quinta-feira

Pokémon e as duas américas: a Liberdade

  • A descoberta mais do que previsível de que a América de G. W. Bush não respeita as convenções internacionais sobre direito humanitário era já um dado adquirido que o tempo e a pressão dos factos veio desocultar. Portugal - através da autorização (tácita) de sobrevôo do seu espaço aéreo - também entra na jogada. Mas tudo se desculpa quando Freitas do Amaral tem as costelas partidas e reporta da cama de sua casa dizendo que talvez esses aviões - com prisioneiros lá dentro - tivessem cruzado os céus portugueses.
  • Dito com umas costelas partidas gera compaixão; dito no Parlamento há meses atrás provocaria charivari político que só interessaria ao PSD, Bloco Esquerda e, claro, a esse amante da Liberdade que convida terroristas para as suas Festas do Avante na Atalaia - que é este "nosso querido" PCP - o partido mais retrógrado do mundo - só secundado pelo de Piogyang na Coreia do Norte - no dizer ignorante, obtuso e seboso daquela criança velha inchada e bajuleira que é um tal bernardino qqr coisa que - creio - preside ao respectivo grupo parlamentar.Gostava de saber onde é que esse menino mau tirou o seu curso de Democracia ou Liberdade... Terá sido mandado para Cuba, Rússia dos sovietes, Albânia, Coreia do Norte ou se ainda reside em Luanda...
  • Ora bem, são estes atentados à Liberdade que nos levam ao encalce de uma lutadora pela democracia na Colombia que há anos foi raptada pelas Farc e que ontem alguns blogs em Portugal publicitaram o caso. Referimo-nos a Ingrid Betancourt. Se foi só para atacar o PCP - é curto, porque esses atacam-se a eles próprios com imensos titos nos pés, vide o caso Carlos Sousa em Setúbal que em breve será capitalizado pelo Bloco, PS e até PSD; se foi visando a Liberdade como um fim em si (no sentido kantiano) - foi um trunfo que merece ser explorado. Mas, nesse caso, teremos também - para sermos coerentes com a teoria, que divulgar muitos outros casos de privação de Liberdade, e os blogs com mais visitas poderiam começar por desancar em Cuba, Luanda e outros casos que bem conhecemos e que violam as regras mais elementares de convivência humana.
  • São, portanto, estes factos encadeadamente que geram as apreciações que se fazem entre as duas Américas, uma boa, outra má. Ainda que reportando à velhinha guerra do Iraque onde a América de G.W. Bush - através dos seus soldados desequilibrados e doentes mentais que recrutou - se portou pior do que o carniceiro de Bagdad. Vejamos:

  • Pokémon e as duas américas

Que pensará o mundo civilizado e imputável das imagens de violação de direitos humanos na prisão de Abu Ghraib, em Bagdad? Sevícias, sodomia, desumanização total do inimigo indefeso, tudo em nome da virtú patriótica. Versão soft de Vietnam III milénio, em que corpos encapusados são mutilados e emoldurados por imagens risonhas e vitoriosas. Porquê esta “cortesia” dos soldados da liberdade?

  • Haverá, porventura, duas américas: uma boa, outra má? Aquela dispõe duma fascinante capacidade de sedução, com uma democracia avançada, herdeira duma revolução universal e uma cultura plural. Com a estátua da Liberdade a iluminar o mundo, representando milhões de oprimidos e portadora duma mensagem de esperança. Vitoriosa da Guerra Fria, anti-regimes autoritários em nome de princípios humanitários. Uma América inventora da Internet e da nova economia que telecomanda a globalização (in)feliz.
  • Depois esbarramos com o seu lado negro: métodos de gestão e dispositivos jurídicos prepotentes, técnicas comerciais egoístas e algozes com paixões e patologias que descambam em perigosos desvios para o mundo. Formada por uma espécie de diabretes biotecnológicos e por criaturas que vivem nas trevas, quais gnomos ou monstros de bolso que lembram Pokémon. Eis a América maligna que vi naquelas imagens.
  • E tal como no Game Boy da Nintendo, é preciso capturar esses mutantes maus e transformá-los em homens bons. O que coloca uma questão: já não se trata de saber o que somos, mas que tipo de homem queremos fabricar?
  • Como numa peça de teatro, vejo-me no papel do dramaturgo que inventou esta narrativa só para enquadrar os actores, mas em que a audiência jamais confundirá o teatro com a vida real. Uma vez que os tempos cénicos são artificiais e os actores caricaturais, tudo acabando quando cair o pano. Porém, os problemas reais permanecem, com a realidade a ultrapassar a ficção. Agora com a agravante de que as emoções invadem as racionalizações, e por cada imagem de sevícias aos iraquianos encapusados (quais Ku Klux Klan) é um rombo na estátua da Liberdade e um terramoto na consciência da América.
  • Além desta neoguerra subverter a clássica definição de amigo-inimigo de Carl Schmitt
    , porque perde na opinião pública mundial quem pratica violência gratuita, aumenta o ressentimento do padrão cultural árabo-islâmico em relação aos EUA. Além destes também esbanjarem as referência
    s humanitárias e à luta pela Liberdade que granjearam ao longo de anos - com muitas guerras pelo meio. O problema é que aquelas lentes sabem que o Tio Sam é um produto da cultura política ocidental, e quem odeia a América também quer matar a Europa. Foi por isso que defendemos publicamente a razão pela qual o mundo deveria poder votar em J. Kerry nas últimas eleições presidenciais dos EUA. Com este ignorante . G. W. Bush - fazer pior é impossível...

  • Esta imagem do Indiferente é terrível... Há anos - quanto entrei pela 1ª vez na sede da AMI em Lisboa - uma ONG liderada - e bem - pelo médico e humanista Fernando Nobre - que eu tive o privilégio de conhecer e até de integrar um seu testemunho seu num livro de que sou autor - li numa placa de mármore que está logo à entrada - o seguinte: a indiferença é a pior "ideologia" do nosso tempo. E é, de facto. Solidarizamo-nos com o degradante caso Ingrid Betencourt (e bem) mas depois somos um povo mundo relativamente à observância dos direitos humanos em Angola - perante aquele regime corrupto. Só porque tem petróleo.. E o que a Net tem feito para acelerar a queda do ditador de Havana, esse lagarto de língua bifurcada que aprisiona o seu povo há quase 50 anos? Pouco ou mesmo nada. E pelos pobres e marginais em Portugal??? A net, a blogosfera, alguma dela, evidentemente, tem a sua própria agenda-setting, escolhe os factos à medida dos seus interesses intelectuais do momento. Mas há uma outra blogosfera que não é parva, que estuda, que percebe e mais, que compreende os vários fios duma meada que nos transcendem. Ora é a essa (outra) blogosfera que, não raro, entra na fácil república de citações que enjoa, que deveria perceber que nem todos fomos ou vamos à Festa da Atalaia... E isto não é nenhuma indirecta, é antes uma directa para essa blogosfera putativamente kantiana que, alegadamente, se preocupa com as condições de Liberdade no mundo. Então, se assim é comece-se já a denunciar os casos mais gritantes que em Portugal padecem dessa privação de Liberdade... Só por aqui se poderá aferir da coerência editorial de certos blogs que estão, como espero que estejam, verdadeiramente empenhados com a causa da Liberdade - no Mundo, e, já agora, também em Portugal. Porque muitas são as privações, inúmeras são as causas e modalidades de falta de Liberdade...