segunda-feira

Horror e 'alargamento de direitos'

Horror e 'alargamento de direitos' Image Hosted by ImageShack.us João César das Neves Professor universitário Porque é que o homem moderno vê o futuro de forma tão negra? Este é sem dúvida um dos maiores paradoxos da actualidade. Uma recente frase do senhor primeiro-ministro deita alguma luz sobre a origem deste surpreendente enigma. Desde a revolução industrial o mundo ocidental conhece um grande desenvolvimento e subida do nível de vida. Vivemos de forma que os nossos avós nem conseguiam imaginar e que todo o mundo quer copiar. Mas, apesar dos grandes ganhos obtidos na liberdade, saúde, bem-estar e cultura, quando olha para o futuro a sociedade vê o pior dos horrores. As nossas gerações, apesar de viverem no conforto e progresso têm, se possível, uma visão ainda mais negra do amanhã que as eras antigas. A antevisão das linhas de evolução institucionalizou-se no género da "ficção científica". E praticamente todos esses prognósticos, feitos com seriedade e argúcia, são assustadores, catastróficos, deprimentes. Desde os mais antigos, Frankenstein (1818) de Mary Shelley e The War of the Worlds (1898) de H.G.Wells, até aos mais recentes, como Star Wars (1977-2005) de George Lucas, todos são unânimes em prever um mundo seguinte pior que o actual. As causas dessa previsão são muito diferentes. Nuns casos é o ataque de monstros horríveis, como em Starship Troopers (1959) de Robert A. Heinlein, noutros o poder destrutivo da tecnologia, como em Le Secret de l'Espadon (1947) de Edgar P. Jacobs; da revolta das máquinas de 2001 - A Space Odyssey (1968) de Arthur C. Clarke até à manipulação global em The Foundation Trilogy (1951-53) de Isaac Asimov. Normalmente, o resultado é uma sociedade desumana e mecânica, como a de Metropolis (1927) de Fritz Lang. No meio da miríade de antevisões, duas destacam-se pela sua horrível plausibilidade. A primeira é Nineteen Eighty-Four (1949) de George Orwell, que se pode tomar como a clássica representação de um estado totalitário e sufocante, o protótipo dos sistemas opressivos, do nazismo às teocracias recentes. Um dos elementos mais ameaçadores dessa obra é a sua datação concreta. Ao contrário da maioria destas histórias, a acção não se situa num futuro remoto, mas uns meros 35 anos depois da sua publicação. Só que a previsão falhou. Inspirado na URSS, o livro é curiosamente localizado no ano anterior à subida ao poder de Mikhail Gorbachev, que decretaria o fim do estalinismo. Se a obra de Orwell permanece como a ameaça dos sistemas alternativos, o outro volume, anterior, é muito pior, pois define a simples evolução do nosso. Brave New World (1932) de Aldous Huxley mantém-se como a mais severa acusação ao sistema ocidental, mostrando como uma sociedade apostada no prazer e na técnica pode deixar de ser humana. Aqui não há ditadores, como o Big Brother de Orwell, cientistas perigosos, como o dr. Frankenstein e o psico-historiador Hari Seldon de Asimov, ou monstros, como os Bugs de Heinlein. Existe só uma comunidade que apodrece no conforto. Como pode acontecer isto? Um exemplo que ajuda a compreender vê-se na entrevista do eng. Sócrates concedida ao Expresso de 4 de Março. Aí afirmou: "A nossa agenda em matéria de alargamento de direitos vai começar pelo aborto." Aqui temos um homem, governante de um país moderno e civilizado, que pretende usar a melhor máquina jamais montada de criação de bem-estar, o Sistema Nacional de Saúde, para arrancar bebés do seio de suas mães. E o faz em nome do "alargamento de direitos"! Não se trata de um bárbaro, mas de uma pessoa inteligente que, de boa--fé, está empenhada na melhoria do seu país. Mas que se prepara para legalizar uma prática vergonhosa que até os selvagens mais boçais sempre consideraram infame. O nosso sofisticado primeiro-ministro é também o líder de uma maioria que quer aprovar a lei da Procriação Medicamente Assistida, que regulará as práticas mais abjectas do Admirável Mundo Novo. Tudo isto é feito com as melhores intenções, em nome dos valores mais elevados. As razões que assistem a José Sócrates são facilmente compreensíveis. O aborto higiénico, as experiências com embriões, as "barrigas de aluguer" têm vantagens evidentes. Contra elas está apenas uma "pequena" violência feita sobre os fetos. Esta escolha baseia-se no mesmo raciocínio que criou a pior ficção alguma vez tornada realidade. Nos anos 30 os alemães viam bem as vantagens da ordem que Hitler garantia, em troca de uma "pequena" dose de violência. É assim que o progresso destrói o futuro.
_____________________________________________
Image Hosted by ImageShack.us
Há quem me chame "artista" - porventura quem me chama também o é; mas este aqui é um grande artista. Conseguiu, um pouco como o Fukyama - com a tanga do Fim da "estória", fazer com que o mundo começasse maciçamente a falar nele e mais, a comprar os seus livros e assim se lhes abriu o caminho para o sucesso. A receita está na humildade, ou fingir que se é humilde e depois relacionar o olho do rabo com a feira de Borba, meter a cunha duma estatísiticas bizarras et Voilá... Sucesso garantido. Por cá, os pacóvios do costume batem palmas, as editoras mais espertalhonas editam e fazem fortunas. E o saloio do leitor, claro, compra e não discute. Isto é manja a massa sem a mastigar préviamente. E já diz, vai ser um 2º Stiglitz. Dá para meter as mãos na cabeça, e se calhar também é por isso que Sócrates gosta tanto de o citar, mesmo que o desconheça. E começou logo, pela tal entrevista ao Expresso no início deste mês, por considerar - do alto da sua testa - que vai começar por alargar os direitos humanos pelo aborto. De facto, há frases que matam... E isto também não deixa de ser Portuga no seu melhor. É pura ficção, embora neste particular seja a realidade declarada que a ultrapassa, em muito...

