quinta-feira

Financialização da economia e da política portuguesa. Quanto vale a birra do Sr. Portas?



O país assistiu chocado aos milhões de euros perdidos pela banca e pelas empresas do PSI-20. Tal, entre outras razões, resultou duma demissão de um líder de um pequeno partido com representação parlamentar que hoje integra o governo, mas que, em rigor, nunca ganhou umas eleições legislativas em Portugal, logo com uma legitimidade política próxima do ZERO. Trata-se, pois, dum líder e dum partido que tem hoje na vida política nacional um peso descomunal relativamente ao seu peso efectivo em termos de representação sociológica. Sendo que a sua função, ao longo dos últimos anos, tem sido posicionar-se (convenientemente) para se coligar com aquele que se espera venha a ser poder em Portugal. O que tem sucedido com o PS e o PSD. 

Nesse sentido, o cds/pp, é um partido-muleta que cavalga o poder sempre à boleia de um e de outro, mas fá-lo sem legitimidade política própria, embora aceite as pastas que quem ganha o poder lhe dá.

Este posicionamento, ou extrema dependência do partido maior do partido menor no quadro da coligação (contranatura) que aactualmente arruina Portugal, agrava-se quando a economia perde milhões com estes conflitos e birras de gente sem sentido de Estado e que desconhece verdadeiramente as regras da democracia representativa. Esse processo de perdas brutais pela oscilação do valor das acções cotadas em bolsa, podemos aqui designar de economia de casino, ou de financialização da economia e da política na idade do capitalismo informacional globalizado.

E isto acontece porquê? 

Em boa medida, porque o desenvolvimento e alargamento dos mercados são alimentados por um processo de acumulação financeira continuada que, com a valorização dos títulos em Bolsa, gera efeitos de riqueza que aumentam o consumo e o investimento. Teoricamente será assim mas, na prática, assim não tem sido. 

Mas foi sintomático o preço que a banca, o défice público e as maiores empresas nacionais pagaram pela birra do Sr. Portas que, em rigor, deveria primeiro ganhar eleições legislativas e só depois reclamar a legitimidade política a que teria direito em conformidade com isso. Mas Portas nunca ganhou eleições legislativas, ele é só o "monarca" entronizado no seu pequeno partido, e aí tece uma notória e pública rede de vassalagem pessoal que chega a ser caricata, sobretudo para quem observa o fenómeno político com alguma atenção. 

O perigo desta concepção de organização da economia é que o modelo da economia de casino (de pendor neoliberal) considera que as aplicações financeiras nos mercados de títulos não são meros casos de circulação de capitais não produtivos, mas deve ser vistos como elementos produtivos da economia financiados pelas mais-valias continuadas que geram. 

E são esses mercados financeiros, vistos como sistemas de informação que produzem mensagens (hipertextos) - em que os fragmentos da informação remetem de uns para outros até formarem mensagens consistentes, dotadas de credibilidade junto dos operadores financeiros, que são avaliados como realidade, ou pelo menos a tradução (virtual) dessa realidade.

Portanto, esta mini crise (pessoal, institucional e financeira) decorrente da birra do Sr. Portas, encontra explicação mais larga no próprio funcionamento do mercado global financeiro, enquanto mecanismo automático que se regula a si próprio, sem que haja algum poder que o possa controlar ou interferir no modo como esse mecanismo gera as suas mensagens.

Mas o Sr. Portas, líder dum grupúsculo partidário, não pode (nem deve) continuar a pesar ao sistema financeiro arruinando a cotação dos títulos das maiores empresas portuguesas cotadas em Bolsa nem, por extensão, pode continuar a arruinar a bolsa aos 10 milhões de cidadãos portugueses que nem sequer votaram nele, e duvido que o façam doravante. 

Afinal, quanto custou a Portugal a birra do Sr. Portas? 

Espero que quando se apurar esse valor, porventura com outras facturas dos submarinos.., se possa enviar a conta final para pagamento ao Largo do Caldas... 


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