sábado

Ministério do Futuro

Falta a Portugal, entre muitas outras coisas, uma espécie de super-departamento que equacione e racionalize o futuro em termos de bem comum, ou seja, elaborando uma prospectiva exploratória que faculte um panorama dos futuros possíveis. Onde? Na economia, da sociedade, na cultura, na política e em todos os sub-campos daquelas grandes áreas, como a demografia, o ambiente, a educação, saúde, etc. Não é por acaso que em certos países da Europa do Norte existem esses departamentos, nalguns casos com o enquadramento de ministérios do futuro como forma de melhor cenarizar os futuros pouco prováveis, tendo em conta o peso dos determinismos do passado e da confrontação dos projectos de actores no presente.
Sendo certo que para cada cenário há um jogo de hipóteses elaborado pela tal propectiva normativa a fim de reduzir a ratoeira clássica que muitas vezes nos leva à confusão de previsão e planeamento, ligando a um erro de previsão o que não passa de um desvio relativamente aos objectivos.
Isto é tanto mais válido quanto, desde 1973, que o futuro deixou de se assemelhar ao passado, daí a importância crescente do horizonte da prospectiva, levando ao reconhecimento de que os modelos do passado assentes nos dados e elementos do passado são impotentes para prever equações que temos de fazer no presente: se fazemos grandes investimentos públicos (TGV e conexos?) - é uma questão estratégica que ressalta dessa dúvida metódica que deveria presidir à gestão política corrente.
Daí que a vantagem da existência de um Ministério do Futuro, importando as boas experiências de outros países, procure espelhar as roturas que os modelos nos dados e nas relações do passado são, doravante, cada vez mais aleatórios e, por essa razão, estão cada vez menos em conformidade com os esquemas racionais de pensamento clássicos.
Exércitos de economistas debruçaram-se sobre a previsão energética após o 1º choque petrolífero. A previsão de consumo energético em 1985 revelou-se duas vezes menos elevada do que geralmente se previa em 1974.
Com isto concluímos pelo seguinte facto: se até os grandes experts se enganam é porque a informação que manipulam é incorrecta ou não está isenta de desinformação, ou ainda porque equacionam deficientemente os problemas que mascaram de verdadeiras questões em cada conjuntura.
Desse modo, os erros de análise afectam a previsão, o que leva, por sua vez, a anúncios públicos de projectos que podem não ser vitais para uma dada economia nacional, e esse conjunto de erros de forma encadeada, como a insuficiência da informação, inexactidão dos dados, erros de interpretação ou ainda obstáculos epistemológicos (um comezinho ex: o país ainda não compreendeu as vantagens da afamada revisão constitucional proposta pelo psd de Pedro Passos Coelho) conduzem a decisões e a políticas públicas que podem comprometer as futuras gerações.
Donde ressalta a grande vantagem de, em vez de o país vegetar nessa ideia peregrina da revisão constitucional que vive de normas e de mais normas, dever centrar-se em elaborar um Plano para Portugal, o que exigiria a arte da mância, ou seja, ter a visão que hoje nos falta para racionalizar o necessário.
Uma ideia que se alimenta da convicção da existência de uma correspondência entre o mundo do divino e o nosso mundo, bem como na convicção de que todo o Universo está entrelaçado com a história do ser humano. Que cada vez tem menos sonhos, visões e, consequentemente, produz políticas públicas menos credíveis que não acautelam nem o presente nem o futuro das próximas gerações.

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