terça-feira

A economia do mar segundo Cavaco Silva e o seu passado no sector

A década de 80 e parte da seguinte beneficiaram de grande modernidade e de desenvolvimento em Portugal. Auto-estradas, hospitais, escolas e demais infra-estruturas de apoio às populações emergiram em Portugal com o cavaquismo. Foi o período de ouro da nossa adesão à então CEE que o então PM aproveitou da forma que melhor pode e soube. Uma adesão assinada por Mário Soares no Mosteiro dos Jerónimos, em 1986.

Aparentemente, todos aqueles recursos foram bem utilizados, todos ganhamos com eles em termos absolutos mas, de facto, uma análise mais fina impõem-nos uma conclusão diversa. Vejamos alguns exemplos ilustrativos dessa nova perspectiva dos factos do nosso passado recente, já que hoje Cavaco defende com "unhas e dentes" a economia do mar como um sector estratégico para o futuro da economia portuguesa.
Parece até que o PR descobriu a pólvora que, por exemplo, o economista e ex-ministro das Finanças, Ernâni Lopes anda a falar e a escrever sobre o tema há mais de uma década.
Neste quadro contrastante, é bom lembrar esse passivo do cavaquismo que a todos nos envergonha, além de nos ter deixado mais pobres e atrasados, como, de resto, ainda hoje se encontra o Algarve mais profundo, o Algarve do interior.
Os milhões que entraram por dia para fazer a famosa Formação Profissional (ao tempo da UGT de Torres Couto) saldaram-se numa imensa corrupção. Os portugueses não se qualificaram nem adquiriram novas competências, e os recursos foram canalizados para comprar carros e casas de luxo. A agricultura foi igualmente abatida, os agricultores nacionais eram pagos para não produzir, e os excessos eram destruídos, muita fruta foi enterrada nesse tempo glorioso de Cavaco!!! Isto foi dramático para um país como Portugal que Blockquotetinha uma larga fatia da sua população activa no sector agrícola, que assim fora desmantelado. Tudo sob os olhos pouco vigilantes do governo de que Cavaco Silva foi PM. O mesmo que hoje disserta sobre o tema da economia do mar...
Com isso as assimetrias do país, entre Norte e Sul, litoral e interior agravaram-se substancialmente. Os campos foi sendo progressivamente abandonados, pouco se passou a produzir e, hoje, é o que sabemos, somos um país altamente importador de produtos alimentares. Cavaco cedeu às chantagens da então CEE e não teve uma política do mar, uma política agrícola, uma política industrial. Nada!!!
E o que sucedeu à nossa marinha mercante? Cavaco ou não sabe de história ou anda a comer muito queijo, pois já se esqueceu que a nossa frota pesqueira foi quase toda abatida, ainda que tenhamos hoje uma imensa ZEE. Mas, curiosamente, é o mesmo Cavaco que fala aos portugueses da promoção da economia do mar. Se a ironia matasse...
E a industria textil no Vale do Ave, e o sector do calçado...
Onde é que Cavaco estava quando era urgente conceber planos de recuperação desses sectores da economia nacional, que passaram a concorrer com países dotados de estruturas produtivas mais modernizadas e competitivas?!
Cavaco, simplesmente, eclipsou-se!! Foi pena. É por este conjunto de razões que talvez não assista nenhuma razão ao actual PR fazer qualquer discurso sobre o tema da economia do mar, do qual foi o principal carrasco há duas décadas, quando era necessário conceber para esses sectores e sub-sectores planos e apoios de reconversão rápidos para que esses trabalhadores não fossem morrer à praia.
Alías, muito do desemprego hoje existente em Portugal ainda remonta ao legado negativo da governação cavaquista que, sob a aparência dos milhões dos fundos comunitários que deram a modernidade, o desenvolvimento e a emergência duma classe média em Portugal, que apareceu com a geração-Continente e as grandes superfícies em geral, acabou por ser também o seu principal estertor. Muitos homens de 40 e 50 anos foram literalmente para o desemprego ao tempo de Cavaco, sem que o seu governo lhes desse a mão. O que imperava era a Formação Profissional com os famosos métodos da UGT e do seu então-timoneiro, Torres Couto, que um dia ainda quis ser presidente do Glorioso - Benfica - mas do qual nunca mais se ouviu falar.
Razão por que hoje só posso dar uma imensa gargalhada quando vejo Cavaco dissertar sobre a economia do mar e, quem sabe, as virtudes da pesca do bacalhau algarvio na alimentação e saúde geral dos portugueses.
Em momentos pré-eleitotais tudo começa a ser possível, até converter uma traineira numa imensa frota da marinha mercante que também sucumbiu sob os tempos gloriosos da governação cavaquista - e da imensa corrupção da UGT e de inúmeros Torres Coutos que pulularam pelo Portugal das décadas de 80 e 90 do séc. XX - e tudo por ausência de políticas públicas adequadas ao estádio de desenvolvimento do Portugal que então entrava na CEE.

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