A sociedade (de valores) puritana em Portugal...
Ao ler a reflexão infra lembrei-me de um episódio que abalou as estacas morais e éticas da sociedade portuguesa em pleno cavaquismo, e que remete para o escândalo decorrente das práticas sexuais do famoso arqº Tomás Taveira com algumas das suas parceiras. Algumas, pensa-se, integravam a alta roda e ocupavam uma importância social e política que ía muito além das cabeleireiras e das senhoras que trabalhavam nas lojas de roupa e floristas do então extravagante Shopping das Amoreiras concebido por aquele arquitecto - que viu a sua vida familiar fragmentada, com os seus fihos e mulher a emigrar a fim de atenuar os efeitos dessas práticas e das ressonâncias que tiveram na imprensa nacional e nos media espanhóis e um pouco por toda a Europa.
Hoje, diante da discussão moral e filosófica acerca da questão de saber se o melhor para uma sociedade e para o Estado em Portugal radicaria numa sociedade com valores puritanos à norte-americana ou numa sociedade mais liberal nos costumes à europeia - pergunto-me como reagiria a população portuguesa se, porventura, o governo português, independentemente da sua côr ou filiação partidária, convidasse o arqº Tomás Taveira para ministro da Cultura ou secretário de Estado das Obras Públicas...
Seria caso para dizer, não sem graça, que o arqº Taveira strikes back - e, ao mesmo tempo, seria muito interessante registar as reacções dos portugueses a esse eventual convite após o que se passou há 20 anos.
O objectivo deste exercício seria mais do que retórico, ou seja, se a reacção dos portugueses a esse hipotético convite fosse do tipo puritano e fundamentalista permitia-nos concluir uma coisa; se, porventura, a reacção fosse mais liberal e aberta - a conclusão seria naturalmente outra.
Naquele caso tal permitia supôr que estaríamos mais perto da sociedade de valores (puritana e dura) vigente nos EUA; se, ao invés, a reacção fosse mais liberal poder-se-ía concluir que rejeitaríamos aquele modelo de valores e comungaríamos mais da escala de valores liberal que tende a não ver nos actos privados consequências públicas.
Bem ou mal, quando hoje olhamos para a fauna política que temos sou de opinião, com honrosas excepções, que muitos gozam das virtudes de que eu não gosto e nenhum dos vícios que eu admiro.
Esperemos, doravante, que as autoridades competentes não tenham a tentação de convidar o arqº Tomás Taveira só para confirmar ou infirmar desta suposição que tantos estragos provocaram na sociedade portuguesa, além de ter produzido imensa dôr a muitas e boas senhoras (algumas já avós...) que hoje, creio, nem sequer desejam sonhar que um dia se viram nessas cenas - que circularam através de videotape de Norte a Sul de Portugal e além fronteiras...
Imagino o que muitas senhoras dirão à propos desta questão ético-filosófica: o tempo passa, mas a memória fica.
E as feridas também...
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