Sandokan
- Cresci com o Sandokan - esse herói cheio de magia, belo e sedutor. Palpitava antes do filme passar. Era uma ânsia terrível, talvez superior à do Espaço 1999. Alí o mundo era mais exótico, e os perigos do desconhecido, eram, apesar de tudo, menos envoltos em mistério. O espaço era o espaço, a terra a terra, e nós, homens, somos da terra. Mas o Sandokan jorrava aventura por tudo quanto era poro. Os piratas da Malásia - uma ex-colónia inglesa - representava o ambiente ideal para essa série de aventuras de um tigre que, verdadeiramente, não era um tigre, mas um homem aventureiro, um sedutor e, ao mesmo tempo, um homem demasiado bondoso, generoso. Embora também soubesse ser o tal animal - ainda mais cruel do que os próprios tigres da Malásia.
- Mais tarde originou filmes, jogos de computador e desenhos animados. Mas quando se é mais novo, ouvem-se histórias assustadoras sobre o Tigre, e era esse ambiente de aventura e perigo que povoada o nosso imaginário.
- Pelo meio há uns naufrágios que faz com que a trama se desenvolva e até um português, Eanes, de grande estatura e de olhos azúis - isto no séc. XIX era do outro mundo, mas enfim..., alguém aconselhou mal Emílio Salgari...
- Mas o nervo da narrativa centra-se na figura do Tigre. É óbvio que o bronze de Sandokan, sempre vestido com um rico traje oriental, com sedas e botas de pele vermelha - deixaria qualquer mulher fora de si. Imagino hoje o que seria o Sandokan a contornar o edifício das Amoreiras ou a descer a Av. da Liberdade - com aqueles trajes... Seria de parar o trânsito, certamente!!! Aposto que até o Marquês vinha parar ao meio do chão, juntamente com o seu leão.
- Na casa dos 35 anos - de elevada estatura, o bronze brilhante, musculado, um olhar cintilante, uma barba aparada - devia ser para impressionar o tigre - tudo aquilo incutia respeito naquelas velhas televisões black & white que demoravam sempre 3x15 min. a dar sinal de vida. No fundo, no fundo antevia-se que ali estava o verdadeiro tigre, mas o que nós - putos - queríamos ver - era o momento em que ele dava cabo do quadrúpede e se atirava à "fruta"... Sandokan era, assim, um tigre que sofria por amor..
- Mas o que mais impressiona talvez seja o facto de nos romances de Salgari até os tigres se apaixonarem, é isso que acontece aos seus heróis, são sempre demasiado humanos.
- E o Tigre da Malásia sofre essa dôr por querer vingar a morte da esposa, o patrão do indiano, quer enfrentar o inimigo James Brooke - que escraviza piratas...
- É um filme soberbo, com uma estória de aventuras que ao tempo representou uma verdadeira revolução. Hoje, é com algumas dessas recordações que tento capturar essas memórias do tempo que passa. Mas temos de convir que certas coisas até para os tigre são difíceis... O filme imortalizou-se e, ao mesmo tempo, imortalizou-nos também a nós - putos então sentados diante uma caixa negra a válvulas que mais parecia um barco a vapor... Todos de charola, a caminho da Malásia... E depois regressávamos à escola com aquele ambiente de aventuras e fantasias na cabeça e tentávamos fazer às colegas o que o Sandokan fazia às tigresas... O mais triste depois é que as colegas nunca percebiam o teor das brincadeiras e terminava tudo no Conselho directivo com uns processos disciplinares à mistura. Férias compulsivas..., com averbamentos a vermelho. Bons tempos!!! Na altura ainda não havia computadores, quase todos sabíamos escrever mais ou menos, hoje!!!
- Ainda tentava explicar que era tudo por causa das aventuras do Sandokan, mas então ninguém nos dava ouvidos. Mas a parte sonora que também costumávamos recriar em contexto de recreio era a letra.. A letra e a música:
- Sandokan, sandokan com cuecas e sem soutien... (refrão)
- Nunca soube se era isto que causava os processos disciplinares ou era o resto. E o resto já não nos lembramos..
- Post dedicado a todos os amantes do Sandokan que hoje ainda o recordam com prazer e excelentes recordações.
<< Home