Os efeitos do mau jornalismo em Portugal
Lembro-me quando o PSD era poder e Marques mendes mandava recados à estação de televisão onde então a srª dona MoUra gUedes trabalhava advertindo a direcção que aquilo não eram entrevistas, mas coisas do outro mundo. Foram vários os dirigentes, saídos do cavaquismo que ora definha às portas de Belém, que se recusaram ser entrevistados logo que sabiam que a jornalista de plantão era a srª Guedes. Não tanto porque temessem a sua profundidade, como quem teme um Miguel Sousa Tavares (também já conheceu melhores dias!!!), mas porque o nível das questões e o seu encadeamento era tão fraco que as perguntas tinham, mais cedo ou mais tarde, que redundar em matérias sem interesse, embora tudo fosse rodeado com uma ilimitada agressividade que Guedes utilizava para compensar a sua natural falta de competência para o chamado jornalismo político ou de ideias. Por isso, é com alguma pena que vejo a senhora prestar-se a um papel decadente e incriminatório na sociedade portuguesa, acusando A, B e C e, mais grave, sendo desprezada por aqueles que seria suposto ser apoiada: os próprios jornalistas da TVi, sua direcção e ex-colegas de trabalho. Por alguma razão, até os seus ex-colegas de trabalho a detestam. Mas o caso Guedes - que de modo algum representa o jornalismo em Portugal, enferma doutros tópicos que valeria a pena questionar de forma mais abrangente: descobrir que tipos de coacções ocultas pesam sobre os jornalistas provenientes de jornalistas que têm - ou tiveram - algumas responsabilidades de direcção, seja por via directa, seja por via indirecta. Denunciar ex-colegas de trabalho, pôr culpados num índex é, confesso, um trabalhinho digno dum lastimável regresso ao tempo da ditadura em Portugal e da PIDE/DGS. É, de facto, vergonhoso aquilo que hoje alguns players da comunicação têm feito à nossa democracia pluralista. Quantos vezes artistas, escritores, cientistas e até mesmo jornalistas (muitos sérios e competentes) - não foram já pressionados por "outros" jornalistas com cargos de direcção, ou, simplesmente, porque na cadeia de comando da organização gozavam da cumplicidade ou protecção do director, sem nenhuma finalidade pública com relação ao direito de informar no quadro da incessante busca da verdade dos factos que deve animar o trabalho diário do jornalistas sério?! É óbvio que moura Guedes é a máxima representante em Portugal do pior jornalista de sarjeta jamais realizado por cá, e só uma estação de televisão como a tvi é que permitiria (como permitiu) que aquela coisa de 6ªfeira continuasse a ir para o ar. Não porque visava o PM, mas porque era um atentado imediato à consciência e ao common sense de todos e de cada um dos portugueses. Tamanho era o ventilador de ódios e de rancores. Mas há males que vêm por bem, e nada melhor para uma boa discussão acerca do jornalismo em Portugal do que a identificação de falhas de competência gritantes que em boa ora a classe dos jornalistas, os administradores de empresas, os gestores dos fluxos de informação e a sociedade no seu conjunto podem ajudar a corrigir e, se possível, a melhorar.
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