Filosofia do MACROSCÓPIO: aos nossos leitores
De tempos a tempos temos necessidade de "checkar" o coração à máquina não só para mudar o óleo e medir a tensão mas também para ver os pistons, as camisas, os segmentos, a cambota, enfim, fazer a leitura do funcionamento global do motor. No fundo, trata-se de olhar para o Macro de fora para dentro e dentro para dentro. Um pequeno balanço para corrigir alguns erros, omissões, exageros e, se possível recriar as lentes através das quais ele captura a realidade ao vivo, não tanto como o Narciso do génio Salvador dalí - que continua dobrado sobre a sua própria fonte, mas atento ao que se passa em redor. Pelos mails que vamos recebendo, pelas críticas que vamos registando, pelas visitas diárias - confesso que o balanço que faço é altamente positivo.
Especialmente, tratando-se dum blog que é completamente autónomo e independente, opera a uma só vox, pensa pela sua própria cabeça, não bajula, não idolatra, não alinha na república serôdia de citações fáceis com que certos e soit-disant blogs de "referência" operam (referência para mim são os clássicos). Mais parecem que andam todos na cama uns com os outros, num cenário endogâmico, cooptativo, promíscuo, autopromocional, em grupo, em matilha, em manada, wherever. Federando-se, organizando-se, burocratizando-se, agigantando-se convidando pessoas completamente desconhecidas só porque pensam poder capitalizar mais uns links num prato de lentilhas...
Já agora, quero aqui declarar que todos os dias recebo mails convidando-me para integrar o blog A, B, C e D - de pessoas que nunca vi mais gordos nem elas a mim me viram mais magro, deve ser duma breve consulta ao google ou ao Tecnorathi que estabelecem esses convites-macacos) num esquema cruzado de informalidade anónima.. Alguns lançam mesmo OPAs - de tão pequenos que são... OPAs hostis... dando o passo maior do que a perna... Parecem gatos calçados com cascas de noz patinando no CCB numa tarde de Prima-Vera. Também aqui se encontra muita gente sem referências, que quer crescer à custa dos outros, sem método, sem regra, sem nada de nada...apenas com muita presunção e água benta... É triste constatar isto, confesso, mas é a verdade.
Contudo, confesso aqui que a minha insatisfação é permanente, não tanto por nos reconhecermos impotentes em surpreender o real que avaliamos, não tanto por não dispormos dos rendimentos de Bill Gates - embora ajudasse - mas, na essência, porque percebemos sempre que algo nos escapa, algo paira e sobrevôa..., algo que não temos a capacidade de reter e de compreender. E como algo nos escapa irrompe a tal frustração - que aqui confesso.
Mas ao reconhecer isto também identifico um "culpado". O culpado disto é Deus por continuar a manifestar-se de forma oculta, pois sempre que nos debruçamos sobre os factos sociais, culturais, políticos ou de natureza económica ou outra - sentimos sempre a tal pressão de uma criatura maior a fazer-nos sombra.. A tal sombra que não nos deixa ver o invisível.
Isto acontece porquê? Por maldade? Porque somos pequenos, maus e limitados? Com efeito, aqui não há respostas lineares, podemos aventar um quadro de possibilidades que nos atiram para essa tal Ideia de que Deus tem esse sobre-Poder de passar através das paredes, das pessoas e dos animais, e de se reencontrar de forma imaterial connosco.
Poderíamos dizer aqui que o dinheiro, a saúde, os amigos, o poder, a influência são os valores de charneira pelos quais lutamos, mas o Macroscópio tem outra preocupação, outro sonho, outra utopia. O Macro navega numas margens estranhas, talvez porque desejasse um dia - mercê dos inúmeros avanços da ciência & tecnologia - passar através de nós próprios e reencontrarmo-nos para além de nós mesmos.
Poderá isto ocorrer? Quando? No dia em que o nosso duplo holográfico estiver no espaço, talvez mexendo-se e falando, teremos concretizado esse sonho. Até lá seremos mais modestos, mais comezinhos, mais limitados - e regressamos à triste condição de analisar as políticas públicas do Socas, as declarações do sr. Luís Filipe Vieira, visionar uma máscara disforme chamada valentim, estudar os mecanismos da corrupção, das guerras, até nas autarquias, estudar o impacto da blogosfera na mediasfera para desfeita e erosão progressiva do chamado jornalismo de poltrona - entre muitos-muitos outros issues que fabricam esta nossa teia da modernidade.
No fundo, o objectivo deste post é agradecer às pessoas que diáriamente aqui vêm ver, ler, criticar, sugerir - via mail - ajudando-me em inúmeros aspectos a desenhar este stúdio, de modo a emprestar mais lux a estes nossos personagens. Mas para isso terei de continuar a contar com as lentes do Macro - que, por vezes, embaciam e cegam-me por luzes mais fortes de outros projectores, dessa (tal) personagem ou criatura invisível e translúcida que parece mandar nisto tudo e que atravessa este nosso holograma irreal - sem que Lhe possamos oferecer qualquer resistência física, mental ou intelectual. Será ele o tal Deus?
O papel das teorias sociais e dos conceitos estabilizados e outros que vamos inventando é muito importante. E para isso continuaremos a recorrer às lentes do Macro, até que as forças e o tempo nos permitam: capturando o sentido dos fenómenos sociais, amando as coisas da cultura, promovendo-as, evitar a soberba e arrogância (e doutros pecados capitais) que polui 95% da blogosfera, avaliar e afinar novos conceitos, apurar novas teorias de forma a estabelecer as tais conexões infinitamente pequenas que depois se transformam e agigantam em correlações maiores e emprestam sentido às coisas.
- Andamos aqui há ano e meio, sempre de cabeça erguida, nunca pedindo nada a ninguém, mas sempre prontos para valorizar outros, desde que para isso manifestem potencial de qualidade e de verdade nesta alucinação verdadeiramente fascinante em que nos é dado viver. Post dedicado às pessoas que visitam o Macroscópio diáriamente.
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