quinta-feira

Uma fraude - por Vasco Pulido Valente -




Seguro, é verdade, podia resolver o caso, saindo imediatamente de secretário-geral e convocando um congresso. Preferiu resistir palmo a palmo ao que ele considerava uma imerecida ofensa pessoal e inventou a absurda manobra das “primárias”, com a desculpa de que se fazia em França (a designação de Hollande para presidente foi o meritório resultado). Costa, sem maneira de se opor a este delírio, acabou por aceitar e hoje, entrincheirado em disputas processuais, vê a intervenção, que ele supunha salvífica, perder o seu peso e o seu sentido original. O cidadão comum, mesmo o cidadão interessado, não compreende esta história esotérica, que se passa ao lado da sua miséria e que tanto interessa os facciosos das duas partes, agora engolfados numa querela ociosa.

Pior ainda: as “primárias” são inconciliáveis com a política portuguesa, em que a “classe operária”, apesar do esforço do PC, não produziu uma cultura autónoma e as diferenças das três seitas do “arco governativo” mal se distinguem. Interrompendo as tradições políticas do século XIX, a Ditadura impediu que se formassem e consolidassem as grandes correntes que dominaram a sociedade moderna: o obreirismo, o sindicalismo, o socialismo, o anticlericalismo, o conservadorismo. Em 2014, há talvez um pequeno número de “famílias católicas”. Mas não há famílias socialistas, ou CDS ou PSD. O eleitorado, como geralmente se reconhece, flutua em grosso com os chefes de partido e o rendimento disponível. Costa e Seguro insistem que os participantes declarem a sua “concordância com a Declaração de Princípios” do PS. De que serve isto e que raio de confiança inspira, quando o próprio PS (como, de resto, o CDS e o PSD) é o primeiro a não os respeitar? Que nova fraude nos querem impingir?

Por Vasco Pulido Valente
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Obs: Medite-se nestas contradições expostas por VPV, as quais parecem ter fundamento histórico entre nós, especialmente se atentarmos no efeito báscula que se exerce entre PS e PSD nos momentos eleitorais. 

I.é, os eleitorados oscilam entre um e outro partido não em função do ideário ou do rasto ideológico de cada um, ou do seu programa eleitoral comunicado à sociedade, cujas promessas sabemos antecipadamente converterem-se em mentiras políticas institucionalizadas (vide o caso da mega-fraude eleitoral e o erro de casting que foi e é Passos Coelho!!!) - mas em função dos chefes que, a cada momento, aqueles partidos oferecem ao mercado político e eleitoral - tendo em atenção o carisma, a liderança e a empatia que os respectivos líderes partidários conseguem estabelecer com os eleitorados e a sociedade em geral. 

Numa palavra: mais importante do que os partidos, estão os líderes que consigam inspirar mais eficientemente as bases sociológicas de apoio e com elas estabelecer um laço psico-afectivo, antecâmara da criação de legitimidade política.

A esta luz, só me ocorre perguntar o seguinte: o que pensarão os agricultores, os pensionistas e reformados, muitos funcionários públicos e os portugueses em geral - do CDS de Paulinho Portas e do PSD de Coelho?!

Coisa boa não será, certamente!!!

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