Image Hosted by ImageShack.us

Hoje é 2ª feira, é dia de mais uma reflexão deste economista César das Neves - que adianta uma explicação interessante para o nosso PM, engº Sócrates considerar o que considerou da formou como o disse: "a nossa agenda em matéria de direitos humanos vai começar pelo aborto". Confesso que não sou em absoluto contra o aborto, em certos casos ele justifica-se. Não sou, por isso, nenhuma radical destas propostas. Mas é curioso que César das Neves avançe um conjunto de argumentos - todos interessantes - espelhando até uma erudição ficcional que já estava esquecida: Orwell, Huxley, Asimov e outros por entre utopias e distopias que marcaram o séc. XX. Ora eu que não sou economista - embora aprenda muito com eles, julgo que a explicação para aquele terrível deslize do PM ao expresso resulta duma outra ordem de explicação, e que é a seguinte: ele - ou alguém por ele - andou a leu o Freakonomics de Steven Levitt e encontrou aí o lado oculto das coisas, ou seja, Sócrates descobriu que o aborto não se resolve com mais prevenção nem pedagogia... O que na realidade Sócrates quer é, de facto, legalizar o aborto para assim virem menos alminhas ao mundo, contribuindo para evitar engrossar as más estatísticas do crime, da educação, da saúde e assim por diante - tudo despesas que só agravam o défice das finanças públicas com que ele - e o país - se defrontam dramáticamente. Talvez por isso Sócrates tenha considerado que a sua agenda em matéria de direitos humanos comece pelo aborto. Que é, no entender de Sócrates, a causa e o efeito que pode alterar espectacularmente o curso dos acontecimentos, ainda que de forma involuntária, oculta - tal como o sucesso de Levitt com a sua tanga-Freakonomics para consumo soft do mundo moderno. De caminho Sócrates, claro, faz o jeitaço a alguns segmentos do PS que parecem integrar o BE - ou que pelo menos nele se revêm. Será caso para dizer, tão parolo é o PM quanto o sr. Levitt - que faz um conjunto de associações interessantes e qualquer dia já é o prémio Nobel da economia. É a vida... Mais vale cair em graça do que ser engraçadinho, como diria a minha avó. Nós, por cá, também não tivémos um senhor que mutila a gramática todos os dias e também (não) o foi??? Pois então!!! De que nos queixamos, afinal?
  • Até apetece dizer - : Sai mais um aborto para mesa dos fundos, alí ao lado - mesmo no canto noroeste da Europa, porque Portugal precisa de dimunuir o défice e a criminalidade...
  • Isto tá mau é para os professores, porque qualquer dia vão ter de dar aulas uns aos outros, ou então vão alí para o Jardim Zoológico, em Sete Rios, ministrar cursos de Formação Profissional aos macacos, girafas, leões, cágados, répteis de demais tartarugas que tecem hoje os fios do nosso querido Portugal. Se não fosse verdade julgaria que se era mais uma obra do Asimov ou um pesadelo do Jorginho Orwell - agora e versão 2006 editada no Expresso do dr. Balsemão.

Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us