Os novos cretinos mediáticos
É hoje frequente o público em geral, especialmente através das redes sociais, recorrerem ao elogio fácil e gratuito acerca do que a personalidade A, B ou C pensam, dizem ou fazem. E quando algumas dessas pessoas morrem, os comentários acerca desse fenómeno, e sublinho que a morte é sempre um "escândalo", jorram elogios fúnebres sobre esses titãs da sociedade, alguns são imediatamente promovidos a grandes pensadores e feitores de causas excepcionais que, até então, a sociedade desconhecia.
Nesta relação de ampliação social, a televisão é a grande responsável, porque é ela que promove a sensação que muitas pessoas têm acerca da sua (suposta) influência, e quando se confrontam com a realidade concluem que, afinal, aquela sensação não corresponde à realidade mas, apesar disso, existem pessoas que matariam só para conseguirem 3 minutos de presença nesse meio mágico que é a caixa negra, apenas e tão só pelo prazer de serem vistas e de serem consideradas importantes na sociedade, dado que no seu próprio metier são desprezadas pelos seus pares. Isto acontece muito no meio académico...
Desta feita, os meios de comunicação em geral, e a televisão em particular, geraram um novo tipo de personagem na nossa sociedade, o qual vive em função de um convite do jornalista para ir debitar meia dúzia de banalidades ao jornal da noite da RTP ou da SIC. Alguns vão também à TVI. Ou seja, estes novos cretinos mediáticos vivem por causa duma pretensa popularidade, que pode ou não tornar-se rentável, mesmo quando não se conhecem méritos de pensamento, raciocínio e de análise ou um conjunto de outras virtudes intelectuais e/ou pessoais que justifiquem esse fenómeno da imagem e da popularidade.
Esta relação com a televisão por parte desses analistas da banalidade, alguns dos quais vivem em função do tal convite do pivot do jornal das 20h, decorre da necessidade de algumas dessas pessoas serem reconhecidas, populares ou famosas, pelo que são os media as alavancas que alimentam esse fenómeno e que acabam por transformar essa gente em players com alguma influência mediática, logo com um certo poder, embora esse facto se revele lamentável, atendendo ao baixo nível intelectual, ético e moral de alguns desses personagens.
As suas opiniões, apesar de não terem qualquer valor, são divulgadas, a sua presença, embora suscite desconforto e às vezes repulsa, torna-se aceite, e a sua mensagem, vazia de conteúdo, é repetida vezes sem conta.
É desta dinâmica alimentada pelos media que os novos cretinos mediáticos nascem e proliferam e, não raro, esse personagem tende a confundir poder com popularidade, a capacidade de influência com o nível de conhecimento que se tenha dele, confunde ainda o seu suposto prestígio com a notoriedade e, claro, sendo que inúmeras vezes nada têm para dizer, confundem também a mensagem com o meio, e esquecem-se do conteúdo que devem transmitir quando fazem as suas vazias aparições públicas, muitas das vezes depois são acompanhadas por vídeos de modo a que a turba, sob o efeito de contágio, os divulgue com a habitual alienação de quem não pensa nada acerca de coisa nenhuma, só difunde.
Infelizmente, as redes sociais, com o Facebook à cabeça, converteram-se numa grande lixeira de supostos intelectuais que vão às TVs mandar umas bocas e depois fazem migrar os respectivos vídeos - devidamente "entubados" - para esse outro canal de divulgação massiva. O mesmo é válido para a rádio e imprensa, ainda que em menor escala.
Isto acontece por causa da própria natureza humana e do egocentrismo que tolhe a vida de alguns desses novos analistas do simbólico. Por regra, o idiota mediático sonha, vive e pensa que para ter um lugar na sociedade tem de conseguir o seu minuto de fama e de glória nalguns daqueles meios, especialmente a TV - por causa da promoção da imagem, e tudo faz para perseguir obsessivamente esse objectivo, convencido que é nele que reside o seu futuro.
Por outro lado, o novo idiota mediático crê que a quantidade de minutos e de linhas que consegue debitar ou que falem dele por essas prestações mediáticas são directamente proporcionais à importância pessoal e intelectual que ele se atribui e no contexto em que se desenrola a sua narrativa. Por isso passam a vida a pedir aos "seguidores" que visionem os seus vídeos, que de forma intensiva e doentia publicitam. E é dessa relação perversa, segundo a subjectividade destes novos parasitas sociais, que eles julgam incrementar a sua quota de pretensa influência e poder na sociedade, mesmo que na sua universidade, na sua empresa, na sua organização ninguém os leve a sério. Ou seja, que não gozam do reconhecimento dos seus pares naquelas instâncias, daí a compensação que avidamente buscam na magia da caixa negra.
Naturalmente, este esquemas relacionais desenvolvem-se entre agentes políticos e jornalistas, mas também entre académicos e jornalistas, que adulam, mimam e aos quais fazem confidências, na expectativa de que desse conúbio de interesses nasça uma nova e mais revigorada relação que leve o jornalista a convidar o cretino mediático a debitar as suas habituais banalidades e, por essa via, a intoxicar a opinião pública e a fazer dela um círculo mais alargado de influência e um instrumento para pasto de alguns desses egocêntricos que fazem da análise dos fenómenos sociais um verdadeiro negócio da auto-promoção e de vaidade.
Infelizmente, este é um negócio que ultrapassou em muito o mercado clássico dos actores políticos...
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