sexta-feira

Evocação de Alexandre O´Neill. Amigo e Motete



[1924-1986] - 
Faria hoje 90 anos se fosse vivo este grande autodidacta. Mas não precisa, pois já se imortalizou. 

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A água da fonte
canta e brilha
a sonhar-se redonda
na tua bilha.

E já no copo, a brilhar,
pressente a simples beleza
de estar assim sobre a mesa,
familiar.

Mas bebe-a, bebe-a também,
com o seu peso e o seu brilho,
e sentir-se-á como o filho
na doçura da mãe.

1964. Fac-simile in Relâmpago. Rev. Poesia, nº. 13, Out. 2003.


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Amigo
Mal nos conhecemos 
Inaugurámos a palavra «amigo». 

«Amigo» é um sorriso 
De boca em boca, 
Um olhar bem limpo, 
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece, 
Um coração pronto a pulsar 
Na nossa mão! 

«Amigo» (recordam-se, vocês aí, 
Escrupulosos detritos?) 
«Amigo» é o contrário de inimigo! 

«Amigo» é o erro corrigido, 
Não o erro perseguido, explorado, 
É a verdade partilhada, praticada. 

«Amigo» é a solidão derrotada! 

«Amigo» é uma grande tarefa, 
Um trabalho sem fim, 
Um espaço útil, um tempo fértil, 
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa! 

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca' 


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Motete

Toma a mota. Monta. Arranca. Aí vais traquejando. Que tara. Que ponta. Que taraponta. Estás na montra mas na partas a tonta. Rápido é pá derrapa. Acelera já. Olha o tarado trava. Levanta-te. Está na hora. Paga.

in DL, 1971.


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