Dos ratos e dos homens - Alexandre O´Neill -
O rato de automóveis não se reforma como rato de hotel.
Ao volante do Supercarro, o rato Super-Homem espatifou-se. Antes de morrer, chamou pela mãe.
O receptador tinha um recorde: 250 tampões adquiridos numa semana.
Cidália, princesa de três bairros, baixou de golpe a bandeira, dando partida para o rali dos Ratos.
Nem discursos género "A juventude transviada...", nem lamúrias estilo "Meu filho Meu filho", nem o medo da Polícia foram mais fortes, em Alberto, que a tentação de roubar outra vez o carro.
Certos ratos têm como ética roubar carros mas não roubar o que possa haver dentro dos carros.
Um rato de Lisboa só roubava os carros com matrícula do Norte.
Regenerado, o rato deixou-se motivar por apelos publicitários menos fortes que o do automóvel. Procurou a crista doutra onda.
Ao soar e luzferir o alarme do carro que atacava, o rato quase abraçou, na fuga atabalhoada, o guarda-nocturno que corria para ele. Por um momento, foram, os dois, como jubilosos amigos que se reencontram, e estiveram a ponto de assumir esses papéis. Mas logo cada um retomou o seu desempenho real na situação real. O guarda-nocturno prendeu o rato, que se deixou prender como lhe competia...
O rato rouba o carro.
O rato rebenta o carro.
O rato marra, mata e morre com o carro.
Ramén!
in A Capital, 1973
N. versão in Flama, Out., 1974.
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