segunda-feira

O regresso do passado na presença da drª Manuela Ferreira leite. Adiar o futuro do psd. Com o alto patrocínio das águas Luso...

A drª Maria Manuela Dias Ferreira Leite é economista e dirigente política portuguesa. É militante do psd, partido pelo qual foi Deputada à AR e exerceu funções governativas em 1990 como Secretária de Estado do Orçamento até 1991, seguindo-se o cargo de Secretária de Estado Adjunta e do Orçamento, que cessou em em 1993 para ser, até 1995, Ministra da Educação. E durante o período de 1995-1999 presidiu à Comissão Parlamentar de Economia, Finanças e Plano da Asssembleia da República.

Depois foi ministra de Estado de Durão, altura em que a economia vivia uma situação orçamental dramática, o que conduziu a uma série de decisões impopulares, fazendo com que Ferreira leite ficasse conhecida como a "Dama-de-ferro" ou a Margaret Thatcher à portuguesa. Por divergências políticas com Santana Lopes afastou-se da vida política activa, e a deserção de Durão para Bruxelas fez com que Ferreira leite se incompatibilizasse com o próprio Durão e até se afastasse da política activa - até Marques Mendes retomar as rédeas do poder no partido. De resto, a dama-de-ferro foi docente e tem exercido funções no Banco de Portugal.
Hoje é candidata simultaneamente à liderança do PSD e ao cargo de PM. Mas como ministra da Educação, das Finanças e pelos demais cargos que ocupou alguém, um dia, lhe detectou algum rasgo, alguma iniciativa digna de registo, alguma ideia ou projecto que revelasse um potencial de energia para a nação!?
Como observador dos factos sociais com peso político confesso que nunca identifiquei esse desiderato na agora candidata a PM. Mas também é de elementar justiça reconhecer que nunca identifiquei igual necessidade nas capacidades de Santana Lopes, que até foi PM - na sequência da fuga de Durão para Bruxelas.
Então, se as coisas são assim e não de outra maneira, o que é que Ferreira leite verdadeiramente representa no PSD e em Portugal?
Em nossa opinião é simples responder a essa interrogação. Leite encerra, de facto, uma imagem austera, de seriedade mas, na prática, isso só não basta, assim como não basta dizer que as contas públicas da nação devem estar equilibradas como um orçamento doméstico, tratando-se o governo da nação uma operação em larga escala do governo da Oikos, i.é, da casa de cada um de nós.
Só faltou Ferreira leite sublinhar aquele adágio que Salazar gostava de trautear: só comprava um fato quando dinheiro para dois. Hoje, ao invés, as pessoas compram logo três fatos e não têm dinheiro para nenhum.
Mas Ferreite leite, apoiada por Marcelo, é, na realidade, pelo seu estilo e pelo tipo de ideias que costuma defender (by the book) - representa o passado. Representa os conceitos rígidos que se aprisionam a si próprios dentro do modelo de economia estática que a senhora defende, pois no tempo em que exerceu funções governativas nunca cuidou da atracção de investimento nem em medidas de tipo fiscal para facilitar essa atracção de Investimento Directo Estrangeiro ou a implementação de medidas tendentes a facilitar a vida ao empresariado nacional - que vivia com o garrote na garganta.
Eis a imagem de "seriedade e competência" que Ferreira leite cristalizou em si, por isso é natural que as sondagens - de entre os outros competidores internos (Santana, Passos Coelho, Patinha Antão e Neto da Silva - não falo em Jardim porque este não é para levar a sério..) deu de si ao país e às sondagens que nos (des)governam. É pouco, manifestamente pouco. Mas é neste fragmento de verdadesinha que Marcelo acredita e apoia, juntamente com Pacheco Pereira, Rui Rio e mais umas quantas personalidades do partido.
A esta luz Ferreira leite tem uma competência demasiado especializada, muito confinada às questões de economia e finanças mas desligada do todo da economia nacional, da qual, aliás, nunca teve uma visão estruturante de futuro que revelasse um projecto ou uma ideia de Portugal alternativo à actual visão reformista que Sócrates tem imposto ao País.
Quando se fala em capital percebe-se que que esse conceito se deve ligar às questões de propriedade, ao empresariado e ao lucro, quando se fala em investimento lembramo-nos do aumento da riqueza nacional, na criação de emprego sustentável e duma melhoria da qualidade de vida que, por sua vez, suportam as demais componentes da produtividade geral da nação. Mas quando se ouve falar no nome de Manuela Ferreira leite pensamos logo naquela cara de pau, espelhando austeridade por todos os lados, toneladas de seriedade em cada poro... Mas para que servem uma e outra sem visão, sem projecto, sem rasgo!?
Temos, certamente, de perguntar ao Marcelo, ao Rui Rio e ao Pacheco Pereira - que são uma espécie de novel Ângelo Correia da dama-de-ferro, os conselheiros-mor da Margareth Thatcher nesta política à portuguesa.
Manuela Ferreira leite pode ser uma técnica séria e empenhada naquilo que faz, disso não tenho a menor dúvida. Mas a política exige pessoas com mais skills, com um nível e um background mais diversificado e com uma visão integrada das várias políticas sectoriais que, no seu conjunto, desenhem uma ideia de futuro para Portugal. Coisa que manifestamente não vejo em Ferreira leite, e acaso exista esse desígnio é mais facilmente identificado em Pedro Passos Coelho do que em leite.
Portanto, persistir no seu nome, como fazem Rio, Pacheco e Marcelo só revela teimar em conceitos do passado, caras do passado tentando - através deles - mudar uma realidade que ja não reconhece valia aqueles conceitos nem alternativa aquele nome. Nesta linha, Ferreira leite é, hoje, uma mulher com conceitos velhos sem nenhum potencial de futuro.
No fundo, ela assume o papel sacrificial que aqueles três (Marcelo, pacheco e Rio) não querem representar por terem mais a perder:
1. Rui Rio perderia a Câmara Municipal do Porto e ficaria desempregado na política nacional, por isso não quer trocar o certinho pelo risco, manda a Manela Leite
2. Marcelo, acaso fosse a jogo contra Socas, teria de deixar o comentário político, ficaria privado dos seus mergulhos no Guincho e suspenderia as aulas, coisa de que gosta muito, além de perder o élan que vai mantendo por ser um comentador ouvido em Belém. Envia a Manela...
3. Pacheco Pereira perderia o seu estatuto de intelectual do partido, além de não ter nenhuma hipótese de ganhar o que quer que fosse (porque é simplesmente odiado pelas bases do partido), nem a Junta de Freguesia da Marmeleira, como um dia chegou a vaticinar Luís Filipe Meneses. Pacheco também envia a Manela para a fogueira...
Numa palavra: Ferreira Leite apresenta-se a jogo porque nenhum daqueles três tem coragem política para sair do casulo e enfrentar Sócrates nas eleições legislativas de 2009.
A dama-de-ferro representa, afinal, uma tripla camada geológica de recalcamento na vida interna do psd que hoje fala por si. O medo político de Marcelo, Rio e Pacheco cristalizou-se na ingenuidade de Ferreira leite que hoje caminha, a passos largos, em direcção a uma parede de betão, e mesmo que Socas não obtenha a maioria absoluta em 2009 - tal deve-se à dispersão de voto no PCP e no BE, e não na recuperação do velhinho e decrépito PSD.
Daí o passado decadente que Leite representa, juntamente com todos aqueles que a acompanham. Daí a utilidade estratégica em validar o nome de Pedro Passos Coelho, ainda que sem experiência política...