles próprios têm da mulher tal como ela lhes aparece em sonhos, o que é algo de subjectivo e sempre igual. Aos outros, move‑os o deseja de se apoderarem da infinita diversidade do mundo feminino objectivo.

A obsessão dos primeiros é uma obsessão lírica; o que procuram nas mulheres não é senão eles próprios, não é senão o seu próprio ideal, mas, ao fim e ao cabo, apanham sempre uma grande desilusão, porque, como sabemos, o ideal é precisamente o que nunca se encontra. Como a desilusão que os faz andar de mulher em mulher dá, ao mesmo tempo, uma espécie de desculpa melodramática à sua inconstância, não poucos corações sensíveis acham comovente a suaperseverante poligamia.

A outra obsessão é uma obsessão épica e as mulheres não vêem nela nada de comovente: como o homem não projecta nas mulheres um ideal subjectivo, tudo tem interesse e nada pode desiludi‑lo. E esta impossibilidade de desilusão encerra em si algo de escandaloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do femeeiro épico não tem remissão (porque não é resgatada pela desilusão).

[...]

• Dedicado às mulheres e aos homens, não necessáriamente por esta ordem..
• Até dá vontade de perguntar alí ao Kundera se ele era o Tomás, ou se o Tomás era um personagem "fora dele".