domingo

Lapsus Linguae

Já perdi a conta aos debates que moderei entre os dois. Foi em conferências da TSF e da Ordem dos Técnicos Oficias de Contas que eles criaram a tradição de, anualmente, discutir política de forma séria e sem campanha pelo meio. Dessas conversas (justiça, finanças públicas, educação, saúde, sistema político e tantas outras matérias) resultou, como gosta de dizer o socialista, uma "estima mútua". Rio e Costa não são amigos, menos ainda companheiros na luta política, mas o respeito que têm um pelo outro e pelos eleitores permitiu-lhes encontrar nesses debates muitos assuntos em que estão de acordo.
Com caminhos bem diferentes, os dois criaram, pela obra feita, uma notoriedade que os fez chegar a este momento como se estivesse escrito nas estrelas que terão de se enfrentar. É isto que António Costa, na entrevista de ontem ao Expresso, parece desejar, mas, na verdade, é bem capaz de se tratar de um lapsus linguae, consequência da pressa que revela, nessa entrevista, em querer livrar-se de António José Seguro.
António Costa garante que "verdadeiramente" o seu "adversário neste processo é Rui Rio", dando como certo que será escolhido para ser candidato a primeiro-ministro pelo PS, e lembra que as sondagens mostram o desejo de os portugueses mudarem de protagonistas, com Rio a ser o preferido da direita.
Verdadeiramente, Costa já está a pensar, por mais que o negue, em Rio como parceiro de governo, dando igualmente como certo que derrotará Passos Coelho nas legislativas. Mais do que a "estima mútua", é a visão do que deve ser a política que une estes dois protagonistas e será o desejo do eleitorado a determinar se eles vão ou não governar juntos.
O adversário de Costa neste processo não é Rio, nem ele verdadeiramente quer que seja. Se fosse, a confiança nas vitórias (primárias socialistas e legislativas) não seria tão grande como a que ele revela na entrevista de ontem. Se também o PSD mudasse de protagonista para as próximas eleições e escolhesse Rio, as hipóteses de vitória de Costa desciam substancialmente. Nos debates a dois foi mais o que os uniu do que o que os separou, mas em campanha se perceberia como eles são muito diferentes. E não é apenas uma questão de pronúncia.

  • (Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo acordo ortográfico)

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Obs: Medite-se na reflexão oportuna de Paulo Baldaia.

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