segunda-feira

O rastilho dos meets e o ardil do falso (ou imaginário) racismo.

"O 'meet' do Vasco da Gama bateu bué. Mas houve 'beefs' e até a bófia apareceu"Encontro marcado no Facebook reuniu cerca de 600 adolescentes junto ao Centro Comercial Vasco da Gama e acabou com a intervenção da PSP, cinco agentes feridos  e quatro detenções. Há pelo menos mais quatro "meets"  já agendados para Queluz, Lisboa, Amadora e Oeiras. O primeiro é amanhã. Link


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Quando se tenta compreender os princípios, as motivações e as acções daqueles que organizam os "meets" - via redes sociais - cujo impacto negativo conheceu já um efeito lamentável no Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa, numa zona habitada pela classe média-alta, não se consegue identificar uma causa nobre, uma orientação ou filosofia de vida que faça do encontro uma partilha de valores, de informação útil, de experiência ou de conteúdos que permitam elevar o nível de consciência cívico e de educação para a cidadania.

Bem pelo contrário: a linguagem utilizada é pobre, "rasca" e pré-conflituosa, os termos utilizados pelos adolescentes entrevistados vão pouco mais além do que: "O meet é para socializar, tirar fotos e não para andar à porrada. Para isso não se criam meets, criam-se combates de rua", diz Bruno, rapaz de Chelas, 17 anos. Seguem-se dezenas de likes. link

