Arrogância medrosa no jornalismo de poltrona ante uma blogosfera emergente
Temos aqui teorisado as relações entre blogosfera e mediasfera, uns e outros têm uma relação esquizofrénica de amor-ódio: esta está instalada no centro do poder mas já começa a ver o seu peso, influência e autoridade a escapar-se-lhe por entre os dedos, como grãos de areia e só cita os chamados jornalistas assimilados e/ou colaborantes, designadamente alguns jornalistas mais tecnológicos, alguns dos quais até "dão cartas" no ciber-espaço. O exemplo de Paulo Querido é sintomático, uma gota no oceano, uma ilha num Continente. E já que falo nele publicamente aproveito para lhe agradecer o envio dos seus artigos diáriamente que leio sempre com gosto.
- Mas a regra não é essa. E aqui no Macroscópio não cuidamos muito de seguir a feitura dum jornal, com notícias políticas, económicas, fiscais e, assim, ordenadamente fazer um jornal on line. Já há quem o faça, e bem. O Jumento talvez seja o paradigma dessa obra em Portugal. Contudo, considero mais importante que dentre a anarquia jornalística ou da chamada informação oficial, possa emergir alguém - a blogosfera - que melhor estimule o chamado jornalismo de publicação pessoal. Com erros, com omissões mas será este certamente o jornalismo do futuro, e quem não compreender isto perde. Fica à margem, mas como não quer reconhecer a lacuna revela-se "educadamente" arrogante, polidamente atarefado... Como quem não sabe como pôr fim a uma conversa, e finge que vai ao WC e pira-se duma conversa que não lhe agrada.
- Perceberemos o que digo se explicitar o meu ponto: a semana passada desloquei-me a Benfica para ir para a "marmelada" com as Finanças, onde, de resto, passei 3 horas da minha vida para, no final da empreitada, fazer uma questão em 5 ss e ser respondido em 15 ss. (será este o Simplex que o "almôndega" do Prado Coelho se refere quando elogia sabujamente Sorates??!!!). E ao deslocar-me aí encontrei um senhor na rua que reconheci de imediato e que é jornalista, já que ele assina com a sua foto ao lado. É aquilo que se pode designar um veterano, embora eu - confesso - raramente o leia, mas respeito-o. Estava numa revista e foi para outra, com cargos de direcção, creio.
- Abordei-o respeitosamente e falamos durante uns 5 min. Apresentei-me, disse quem era e o que fazia. Ele falou dele dizendo aquilo que já sabia: estava num projecto editorial falido mas agora, noutro projecto editorial, as coisas já vão melhor, disse. Não o vou citar por razões éticas, óbviamente. Mas quando tentei correlacionar o tema-quadro das relações mediasfera-blogosfera - ele ficou visivelmente incomodado, e com um sorriso algo cínico nos lábios me dizia que era visitante do Jumento, aliás, quem não é?!!.
- Tentei puxar um pouco mais por ele, até para ver se aprendia algo, dado que as Finanças esperavam-me... Mas nada, rigosamente Nada!!! O homem de calmo passou a apressado - e só tinha um objectivo naquele instante: escapulir-se... Foi o que fez, polidamente. Mas ainda tive tempo para lhe perguntar se tinha blog...
- Num sentimento misto de tristeza, frustração e alguma impotência - esboçada na cara dele - algo que até um cego notaria - respondeu-me que não - já em anadamento...
- Confirmara as minhas suspeições, as minhas dúvidas, as minhas certezas: certos jornalistas odeiam a blogosfera. Não por poderem sacar dela - e sacam certamente - informação e análise que depois (re)confeccionam nos seus pasquins como se de cozinhado novo se tratasse, mas porque sentem que a blogosfera é já uma avenida demasiado larga que pode engolir todos aqueles que não têm os skills e a expertise necessária para por de pé e manter um blog credível. Percebi isso em segundos, percebi-o pela melhor via: pelo receio estampado no rosto do jornalismo de poltrona. Aquele que não quer confusões entre a mediasfera e a blogosfera - porque daí só pode emergir um caminho que mina antigos privilégios, posições de porder, autoridade e influência.
- Hoje, atrevo-me a dizer isto, é o jornalismo de cidadãos na blogosfera que forma o grande número de leitores, que dá textura à opinião pública, que segmenta. Naturalmente, depois há aqueles - como referi - que não querem diálogos, evitam as pontes e as cooperações, e porquê?
- Voltamos ao tal rendez-Vous entre o tal jornalismo de poltrona e a blogosfera. É que aquele sente-se hoje largamente privado da educação (lato senso) para poder participar numa conversação à distância, nem dispõe das apitdões técnicas e tecnológicas que lhe permite usar do tempo e dos equipamentos necessários para esse efeito. E como reconhecem que não têm esses dispositivos também não os podem manipular. Nunca se manipula aquilo que não se tem.
- Foi precisamente isso que aprendi na semana passada com a conversa fugaz com o tal jornalista veterano de Benfica. Fiquei com a firme impressão que a fugacidade dele, aliada a uma polida arrogância de status - quiça por se habituar a aparecer nas revistas com a sua foto - se devia a um reconhecimento que ele próprio já tinha em curso na sua mente. Que decorre do facto de ele estar a ser posto à margem por este Admirável Mundo Novo da nova economia digital. Ao fim daqueles 5 min. de conversa - fiquei com a certeza - se é que certeza alguma tenho - que são as pessoas assim - que se julgam superiormente intelectuais - mas que, ao mesmo tempo, estão já sendo afectadas pelo efeito múltiplo da mudança trazida com a Blogosfera, a qual - quer se queira quer não - acaba por empurrar os jornalistas de poltrona para as margens da faminha que outrora granjearam.
- Como é muito mais provável ele vir aqui ler o que escrevo do que eu lê-lo a ele na revista onde escreve, ficará a saber o que pensei desse fugaz rendez-Vous. E se ele quiser ter a pequena coragem de me contraditar - sempre poderá fazê-lo, pois até lhe facultei o meu cartão pessoal. Estou sempre disponível para aprender... Infelizmente, não há é quem ensine!!!
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