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Portugal e Espanha "têm um destino comum", diz Eduardo Lourenço

O filósofo e ensaísta Eduardo Lourenço afirmou hoje, em Lisboa, que Portugal e Espanha têm um “destino comum” no contexto europeu e que sempre lutou por uma “compreensão maior” entre as duas culturas
Falando à agência Lusa na Embaixada de Espanha, à margem da sessão de entrega da Comenda da Ordem do Mérito Civil, outorgada pelo rei Juan Carlos, Eduardo Lourenço considerou a distinção como um reconhecimento pelo interesse que tem manifestado “em relação à cultura peninsular em geral e à espanhola enquanto tal”.
“Sempre lutei por uma compreensão maior entre as nossas duas culturas e agora, que estamos no contexto da Europa, Portugal e Espanha têm um destino ainda mais comum”, sublinhou o pensador português, para quem a entrega da comenda “foi um momento de aproximação entre aquilo que há de melhor em Espanha, que é a cultura deles, e aquilo que há de melhor entre nós, que é a nossa própria cultura”.
Na sessão, o filósofo, que nasceu em São Pedro de Rio Seco, no Concelho de Almeida, Distrito da Guarda, aproveitou para recordar a sua infância na zona raiana.
“Só aos 40 anos me apercebi de que parte do meu vocabulário era leonês, ainda que falado à portuguesa”, contou, explicando que, naquela região, “a fronteira é simbólica, não há nada que fisicamente separe os dois países”.
Considerando que “não é exacto que Portugal esteja de costas viradas para Espanha”, o intelectual evocou os anos como professor universitário em França, onde se ocupou do estudo de grandes figuras da cultura espanhola.
“Com o estudo dessas pessoas, vi um outro lado de nós próprios e percebi que algumas das nossas questões e problemas encontravam respostas e soluções se conhecêssemos melhor os nossos vizinhos. Mas percebi também que podemos estar separados pelas nossas semelhanças”, assinalou o homenageado.
À Lusa, Eduardo Lourenço referiu ainda que “o iberismo não precisa de ser uma ideologia, como foi em certo momento no século XIX, pois nessa altura os portugueses perceberam que isso queria dizer uma nova forma de subordinação”.
“A palavra, hoje, não tem muito sentido, pois ibéricos somos nós há muito tempo, mesmo antes do aparecimento das nacionalidades que estão hoje na Península. Somos ibéricos por geografia e porque pertencemos a uma civilização que a romanidade instaurou”, reforçou.
“Isso bastaria para nos tornar semelhantes, mesmo que pensássemos que éramos muito diferentes”, concluiu.
Durante a entrega da Comenda da Ordem do Mérito Civil a Eduardo Lourenço, o embaixador espanhol, Alberto Navarro, apresentou-o como um ensaísta “admirado em toda a Espanha” e lembrou a existência de um prémio com o seu nome “que é ibérico”, pois resulta de uma parceria das Universidades de Coimbra e de Salamanca.
Na sessão estiveram presentes o ministro da Justiça, Alberto Martins, o deputado Manuel Alegre, os escritores Vasco Graça Moura e João de Melo, os historiadores José Gil e Fernando Rosas, o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Emílio Rui Vilar, e a ex-primeira dama Maria Barroso, entre outras figuras.
Obs: Divulgue-se pelo valor cultural do autor e do seu pensamento.