segunda-feira

A patologia do terrorismo: algumas derivas

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Sem ser especialista em terrorismo, nem em coisa nenhuma, trago aqui à colação um tema grato ao Globalidades - um espaço de reflexão composto por gente madura que mantém o seu "capital mal-parado", a avaliar pela estagnação em que o mesmo se mantém.., estranhamente, confesso. Provavelmente, emigraram todos para o Brasil antecipando as férias do Natal.. Até porque as visitas (ao blog) não interessam para o fim e vista: reflectir com alguma qualidade e densidade é o essencial.
Mas no ponto do terrorismo (T.), que é o que aqui relevamos, não há factor algum que possa justificar a impunidade do T., como não há crença nas virtualidades do diálogo com gente que comete esse tipo de crimes, porque a via negocial, ao invés do que diz o sr. dr. Mário Soares (coitado, nesta matéria nem deve ser ouvido, quanto mais meditado!!!) não impede o crime, antes o precipita, legitima e multiplica pela natureza das coisas.
Ora, como não há hesitação possível entre a vida em Liberdade de um lado, e a vida em barbárie por outro, investimos aqui 15 min. da nossa vida a pensar algumas derivas que julgamos estar na base deste fenómeno que tem desafiado o saber instalado, as teorias sociais e o ambiente estratégico das informações em geral onde estas fracturas ocorrem.
E como não há uma teoria científica precisa que preveja tudo com elevada precisão e equilíbrio, resta-nos este exercício de reconhecer que o terrorismo político e a violência política em geral - remete os teóricos para uma compreensão do fenómeno que o encaixa na própria tradição da arte de governar que apela à sabedoria política hoje globalizada, porque globalizada está a fronteira dessa violência, dessa ameaça e desse perigo às sociedades anglo-saxónicas.
Contudo, recordamos aqui um dado paradoxal pela pena de Alexis de Tocqueville, como ele demonstrou no seu livro sobre a Revolução Francesa. É que os levantamentos começam frequentemente quando as coisas estão a melhorar, quando o ciclo política se estabiliza, isto não dispensa a pensar-se que, de facto, o T. não deixa de ser a arma do fraco e do cobarde.
Mas o problema agrava-se dada a imprevisibilidade do fenómeno e dos seus efeitos, da sua escala em toda a sociedade. É nessa tentativa de racionalização que aqui laboramos. Que grande teoria serve para explicar o T.? Tanto mais em contexto de globalização competitiva - em que mercados, capitais, tecnologias e mobilidades múltiplas concorrem para desmaterializar os velhos registos que outrora faziam destes factores elementos estratégicos mais visíveis ou previsíveis e cuja escala da ameaça também era menor.
Vejamos muito sumáriamente alguns desses influxos que conduzem, directa ou indirectamente, a conflitos civis ou terroristas de tipo moderno - mas que em ambos os casos privam as populações dos seus padrões de vida, da sua normalidade. Afinal, o homem é um animal de hábitos, de rotinas e uma vez quebradas instala-se a crise.
Veremos que frustrações, que ódios acumulados dão expressão a essa violência contra os Estados e as respectivas sociedades, porque o objectivo do T. é instabilizar psicológicamente o maior número de pessoas, controlar e teleguiar essas sociedades pela instilação do medo e da agressão entre as pessoas até que reine o caos e anarquia. Pois é nesse tecido social desordenado que o T. prolifera. É aí que o ódio melhor se alastra e os sentimentos dos inimigos da liberdade melhor penetram e ideológicamente se afirmam no tecido conjuntivo da sociedade. É, pois, nesta conformidade que elencaremos um conjunto de razões que podem conduzir ou explicar a cultura da morte e impelir o T. à sua verdadeira vocação: matar e multiplicar o medo nas sociedades parta matar mais ainda.
A saber:
1. O T. pode decorrer duma situação de instabilidade política negativamente relacionada com o desenvolvimento económico e social e com toda a modernização (ou falta dela);
2. Essa instabilidade pode derivar da frustração geral e da falta de expectativas sociais no seio duma sociedade;
3. Estar relacionada com a velocidade de modernização que contrasta com o atraso noutras, e dessa comparabilidade objectiva chega-se a uma triste conclusão que leva à frustração que predispõe à violência;
4. Essa frustração tem uma relação curvilínea com os níveis de coerção do próprio regime político em que se inserem, fazendo também com que disparem os índices de frustração geral/sistémica;
5. Logo, essa coercitividade está relacionada com as flutuações de força vs liberdade do regime político;
6. Não esquecer a presença de minorias étnicas poderosas que contribui para o aumento dessa instabilidade sistémica na esfera política e que faz desequilibrar todo o edifício de poder na sociedade e na esfera da globalidade, para onde se projectam todas as ambições das potências que operam nas relações internacionais;
7. Sendo que quanto mais elevado for esse índice de frustração social e económico maior também será a necessidade de impôr o nível de coercividade para repôr a ordem ou desencirajá-la.
Eis algumas derivas que nos deixarão por certo a pensar, interpelando as nossas crenças, atitudes e trajectos socioprofissionais que tecem a própria condição humana. Como alguém dizia:
  • A minha dignidade está em matá-los...
Uma expressão forte a exigir alguma meditação. Mas como se isto não fosse suficiente, o T. sente ainda uma necessidade patológica em humilhar as suas vítimas antes de as matar, tal como ele havia sido humilhado pelos seus opressores - regra geral personificados no grande satã: a América. Cremos, portanto, que um dos principais desafios do nosso tempo é, um dia, conseguirmos falar destas coisas com naturalidade às crianças, e explicar-lhes que tudo não passou dum pesadelo que jamais se voltará a repetir.