Regresso a Vergílio Ferreira - Na tua fa..
REMAKE, 2016
O regresso a Vergílio Ferreira é, por definição, a descoberta do eu e a definição do outro, aliado à insuficiência da comunicabilidade humana, como que a provar que ou as palavras estão gastas ou o que elas significam ou representam esbarram naquela porta: a da incomunicabilidade. No fundo, o regresso ao autor é sempre uma tentativa de nos superarmos, um apelo à transcendência que, por vezes, está à distância duma mão.
O regresso a Vergílio Ferreira é, por definição, a descoberta do eu e a definição do outro, aliado à insuficiência da comunicabilidade humana, como que a provar que ou as palavras estão gastas ou o que elas significam ou representam esbarram naquela porta: a da incomunicabilidade. No fundo, o regresso ao autor é sempre uma tentativa de nos superarmos, um apelo à transcendência que, por vezes, está à distância duma mão.
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"Não é fácil falar de amor – do amor – num romance como Na tua face que se move num complexo jogo de conexões e espelhos em que todas as coisas parecem ter o seu duplo, em que tudo parece oscilar entre o que se vê e o que se imagina ver, entre o que se vive e o que se evoca. Não é fácil determinar o lugar que o amor aí ocupa se não o considerarmos também ele como sentimento duplo, passível de ser questionado e olhado nas suas duas faces: o real e o irreal, o visível e o invisível, o possível e o impossível. Tudo nesse amor evocado por Daniel é duplo: Ângela e Bárbara são duas faces da mesma moeda que o acompanharão sempre. Ângela será a presença constante na conjugalidade partilhada da casa, dos filhos, das férias, mas também das leituras, das conversas, dos momentos de dor e silêncio… Bárbara será o objecto da evocação obsessiva; manter-se-á presente na memória de um breve instante, no eco de um chamamento, como manifestação de plenitude, de perfeição, de eternidade, a faceque se vê, mas só no impossível:
“Então olhei-a em deslumbramento e terror no intocável do seu ser. Queria ver-lhe os olhos verdadeiros e a boca e a face, mas não estavam lá. Porque eram só uma aparição difusa incontornável como a luz do ar que não se via e era só iluminação. (…) Via-lhe a face mas só no impossível como lha vejo agora” (pp.24-24).
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Etiquetas: Na tua face, romance, Vergílio Ferreira
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