domingo

Um conceito conexo de cidade-criativa: o "Ministério do Futuro"

Sabemos que hoje governar é decidir com elevado processo de erosão social e político. É o papel vigilante dos media, sempre em busca de casos-quentes, a pressão conexa da opinião pública, a impreparação de alguns agentes políticos, o imprevisto, o casuísmo.. Tudo favorece o rápido desgaste do poder dos governos nacionais.
Quando transpômos o mesmo raciocínio para os governos locais, ou seja, para as autarquias o esquema não é muito diferente. Carmona caíu por pura incompetência e falta de liderança, projecto e equipa. Hoje, do lado de algumas candidaturas, a de H.Roseta por exemplo, já se sabe que entendimentos só de tipo pós-eleitoral, na mais pura vingança e rassabiamento contra o PM - que apanha A. Costa de permeio. Tudo hoje comporta um desgaste que não existia no passado.
Há uma aceleração maior da vida tecnológica, social e económica e tudo isso subverte os tempos clássicos da decisão política, mas é essa hiper-velocidade dos fenómenos sociais com peso político que reclama um novo olhar para o futuro da governação: seja no plano nacional através dos governos; seja no plano local através das autarquias. Assim, estudar o futuro é o grande desafio para diminuir as zonas de incerteza, o que exige planificação e muita prospectiva e cenarização para enquadrar e resolver os problemas.
Por outro lado, diante da complexidade dos problemas as populações exigem hoje que os políticos sejam uma espécie de videntes que conheçam ao mesmo tempo o passado - presente - futuro - como duma única unidade temporal se tratasse.
O que se pretende significar com isto? Reconhecendo que o político está cada vez mais privado de margem de manobra, ele perdeu credibilidade junto das populações. Sem ideias dobra-se à ortodoxia financeira. Há anos que Portugal vegeta nisto, sem conseguir pensar o futuro com fulgor e fazer obra. De Vasco da Gama e de Camões (que foi o maior repórter do Ocidente) não se consegue importar a aventura para ver o horizonte e desenhar mapas de desenvolvimento. O resultado é um corpo social (e digital) fracturado: Casa Pia, caso Moderna, apito dourado, fuga de Zé Barros para Bruxelas, DREN, etc, etc.. Tudo isso mancham a seta do tempo no seio das práticas oriundas do arco da governação.
As rádios e TVs convidam sempre os mesmos cromos. Tudo se torna previsível, chato, bafiento. E o que é urgente fica adiado: equacionar as grandes políticas públicas para Portugal.
Que fazer?
Nos governos a criação de ministérios do Futuro não seria má ideia (à semelhança da Europa do Norte), e nas autarquias o mesmo se poderá dizer. É certo que agora temos o Compromisso Portugal integrado por gestores ricos e empresários folgados que querem mudar as actuais elites numa versão soft de assalto ao poder.
Mas tudo está por fazer: a promoção da Língua de Camões no exterior (máxime nos PALOP) é uma miragem (inflamada por conflitos paroquianos); a Agricultura e a Indústria não conhecem investimentos nem inovação há décadas; a I&D faz o take-of lentamente; a Segurança Social sucumbe ao envelhecimento e desemprego da população; a Saúde é um cancro (o respectivo titular é políticamente "cancerígeno"), apesar dos genéricos; e a classe dirigente, incluindo a multidão de deputados, é inepta política, técnica e culturalmente.
Muitos investigadores têm melhor currículo que certos membros do governo (sejam do PS, sejam do PSD).
Daqui decorre a necessidade de se criar departamentos de prospectiva, uma espécie de futuribles à portuguesa que sistematize as grandes tendências do Mundo, da Europa e de Portugal. Mas poucos conhecem este útil instrumento de apoio à decisão de empresas e do Estado.
Se o governo desconhece esta necessidade entra em descoordenação de células que deveriam, articuladamente, fazer prospectiva e planeamento estratégico gerador dum sistema de informação de qualidade convertendo inputs em outcomes.
Se um governo local/autarquia não equaciona o futuro fica como MMendes, terá de requisitar um polícia (4º recurso) para arranjar candidato às eleições intercalares de Lisboa.
Em suma: o conhecimento é fonte de riqueza, mas também pode inviabilizar trajectórias de desenvolvimento. Como sugestão, fica a ideia: criem-se pequenos departamentos para pensar o futuro. Por cada 100 ideias amadurecidas 10 darão que pensar, e dessas uma ou duas serão capaz de se aproveitar nesse tal "armazém de ideias".
O problema é que hoje falamos muito e pensamos pouco (e mal), daí resulta tanta asneira e prejuízo para Portugal e para os portugueses.

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