sexta-feira

O tempo e a realidade: as percepções e a tecnologia. O petróleo, again...

O tempo é uma das variáveis mais difíceis de fixar. Ele é passado, presente e futuro, é um ritmo cuja velocidade aumentou com as inovações tecnológicas disponíveis. Hoje, cada vez mais o presente passou a ser o "tempo" único que podemos agarrar, nessa medida passado e futuro diluiram-se. Tal como os amantes arrebatados, a vida dos grande agregados, as sociedades têm, pois, de aproveitar os grandes momentos. Esta nova percepção do tempo obriga a pensar aquilo que é a "realidade" - ou que consideramos como tal, que também já deixou de ser um valor absoluto na física do tempo. Pois, quando o tempo se altera - a própria noção de realidade física sofre uma alteração que carece de um ajustamento em cadeia. Ou seja, quando o factor tempo se modifica toda a equação da existência se altera. Vejam-se alguns exemplos: o amor, o 1º amor, foi condicionado pelo tempo. Pelo que o amor da juventude (arrebatado e impetuoso) não é igual ao da velhice, além de que a época em que se vive também condiciona a natureza dessa relação. Os tempos agitados dão, naturalmente, origem a amores especiais. Os transportes e a velocidade com que hoje somos transportados pelas máquinas ao nosso dispôr ultrapassando grandes distâncias - são outro exemplo das tecnologias que hoje tudo facilitam, baralhando o tempo - que encontra uma relação directa com a eficiência das tecnologias. O tempo dispendido que as batatas demoram a fritar - hoje e ao tempo da 2ª GM - deixa-nos um tempo de diferença. O mesmo se diga de milhares de tarefas quotidianas ligadas ao padrão de vida que fomos consolidando neste último século. O que há de comum em todas elas? O Petróleo, pois sem ele e seus derivados muitas dessas energias não seriam garantidas para funcionalizar a economia e a sociedade, e até muita da nossa memória associativa se perdia, perdendo-se com ela ligações, acções e consequências. Sem essa energia até a memória que hoje temos do petróleo se perderia... E sem petróleo deixaria - por extensão - de se compreender a dinâmica do tempo - que já não saberíamos situar-se no presente, no passado ou no futuro. Ou ainda numa quarta dimensão que as energias emergentes trarão nesse jogo de sombras induzida pela tecnologia de alta velocidade, pelas expectativas e pelas percepções que operam a mudança em qualquer sociedade. Por ex: ouvir Edith Piaf agora ou na década de 50 também não é a mesma coisa, e se for instrumentalizado por Louis Armstrong - a coisa ainda se relativisa mais neste fluxo de mudança e de transitoriedade do tempo. Até porque à medida que o ritmo da nossa vida aumenta, os parâmetros das nossas relações temporais com os outros reduzem-se artificialmente. Numa palavra: o aumento reiterado do preço dos combustíveis veio alterar todas essas percepções, mexer na máquina do tempo e dizer que, hoje, mas do que nunca, as coisas duradouras existem cada vez menos, o carácter estável da sociedade retrocede e, com ele, a nossa própria noção de estabilidade também desaparece. Em seu lugar, o fluxo de mudança, de risco, de ameaça, de perigo e de transitoriedade prevalecem e imprimem velocidade às atitudes colectivas. O aumento do preço do petróleo não torna apenas as viagens mais caras, é todo um mundo - interior e exterior - à consciência humana que se altera. Mas se isto é válido para os homens e a civilização do Ocidente - é bom que os especuladores corruptos e antidemocráticos da OPEP (que o próprio Ocidente alimentou e armou contras as suas próprias populações) percebam que, mais cedo ou mais tarde, eles irão precisar de água. E nessa altura o "tempo" encarregar-se-á de ditar as suas "leis" e fazer as suas vítimas. De tempos a tempos os impérios mudam de mãos, os capitais também, mas a sacanagem é - mais ou menos - a mesma. Nestes 2000 mil anos de era Cristã - o resultado a que se chega é que o homem não mudou nada!!!
E Cristo, Esse, morreu em vão...
La vie en rose - Louis Armstrong