Perniola, num dos seus ensaios, cita um outro exemplo que todos podemos reconhecer na nossa vida diária: um líder político faz uma declaração ofensiva, à noite dá parcialmente o dito por não dito, na manhã seguinte afirma que havia uma parte de verdade nas suas afirmações, para depois sustentar que era uma frase irónica e por fim, no 3.º dia, conclui ter sido mal interpretado.
Ou seja, de cada uma das vezes o tal agente político atinge uma parte da audiência, que é considerada uma espécie de tábua rasa profundamente sensível e receptiva aos apelos sociais, especialmente numa conjuntura económica e socialmente recessiva, mas incapaz de reter o que é dito sobre ela para além do momento da recepção e da transmissão daqueles sound bites de circunstância.  
Isto significa, na prática, - e caso não se tomem medidas de carácter preventivo e disciplinar, algumas de tipo de punitivo, sempre que pessoas e património estejam em causa, - que a semana passada a confusão foi lançada na zona envolvente ao CC Vasco da Gama; mas amanhã ou depois a mesma confusão e anarquia deliberadas, resultado de revolta social e de vontade de perturbar a ordem pública, nem que seja para dizer que (em nome dos mobilizadores destes "meets" sem qualquer finalidade social) - que nós existimos, estamos vivos, logo pensamos e actuamos!!!
Com efeito, todo o enredo destas manifs são muito pobres, nenhuma mensagem social oferecem à dita "comunidade de amigos virtuais, e, se assim é, à luz dos factos conhecidos e disponíveis, por que razão, numa linguagem verdadeiramente desafiadora das autoridades um bando de adolescentes continua à solta pela cidade, podendo - em nome duma revolta sem causa e dum projecto social inexistente - que tem uma expressão étnica acentuada (e prefigurando até uma modalidade de racismo invertido do negro ao branco) - poderá continuar a ameaçar pessoas, bens e a manutenção da ordem pública?!
O Facebook ou o Twitter não foram concebidos para este tipo de projecto sem causa ou finalidade social, que, no limite, e caso as autoridades policiais não interviessem a  tempo, poderiam desencadear um conflito de baixa intensidade, mas afectando a segurança de largas dezenas de jovens que, inconscientemente, se veriam envolvidos em conflitos interpessoais sem controle e fim à vista, até porque, sustentam alguns, esses "encontros" são engendrados sob a capa de reuniões alargadas de jovens, não já imbuídos do espírito que os leva a caminhar a Santiago de Compostela, mas, verdadeiramente, os seus mentores aproveitam-se da ingenuidade dos demais para fazerem acertos de contas entre grupos ou clãs rivais que contam já um historial de conflito e violência.
As redes sociais não passam de meras ferramentas utilizadas para a comunicação entre as pessoas e as organizações; elas jamais se substituem às causas, aos projectos e à vontade colectiva de sectores da população que, num dado momento da sua história e evolução, entendem utilizá-las para racionalizar a sua mensagem.
O problema é quando não há mensagem, resta apenas o ódio, a revolta social e um certo aproveitamento da ingenuidade da maior parte daqueles adolescentes que, piamente, acreditam que o agendamento desses meets tem como finalidade tocar umas guitarradas, cantar e prometer uma nova esperança sob os céus e pronunciar as palavras Peace & Love.
De facto, a eficácia de uma democracia, já que ela se tem revelado impotente para destituir um Governo incompetente e ilegítimo na arte de governar, radica na sua capacidade de gerir informações. O que exige alguma coordenação entre a intelligence nacional (que não serviu para nada na antecipação dos problemas do BES e conexos...) e as forças de segurança clássicas - cuja missão é prevenir que multidões em fúria provoquem desacatos na ordem pública, com isso procurando fazer uma demonstração de força perante as autoridades policiais e o país.
Quem verdadeiramente pretende divertir-se a uma escala humana considerável não procura um Centro Comercial numa zona fina da cidade, vai para um descampado, cujas condições naturais são mais propícias ao ajuntamento de grandes multidões.
Numa palavra: é preocupante este tipo de encontros sem qualquer finalidade social. Perante esta originalidade na forma de comunicar e de reunir em Portugal, haverá três formas de reagir a esta anarquia adolescente que, a cada momento, pode intensificar o rastilho para uma explosão social urbana (e suburbana) artificializada e que, com base na raça ou na etnia, poderia facilmente ser instrumentalizada pela esmagadora composição social não-branca que integram esses meets.
A primeira forma de reacção a este epifenómeno social seria falar do assunto como Cassandra, em tons melodramáticos, o que configura, desde já, uma reacção negativa e a evitar liminarmente - por parte das autoridades policiais e (outras);
A segunda forma de reacção perante esta adversidade - consiste em analisar o modo como estes meets são agendados como o Doutor Pangloss do Cândido de Voltaire, defendendo a não existência do mal e da perversidade humanas, o que também seria uma idiotice, já que a natureza humana comporta esta dimensão (explícita e oculta, até por via do ressentimento social, ideológico, religioso, étnico, etc) - e que manifestamente parece estar presente no modus operandi que levou 600 adolescentes ao Vasco da Gama - certamente não foi para comprar bacalhau, telemóveis, comer um gelado, nem contemplar a Ponte Vasco da Gama - que empurra a linha do horizonte para Alcochete;
A terceira forma de reacção, que parece mais realista e aconselhável da óptica das autoridades e da sociedade em geral cujos valores aqueles salvaguardam, é a de olhar para esse fenómeno social emergente - não com a reactividade do bombeiro (que apaga o fogo depois dele ser posto) - mas seguindo a perspectiva do segurador, i.é., adoptando uma postura de pré-actividade, o que implica conhecer a forma como se organizam, comunicam e as motivações que estão por trás dessa logística. 
Não vale a pena seguir a atitude passiva do bombeiro, que consiste em esperar que o fogo se declare para o combater. A experiência revela que essa política é muito arriscada. 
Daqui resulta uma conclusão óbvia, como forma de controlar alguns desses delinquentes (sublinho "alguns", porque a maioria dos jovens são ingénuos e facilmente instrumentalizados nesses meets) - tal implica uma vigilância apertada relativamente aos líderes desses grupos, tendo em vista neutralizar os seus intentos, pelos menos nos moldes e na linguagem desafiadora do passado recente, o que não prenuncia nada de bom. 
Provocar as autoridades policiais de modo a que os seus agentes percam a cabeça e apliquem a força de forma desproporcional e desnecessária diante das câmaras de televisão, "já foi chão que deu  uvas", pois esse também parece ser o ardil pobre de alguns líderes de grupos de etnia não-branca como forma de se vitimizarem duma condição social e étnica para, a partir desse simulacro mediatizado, extrapolarem os seus efeitos e apresentarem-se à sociedade como as vítimas do racismo que verdadeiramente não existe em Portugal.
Infelizmente, o que está a ocorrer entre nós, são manifestações lamentáveis de racismo invertido, quer do negro relativamente ao branco, quer doutras minorias que procuram impor a sua micro visão dos valores que têm da sociedade à maioria que tem uma outra cosmovisão. 
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